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O município é considerado a maior comunidade ucraniana da América Latina
Leila, Helena, Josafat e Luiza, além de serem professores, também se tornaram amigos dos refugiadas Natalia e Yulia - Foto: Leticia Pabis

Leticia H. Pabis e Barbara Dias

Dados recentes da OBMigra (Observatório das Migrações Internacionais) apontam que, aproximadamente, 1,3 milhões de imigrantes vivem no Brasil atualmente, incluindo 60 mil refugiados, já reconhecidos pelo Governo Federal. O Brasil acolheu 46,8 mil refugiados entre os anos de 2019 e 2020, sendo o maior número de todas as outras décadas, somado. Um novo censo demográfico está sendo desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE) com ajuda da Organização das Nações Unidas (ONU) para o recenseamento de imigrantes e refugiados no Brasil após novos conflitos, como a Guerra da Ucrânia e conflitos políticos na Venezuela e Afeganistão, que proporcionaram um fluxo maior de imigrantes para o Brasil.
Segundo apontamentos da OBMigra de 2020, com o passar dos anos a região sul teve forte incremento de novas nacionalidades, que vieram para trabalharno país.

O primeiro fluxo migratório ao Brasil se dá início no ano de 1850, após o fim do tráfico de escravos. A maioria dos imigrantes eram de origem europeia, uma tentativa de apagar a herança escravocrata brasileira.


A professora e historiadora Beatriz Rodrigues, fala sobre o processo migratório no território brasileiro. “Quando falamos sobre o processo de imigração no Brasil é esta imigração de pessoas que chegaram livres no país, justamente porque estamos deixando de fora a escravidão, então, falamos dos séculos 19 e 20, estamos nos referindo a esta população que vem de espontânea vontade, uma média de quatro milhões de pessoas”, comenta a historiadora.
Beatriz relata fatores que foram importantes para que a população europeia viesse em grande fluxo para o Brasil. “Neste momento, a agricultura brasileira era motivada principalmente pelo cultivo do café, então, surge no país essa ideologia de que era preciso substituir a mão de obra negra, e que os europeus já estavam acostumados com a sociedade de consumo, por isso a intensa propagação do Brasil na Europa”, relata Beatriz.


UCRANIANOS EM PRUDENTÓPOLIS
Grande parte destes imigrantes são originários da Ucrânia e vieram até o Paraná, onde cerca de 500 a 600 mil descendentes vivem hoje. A cidade de Prudentópolis é a maior comunidade ucraniana da América Latina, pois cerca de 80% de sua população, estimada pelo IBGE em 52.776 pessoas, possui descendência ucraniana.


Prudentópolis também recebeu refugiados de guerra, cerca de 27 pessoas, entre crianças, adolescentes e adultos, escolheram se alocar nesta região que, a seu modo, se assemelha ao seu lugar de origem.

Eles chegaram ao município com o apoio das igrejas Ucranianas que, para ajudar a se manterem seguros de uma Ucrânia em guerra, promoveram a imigração destas pessoas para outros países. As igrejas organizaram e promoveram esta vinda para o Brasil e realocaram os ucranianos dentro do país. Enquanto alguns dos refugiados escolheram outros lugares do Brasil para se estabelecer, uma quantia veio para o Paraná e se estabeleceu, em grande parte, em Prudentópolis, tendo suas passagens aéreas, transporte e moradia financiados pela Igreja Batista.


Como uma maneira de ajudar o próximo por via do trabalho voluntário, um grupo de quatro professores de Prudentópolis se reuniu em uma ação social para ensinar a língua portuguesa aos refugiados, visto que a comunicação era um ponto que dificultava a vivência no Brasil. Josafat Koltun é o professor que idealizou o projeto. Ele aprendeu a língua quando criança, pois se comunicava com seus avós, e conforme cresceu, manteve o interesse e aprendeu o idioma mais a fundo.

VOLUNTÁRIOS
Como forma de apoio e solidariedade aos refugiados no município, Josafat se juntou com sua esposa Helena Bhari, que também é professora e fala ucraniano, e duas colegas de profissão, Leila Maria Lupepsa e Luzia Izete da Silva, para ajudarem estes novos moradores da região.

