Sthefany Brandalise
O mundo amanheceu mais silencioso na segunda-feira (21), quando, às 7h35 no horário de Roma, foi anunciada a morte do Papa Francisco, no Vaticano. O comunicado veio do Camerlengo Kevin Farrell, da Casa Santa Marta: “ás 7h35 desta manhã, o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da Igreja”.
Na manhã anterior, no Domingo de Páscoa (20), o Pontífice apareceu na sacada da Basílica de São Pedro para sua última mensagem “Urbi et Orbi”, deixando um gesto final de fé e esperança para a Igreja e o mundo.

Francisco foi o primeiro papa das Américas. Argentino de Buenos Aires, nasceu Jorge Mario Bergoglio em 17 de dezembro de 1936. Filho de imigrantes italianos e o mais velho de cinco irmãos, formou-se técnico químico antes de escolher o caminho sacerdotal. Licenciou-se em filosofia e teologia, foi professor de literatura e psicologia e ordenado sacerdote jesuíta em dezembro de 1969. Em 2001, foi nomeado cardeal pelo Papa João Paulo II.
Foi arcebispo de Buenos Aires por quinze anos, tempo em que conheceu profundamente sua diocese, circulando de metrô e ônibus para estar perto do povo. Com sua eleição em 2013, tornou-se o 266º Papa da Igreja Católica, sucedendo Bento XVI.
“O meu povo é pobre, e eu sou um deles”
– Papa Francisco
Francisco marcou o mundo com seu testemunho de simplicidade, fé e amor. E é exatamente assim que ele será lembrado, como “o Papa do Amor que se fez presença”, afirmou com emoção o Pe. Alexandre Spena Regueira, Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro de Irati. “Francisco tornou-se o 266° Papa da Igreja Católica em 2013. Pouco se tinha ouvido falar deste homem que, aos poucos, foi mostrando toda sua personalidade forte, afetuosa e, que acabou por conquistar a todos com sua presença, com seu jeito de ser e agir. Em Francisco aprendemos a ser uma Igreja da presença, da humildade, da verdade, da justiça, do perdão, da misericórdia, da esperança, do amor, da fé, do diálogo e sobretudo da vida. Um Papa que não teve medo de escancarar as fragilidades da Igreja, e conduzindo-a com firmeza e preservando-a de todo mal tendo como base a verdade do evangelho, a sua fé e o amor por ela e por sua missão. Trouxe a representatividade de todos os povos para dentro da Cúria Romana, para que assim, por meio do diálogo, buscando a ouvir a todos, a Igreja continue a ser, Una, Santa, Católica e Apostólica. Seu legado ficará marcado na história, não só da Igreja Católica, mas na vida de toda a humanidade e, como já dizem por aí, poderá ser lembrado como: o Papa do povo, da misericórdia, da esperança, dos pobres, dos excluídos, dos marginalizados, dos imigrantes e migrantes, dos encarcerados, da paz, da esperança, da alegria e tantos outros, mas todos se resumem em um só: Francisco, o Papa do Amor que se faz presença, pois, escolhido pelo Amor, escolheu Amar”, disse.

O Padre Wellington Marcondes também prestou seu tributo, lembrando os quatro grandes pilares do pontificado de Francisco. “Em primeiro lugar, Francisco nos deu lições sobre simplicidade e humildade, pelo seu testemunho, pelo seu jeito de ser. Depois, pelas suas palavras, falando da fé através do cotidiano e de coisas corriqueiras. Um segundo ponto é sua ênfase na misericórdia de Deus que alcança a todos e da qual a igreja deve ser a portadora. Em terceiro lugar, o cuidado com a casa comum, com a ecologia e as suas repetidas palavras nos incentivando a cuidar do mundo em que vivemos. E por último, e não menos importante, a transparência. Desde o início do seu pontificado, Francisco trabalhou incansavelmente para que tudo na igreja, a começar pela cura romana, fosse e agisse da maneira mais transparente possível. Através destes pontos, é possível, em um breve pensamento, em breves palavras, fazer um resumo do pontificado de Francisco. Obrigado Francisco. Rezamos para o seu descanso eterno e já iniciamos a nossa oração pelo novo pontífice que está para chegar”, afirma.
Pe. Nelson Bueno, Pároco da Paróquia Menino Jesus, de Guamiranga, destacou a humildade e o carisma espontâneo de Francisco. “Alguém que falava no improviso, que falava do coração, no avião, ou quando se encontrava com as pessoas, muito espontâneo, simples, humilde. Esse Papa encontrou muita resistência, muitas críticas, mas agora todos estão reconhecendo esse trabalho belíssimo que ele fez, e que vai continuar ecoando no coração das pessoas. Nós vamos ver a importância de tudo isso, ainda no decorrer da história. Alguém que escancarou as portas da igreja para todas as pessoas, sem julgar ninguém. Esse nome Francisco marcará para sempre. Agora nós queremos pedir o descanso eterno desse homem que tanto lutou, tanto trabalhou na humildade do seu coração, e pediu para ser enterrado na simplicidade como ele viveu, e não poderia ser diferente. Descanse em paz, Papa Francisco, e lá do céu interceda por cada um de nós, pela igreja, amém”, comenta.

