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Foram 16 dias desacordado, mais sete dias internado e uma vida de agradecimentos
Foto: Kauana Neitzel

Kauana Neitzel

O garoto iratiense Luis Eduardo Jonson, de 11 anos, sofreu um aneurisma cerebral no dia 30 de maio e, a partir deste momento, se iniciou uma luta diária de recuperação. O caso de Dudu ficou conhecido pelas fortes correntes de orações e por se tratar de uma criança. A mãe, Gislaine Lau Jonson, e o Dudu falaram exclusivamente com a Folha de Irati, dando detalhes de como foi a descoberta da doença, os 23 dias de internamento, o milagre recebido e, agora, o processo de recuperação. A criança voltou para a casa na última semana (21).


O texto a seguir é o relato na integra da história contada pela Gislaine, mãe de Dudu, desde o dia do ocorrido até hoje:


“Toda vida Dudu foi uma criança saudável, nunca precisamos levar em médico, nada. O dia 30 [maio] foi um dia normal, estava tudo normal, a gente foi dormir e acordamos, a meia-noite e pouquinho, com o Theo [cachorro de estimação da família] latindo e desesperado que queria sair do quarto. Foi aí que meu marido foi até a cozinha e entrou no quarto dele [Dudu] e achamos ele já desacordado, vomitado e tortinho. Ali foi o desespero de conseguir chamar um bombeiro, uma coisa, mas daí meu menino [irmão de Dudu] falou ‘não, vamos levar direto’. Pegaram e levaram direto pra Santa Casa de Irati. Na Santa Casa eles sedaram e entubaram, ele já estava desacordado e daí o médico foi conversar com a gente, para entender o que aconteceu. Mas não tinha como a gente explicar, porque se ele fosse uma criança doente, né? Se já tivesse alguma queixa, mas não tinha! Começaram a fazer os exames e foi descoberta uma mancha na cabeça e ali eles começaram a perceber o caso. Colocaram Dudu na central de leitos, ele precisava de um lugar que fosse compatível com o atendimento que ele necessitava, e ali foram horas de desespero.

Só que até ali nós não entendíamos que era uma coisa tão grave, para mim ele tinha convulsionado. Quando foi conseguida a vaga no Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, veio a outra notícia: ele não poderia ir de ambulância porque ele não suportava. Então foi conseguido um helicóptero, e ele foi aéreo. A gente foi atrás, e chegando no hospital eles já estavam esperando na UTI, Dudu estava pronto na maca pra fazer um exame. No exame o doutor Zeferino já acompanhou e saiu conversar conosco para explicar o que tinha acontecido, que era um aneurisma, e esse aneurisma tinha arrebentado, na hora que arrebentou deu essa hemorragia intracraniana. Então, Dudu foi levado para a sala de cirurgia onde foi reconstruída a veia e estancada essa hemorragia, foi tudo bem. Saiu da cirurgia, o doutor veio conversar com nós, explicar que o caso dele era gravíssimo, era meio por cento de um por cento, para vocês terem uma ideia de como nós ficamos.

Luis Eduardo Jonson, de 11 anos, se recupera de aneurisma cerebral em casa, no bairro Lagoa, em Irati – Foto: Kauana Neitzel


Dudu foi pra UTI de volta, ele precisava drenar esse sangue, tinha que sair pra fora, e não drenou. Na quarta-feira ele foi para o centro cirúrgico de volta, quando precisou por um estêncil para ajudar a drenar esse sangue, para a pressão do crânio baixar e deu certo, ficou tudo normal. Então essa pressão craniana que eles monitoravam, ela tinha que ir no máximo até 25, quando chegava nos 25 eles vinham, abriam e drenavam, voltava pra 13/16. Foi até na sexta-feira depois do almoço tudo bem, mas do nada foi pra 40/50 e ali eles estavam só observando, não drenava mais. No sábado cedo chegou a médica da UTI e falou ‘nós vamos fazer uma reunião para ver o que vai acontecer’. Quando voltaram falaram: ‘mãe, ele vai para a cirurgia de volta, vamos abrir e tirar a calota da cabeça, vai ser guardado essa calota. Nós vamos tentar salvar ele’. Essa cirurgia foi muitas horas, ali que começou o meu desespero, a pedir oração, independente de religião, de tudo, que era nosso desespero. Graças a Deus o doutor saiu depois que terminou e falou que foi arriscado, mas venceram mais essa.

