Amanda Berger
No dia 11 de fevereiro foi celebrado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, uma data instituída pela ONU em 2015 para destacar a importância da participação feminina no campo científico. Apesar dos avanços, a representação das mulheres nas chamadas “ciências duras” ainda é desigual. Para entender melhor esse cenário, conversamos com as pesquisadoras Kátia Alesxandra dos Santos (UNICENTRO) e Thaylise Girardi (Campo Real).
Kátia Alesxandra dos Santos é Diretora do setor de Ciências da Saúde e professora de pesquisa no curso de Psicologia. Especialista no estudo da violência contra as mulheres, Kátia trouxe reflexões sobre a representatividade feminina no meio acadêmico e científico. “Se foi necessário criar um dia para falar sobre isso, é porque, historicamente, a ciência foi feita por homens e para homens”, pontua. Ela destaca que a participação feminina é crescente, mas ainda há poucos incentivos para que as mulheres ingressem e permaneçam em determinadas áreas. “Ainda vemos um número muito menor de mulheres em cursos como engenharia, matemática e computação, por exemplo. Essa desigualdade se reflete em toda a estrutura acadêmica e profissional”, acrescenta.
Thaylise Girardi, biomédica e coordenadora acadêmica do campus de Irati do Centro Universitário Campo Real, trouxe reflexões sobre a inserção das mulheres no campo das ciências. “Hoje, apenas 33% dos pesquisadores mundiais são mulheres. A data tem o objetivo de incentivar mais meninas e mulheres a ingressarem na ciência, ampliando sua representação e trazendo avanços significativos. O olhar feminino na pesquisa é essencial para promover soluções mais inclusivas e abrangentes para a sociedade”.
CARREIRA E VIDA PESSOAL
Um dos maiores desafios apontados por Kátia é a conciliação entre a carreira acadêmica e as responsabilidades atribuídas às mulheres, como a maternidade e o cuidado familiar. “Apesar de sermos maioria entre estudantes e docentes, os cargos de gestão e as bolsas de produtividade são majoritariamente ocupados por homens”, observa. Ela explica que, devido à necessidade de equilibrar múltiplos papéis, muitas mulheres acabam publicando menos pesquisas e, consequentemente, têm menor acesso a incentivos acadêmicos. Para mitigar essa desigualdade, iniciativas como o Parenting Science defendem condições mais justas, como a compensação de tempo para mulheres que tiveram licença-maternidade.
Thaylise recorda sua trajetória acadêmica e a falta de incentivo às ciências nos anos escolares. “No ensino fundamental e médio, tivemos pouco contato com experiências práticas. Quando entrei na faculdade e pude usar laboratórios e microscópios, me apaixonei pela ciência”. Ela enfatiza que a falta de representatividade feminina em determinadas áreas acaba afastando muitas meninas da ciência desde cedo. “Se não vemos mulheres nessas posições, inconscientemente, acabamos acreditando que não pertencemos a esse espaço. É essencial que a educação científica seja incentivada desde cedo, com modelos inspiradores para as novas gerações”.
INSPIRAÇÕES FEMININAS NA CIÊNCIA
Quando questionadas sobre cientistas que admiram, ambas destacaram Marie Curie, uma das mais renomadas pesquisadoras da história. Thaylise ressalta a trajetória desafiadora da cientista. “Ela enfrentou preconceitos por ser mulher, estrangeira e de origem humilde. Foi a primeira mulher a assumir um cargo de professora em uma renomada instituição francesa e a única a ganhar dois Prêmios Nobel em áreas diferentes”. Ela também lembra que Curie criou unidades móveis de raio-X para auxiliar soldados na Primeira Guerra Mundial. “Sua contribuição foi muito além dos laboratórios, impactando diretamente a vida das pessoas”, destaca.
Kátia menciona cientistas contemporâneas, como Jaqueline Góes de Jesus, que teve papel fundamental no sequenciamento do genoma do coronavírus. “Além das ciências exatas, as mulheres têm um papel essencial nas ciências humanas, pesquisando questões que historicamente não eram abordadas”, enfatiza.
FUTURO DA PRESENÇA FEMININA NA CIÊNCIA
Apesar dos obstáculos, as perspectivas para as mulheres na ciência são otimistas. A representação feminina tem aumentado, e iniciativas de incentivo se tornam cada vez mais frequentes. Kátia enfatiza que a presença das mulheres nas universidades e na pesquisa científica tem crescido, mas ainda há um longo caminho a percorrer. “Precisamos continuar lutando para que as mulheres sejam valorizadas e tenham as mesmas oportunidades que os homens. Isso passa por mudanças na cultura acadêmica, no financiamento de pesquisas e no próprio reconhecimento do trabalho feminino na ciência”.
Thaylise reforça a importância da educação como ferramenta de transformação: “Se incentivarmos meninas desde cedo a se interessarem por ciência, poderemos ver uma mudança significativa nos próximos anos. A diversidade de pensamento e experiências só tem a contribuir para a evolução do conhecimento”.
A data de 11 de fevereiro segue como um marco na luta pela valorização da presença feminina na ciência, reforçando a importância de abrir espaço para que mais mulheres possam transformar o mundo por meio do conhecimento. O futuro da ciência depende de uma participação equitativa, onde talentos, independentemente de gênero, possam florescer e gerar impacto na sociedade.