Natalia e Yulia nunca haviam se conhecido até virem para o Brasil, onde hoje convivem em Prudentópolis – Foto: Leticia Pabis

“Pensamos que eles precisavam aprender o português, então, idealizamos esta ação voluntária. Com alguns professores que eu falei, disseram que já tinham as 40 horas de aula, ou que tinham filhos pequenos e não teriam o tempo necessário. Quando falei com as minhas colegas professoras, disseram que poderiam ser voluntárias. Logo o projeto partiu e fomos para a sala de aula. É muito gratificante, uma troca muito grande de experiências e, sobretudo, ajudar o próximo”, relata o professor Josafat.


Leila também conta sua experiência no projeto. “Sou descendentes de ucranianos, e o tempo que eu dedico a ajudar ao próximo é sempre muito gratificante, pois o aprendizado da língua portuguesa para os ucranianos é questão de sobrevivência. Tentamos trazer a eles um vocabulário utilizado mais no dia a dia. Ser voluntária não é somente ajudá-los com o idioma, mas acolhê-los como ser humano, porque, além desta pessoa tem uma história, tem uma vida e um país destruído pela guerra”, relata a professora.

Helena Bahri também foi voluntária no projeto e explica como foi a sua participação. “Estava difícil achar alguém que pudesse fazer este papel. Eu falo um pouco de ucraniano, então comentei com meu esposo que nós poderíamos ajudar neste sentido”, comentou Helena.


Já Luzia estava na fase de aprender ucraniano. “Eu fazia aulas de ucraniano com uma amiga, e é uma língua mais difícil, não tem as mesmas raízes que o português, mas como eu já sabia o alfabeto e um pouca da pronuncia, achei que poderia ser útil no projeto. Também pelo fato de ter o tempo disponível e não ter crianças pequenas em casa”, disse Luzia.

REFUGIADAS EM PRUDENTÓPOLIS

Em 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia em três frentes no maior ataque europeu desde a Segunda Guerra Mundial. Grupos de refugiados ucranianos começaram a chegar ao Brasil entre março e abril deste ano.

Natalia e Yulia nunca haviam se conhecido até virem para o Brasil, onde hoje convivem em Prudentópolis – Foto: Leticia Pabis

Natalia Kostyantynivna Tkachenko é engenheira mecânica, ucraniana, e por causa da guerra, agora reside em Prudentópolis. “Eu ainda estava na Ucrânia, trabalhando, quando ouvi sobre o projeto da Igreja Batista, da qual eu já era membro no meu país. Eles estavam oferecendo que pessoas que viviam em grandes cidades viessem para viver nas grandes cidades do Brasil, como Curitiba e São Paulo, mas um pastor da Ucrânia, que mora em Prudentópolis, falou bem da cidade, então decidi vir para cá”, comenta Natalia.


Natalia possui a sua própria empresa de solda em seu país natal, que agora é gerenciada pelo filho, com a sua ajuda direto de Prudentópolis. “É com o coração muito dolorido que tive que deixar minha amada terra, meus amigos e decidir vir para outro país. Nos amedronta bastante pensar e ver a guerra. Mas ficamos muito contentes de sermos recebidos de forma tão calorosa e de o povo estar nos ajudando”, comenta.

Yulia Antiukhova era psicóloga infantil em uma escola na Ucrânia, e teve que deixar sua casa por conta da Guerra, vindo para o Brasil, em março de 2022, e morando em Prudentópolis desde então. “Nos comparamos com uma árvore, que vive sempre naquele local e tem suas raízes ali, e como pessoas, um dia temos que sair deste lugar e deixar nossas raízes. Não é bom pensar em todo esse episódio que já passamos pela vida, porque a vida segue, e eu acredito em um ser superior que vai nos conduzir para o melhor”, conta. Atualmente, Yulia trabalha como secretária em uma empresa de Prudentópolis.


“É muito prazeroso ver e ouvir que o Brasil, um país muito distante, do outro lado do mundo, ainda busca aprender o ucraniano e mantém a cultura ucraniana viva”, finalizou.

Além de todas as outras dificuldades que elas enfrentaram, o aprendizado da língua foi muito importante para a convivência delas no Brasil.“Estou lendo livros na língua portuguesa, e através destes também estou aprendendo bastante, e há a prática que eu levo dos livros para me comunicar com as pessoas. Trabalho como recepcionista agora, então, muitas pessoas chegam à recepção e eu utilizo muito do que aprendi nas aulas e nos livros no dia a dia”, comenta Yulia


“Sou muito grata pela Leila, ela falou bastante em português comigo e isto me ajudou muito no aprendizado”, finalizou Natália.

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