E ali começou, de novo, ele voltou pra UTI e foi indo, foi indo, foi reagindo. Na terça-feira ele precisava fazer uma ressonância, meu medo era tão grande quando tinha que tirar ele daquela cama e mudar para maca. Daí na quarta-feira saiu o resultado e o médico veio falar comigo, ele falou: ‘mãezinha, ele está reagindo bem, só que um lado dele morreu’. Em nenhum momento a equipe do hospital falava que o Dudu não ia ficar com sequelas, mas ali, no momento, eu disse ‘não doutor, meu filho vai reagir’.


Bem certinho na quinta-feira, que era o dia de Corpus Christi, indo trocar de turno já que meu marido passava a noite e eu ficava de dia, eles arrumando tudo para Corpus Christi, eu queria ficar para missa, mas resolvi entrar. E de repente, eu escutei, assim, um violão vindo e o padre entrando com o santíssimo, aquela hora me deu uma alegria, um calor, eu me ajoelhei pedindo tanto que naquela hora Jesus trouxesse o Dudu de volta. O padre foi em cima dele, colocou bem o santíssimo na cabeça, a madre veio e rezou junto, depois de uns quarenta minutos, bem cedinho, veio à doutora e falou: ‘mãezinha, eu vou baixar a sedação do Luís hoje’. Veio ali a sensação de alegria, mas também de medo, falei ‘meu Deus, será que já é à hora’.


Cerca de meia hora depois, era pra ele acordar só à tarde, ele com o olhinho assim, sabe? procurando a gente, daí eu fui, peguei na mãozinha dele e falei: ‘filho a mãe está aqui, a mãe não te deixou nem um minuto’. Ele estava entubado ainda, em seguida chegou o fisioterapeuta pedindo para eu sair que eles precisavam mexer no Dudu. Em 25 minutos a médica já falou: ‘pode entrar mãezinha de volta, ele já está perguntando por você’. O médico começou a perguntar se ele sabia quantos dias tinha dormido, ele respondeu: trinta. Daí o doutor falou: ‘não Luiz, não é 30 não, não é todos esses dias’. Daquela hora só foi alegria, depois o doutor foi ver ele, pedia pra ele empurrar a mão, ele erguia a mão, ele erguia a perna, ele falava, ele conheceu nós, ele enxergava, ele escutava e então a cada dia eles tiravam algo. Começou o desmame das drogas, porque ele ficou muitos dias sob efeito, sedado, e todo dia era uma coisa que eles tiravam. Então, depois daquele dia, todo dia era uma vitória para nós, daí ele foi para o quarto, começou a fisioterapia, colocaram ele em pé, para nós foi uma vitória enorme ele parar em pé, pedir pra ir ao banheiro, cada coisa que acontecia nós vibrávamos. Por tudo que nós escutávamos e ele estar desse jeito era uma alegria e tanto.

Durante este período que pedíamos pela recuperação as pessoas mandavam correntes, pessoas que a gente nem conhecia se mobilizando, mandavam mensagem fazendo oração. Na segunda-feira veio o doutor e falou: ‘esse menino me surpreendeu a cada hora’, as médicas vinham e falavam que ele é um milagre. Na segunda-feira já tinha uma possibilidade de alta, na terça terminavam os remédios e na quarta a gente veio embora. Só que agora, dia 07, a gente volta e Dudu faz os exames, conforme o resultado já ficamos e ele faz a cirurgia para recolocar a calota. Caso contrário, nós aguardamos mais um pouquinho, mas eu acho que vai ser tudo bem, Dudu está tranquilo, se alimenta bem, fomos fazer fisioterapia e é só alegria.


Agradecemos todos que nos ajudaram e mandavam mensagem positiva, todos os dias. A gente pede desculpa porque não consegue responder, porque a cabeça de gente não fica assim, né? Daí sempre tinha os intermediários que respondiam por nós, mas agradeço bastante, muito, muito, muito. Eu falei que vou a minha vida inteira e acho que não consigo agradecer tudo que foi feito por nós. Fico muito grata, muito, muito, muito por tudo e agradecer ao Theozinho [cachorro] que chamou, nos acordou, foi benção. Se não fosse ele nem sei o que seria de nós.

Foto: Reprodução

Às vezes nem nós entendemos o que aconteceu, só que o médico explicou pra nós que isso é uma má formação. Então ele já tinha, só que estourou agora, mas podia arrebentar daqui 10/20 anos. Acho que as orações fortaleceram, porque era uma corrente, foi muito bom, foi gratificante tudo isso”.


Ao final da entrevista, Dudu nos contou que o objetivo agora é se recuperar, voltar para a escola e rever os amigos. Em nossa página do Facebook é possível assistir ao vídeo onde Gislaine conta a história ao lado do filho Dudu e do herói Theo.

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