O Papa que se fez próximo
Aqueles que tiveram a oportunidade de vê-lo de perto carregam na memória a força de sua presença. Não era apenas o líder máximo da Igreja Católica, era um homem que olhava nos olhos, que sorria com o coração, que fazia do gesto mais simples um sinal do sagrado.
A paranaense Flávia Gomes Matos, de Castro, relatou uma experiência inesquecível. “Conhecer o Papa foi algo surreal. Eu e meu marido fomos para Roma em 2019 e nosso intuito era estarmos presentes para o Angelus para vermos o Papa Francisco. Chegamos bem cedo na praça de São Pedro e para nossa surpresa seria ministrada a missa por ele naquele dia, inclusive a missa era pela Amazônia. Então ficamos e pudemos vê-lo bem de pertinho, escutar sua homilia. Foi algo renovador, uma experiência com certeza única e abençoada! Ano passado tivemos a oportunidade de retornar ao Vaticano agora com nossos pais e estivemos presentes na audiência papal que ocorre quase toda quarta-feira de manhã. Agora o papa já estava mais debilitado, mas passou de papa móvel pelas pessoas e também foi uma experiência única! O Papa Francisco era sempre muito amável e atencioso com todas as pessoas, estar em sua presença era como experimentar do sagrado ainda aqui na terra”, conta.
O casal Larissa Luiza Dalmagro Ribeiro e Guilherme Ribeiro também guardam um momento especial com Papa Francisco. “Foi realmente algo inexplicável, porque ao mesmo tempo que nós sabemos o peso que ele tem, enquanto Papa, quando nós estávamos perto dele, era como se ele fosse um senhorzinho, um vôzinho. Uma pessoa simples, singela. A simplicidade dele nas palavras, a forma como ele falou com a gente, tudo isso foi tocante. E para nós, foi de uma alegria extrema. Nós saímos de lá repletos de alegria e um desejo de céu, um desejo de santidade. Nós o consideramos uma pessoa santa, uma pessoa com autoridade, com essa presença espiritual tão forte e tão marcante para a nossa sociedade. Uma pessoa que soube amar, pregou o evangelho do amor. Ele deu testemunho disso com a sua vida, com as suas pregações”, finaliza.

Velório, ritos e o adeus ao Papa do povo
Na quarta-feira (23), o caixão com o corpo do Papa Francisco foi trasladado da capela da Casa de Santa Marta para a Basílica de São Pedro, onde fieis puderam se despedir do pontífice. O funeral de Francisco foi agendado para o sábado (26), a partir das 10h, na própria Basílica de São Pedro. De lá, o caixão contendo o corpo será levado para a Basílica de Santa Maria Maior, onde será sepultado, conforme pedido do pontífice.
A cerimônia, conhecida como Missa de Exéquias, marca o primeiro dia do Novendiali ou nove dias de luto e orações em honra ao papa. A celebração, no átrio da basílica, será presidida pelo cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio Cardinalício. Ao final, ocorrerão os ritos da Última Commendatio e da Valedictio — despedidas solenes que marcam o encerramento das exéquias.

Inspiração
Francisco deixa um legado de evangelho encarnado na vida, nos pobres, na justiça social e no cuidado com a casa comum. Seu pontificado foi um chamado à essência do cristianismo: amar sem medida. O Papa que escolheu a simplicidade até o fim, pediu para ser sepultado com discrição, da mesma forma com que viveu. Sua vida foi, de fato, uma tradução do Evangelho em gestos concretos de amor.
Que a sua alma descanse em paz e que seu exemplo continue a inspirar gerações.
