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Ano a ano, os alimentos orgânicos vão ganhando mais importância e espaço no prato dos estudantes da rede estadual paranaense, tanto pelo ensino do cultivo nos colégios agrícolas quanto pela maior aquisição para a merenda escolar. Eles representavam menos de 15% na participação dos produtos comprados da agricultura familiar há quatro anos, e agora são 22% do volume em quilos adquiridos (2.207.236 kg) e 24% do valor (R$ 15,1 milhões) investido.
No ano passado, o fornecimento de orgânicos aconteceu em 1.541 escolas da rede pública estadual, ou seja, em 73% das 2,1 mil instituições. Estas escolas estão localizadas em 270 dos 399 municípios do Paraná, ou 67% deles. Em relação a 2021, não só aumentou o volume, que representava 18% da quantidade e 20% do valor, mas também o número de colégios atendidos, anteriormente de 1.235, em 192 cidades.
Dos mais de 70 diferentes itens fornecidos, as frutas se destacam com 35% da oferta total, seguidas de legumes e tubérculos, com 30%; e hortaliças com 13%.
“O consumo de alimentos orgânicos beneficia não só os alunos, como também os produtores e o planeta. Os estudantes porque passam a consumir alimentos sem agrotóxicos. O consumo de alimentos sem defensivos agrícolas diminui a incidência e o risco do desenvolvimento no médio prazo de doenças como o câncer, endócrinas, problemas com fertilidade e até com o desenvolvimento neurológico”, explica a nutricionista do Departamento de Nutrição e Alimentação do Fundepar (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Educacional), Andrea Bruginski.
Em relação aos agricultores e ao meio ambiente, a produção de orgânicos é mais sustentável. “Ela deixa de lançar na terra, no ar, na água, o veneno do produto agrotóxico. Garante um desenvolvimento mais sustentável para o nosso planeta e também é benéfica para a própria saúde dos produtores, que precisam manusear esses itens”, acrescenta.
Para 2023, o planejamento é seguir ampliando a participação dos orgânicos, principalmente de grãos como feijão e arroz, alimentos de alta oferta no cardápio, servidos praticamente todos os dias nas escolas.
ENSINO – A prática agrícola sem o uso de defensivos agrícolas é trabalhada diretamente com mais de 6 mil estudantes do Curso Técnico Agrícola, o carro-chefe da Educação Profissional nos 23 colégios agrícolas da rede estadual, nos quais os alunos estudam 4 mil horas ao longo do ensino médio (25% a mais que o Novo Ensino Médio). A carga horária do curso técnico abrange praticamente a metade disso, começando com 13 de 40 horas-aulas semanais na 1ª série até chegar em 26 na 3ª série.
“Essas escolas produzem vegetais e hortaliças totalmente livres de agrotóxicos, algumas possuem certificação de orgânicos, e os alunos aprendem um nicho econômico extremamente rentável”, diz o coordenador dos Colégios Agrícolas da Seed-PR, Renato Hey Gondin.
Os estudantes têm diferentes disciplinas, como introdução à agricultura, agroindústria, culturas, horticultura, agroecologia e gestão ambiental, manejo e conservação do solo, prática agropecuária, zootecnia e agronegócio, administração e extensão rural. À exceção da introdução e das disciplinas que envolvem gestão e administração, todas têm pelo menos metade da carga horária prática com atividades diretamente na lavoura ou com os animais.
“Esses alunos vão a campo, onde desempenham funções dentro da escola como se fossem pequenos agricultores. A disciplina de prática agropecuária, por exemplo, tem 100 horas por ano. Todos saem de sala e vão desempenhar funções operacionais dentro da escola, como plantio, colheita, horticultura, além de castração de suínos, manejo de gado de leite e de corte”, explica Gondin.
EXEMPLO – No CEEP (Centro Estadual de Educação Profissional) Manoel Moreira Pena, conhecido como Colégio Agrícola de Foz do Iguaçu, no Oeste, os estudantes cultivam uma horta de meio hectare com alface, rúcula, espinafre, brócolis, cenoura, beterraba, além de ervas aromáticas. Até 90% do que se cultiva no colégio é destinado à merenda dos próprios estudantes.
Além de cuidar da horta, os 285 estudantes do curso técnico agrícola também fazem o manejo dos animais — bovinos, suínos, caprinos e aviários. A ordenha das vacas gera cerca de 100 litros de leite por dia, utilizados, por exemplo, para a produção do queijo, vendido na cooperativa da escola.
“Nós, alunos com função de leiteiro, somos divididos em escalas. A gente tem que estar lá às 5h50 da manhã e novamente às 18h”, conta o aluno Paulo Rambo (18). Paraguaio e filho de agrônomo, ele pretende seguir os passos do pai. “O que mais gosto de fazer é ir para a roça e acompanhar o professor no plantio e na colheita”, diz.
Já a estudante Karen Casagrande (17) diz preferir o trato com animais, principalmente os bovinos. Ela pretende cursar Medicina Veterinária quando terminar o ensino médio técnico, mas não descarta um futuro na agricultura. “Meu pai é agricultor, meu avô era, meu bisavô era. Quem sabe um dia eu seja também”, completa.
Rinaldo Nishimura, coordenador do curso técnico na escola, conta que os estudantes têm disciplinas como agricultura, horticultura e agroecologia, além da agroindústria — em que aprendem a manipulação de produtos de origem vegetal e animal. “Os alunos têm uma grade curricular com disciplinas que têm aulas teóricas, na sala de aula, e aulas práticas na fazenda-escola. Eles estão sempre acompanhados dos professores em todos os setores, tanto na área da pecuária quanto agricultura e agroindústria”, explica.