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Agustín Daniel Rossi terá uma noite mais do que especial nesta quinta-feira, às 21h30 (de Brasília), quando entrar em campo pelo Flamengo contra o Estudiantes, no estádio Jorge Luis Hirsch, em La Plata, pela segunda e decisiva partida das quartas de final da Conmebol Libertadores.
Mas a verdade é que o atual goleiro do Rubro-Negro poderia ter tido um destino completamente diferente. Na infância, Rossi dividiu a paixão pelo futebol com o basquete. Só que o mais curioso é que, antes de se encontrar na baliza, ele ainda passou pelo meio de campo.
Os primeiros passos de Rossi no futebol foram sempre perto da área, mas em função diferente da que está acostumado a exercer atualmente. O goleiro iniciou a carreira como um jogador de linha, praticamente um volante, e passou por um período atuando até mesmo como centroavante.
A facilidade para marcar gols de cabeça chamaram atenção de um dos seus treinadores ainda nas categorias de base. Daniel Leani foi quem descobriu Rossi ainda menino e o incentivou a seguir no futebol. Amigo da família desde que Rossi tinha apenas quatro anos, ele levou o argentino para fazer teste no Chacarita Juniors. Aliás, Daniel foi um dos incentivadores quando Rossi decidiu que sairia da linha e se dedicaria apenas no gol.
“Ele tinha facilidade. Quando era criança jogava no meio e fazia gols. Era goleador, o mais importante da equipe. Ganhava todas as bolas na frente e atrás. Jogava com as duas pernas. Tinha sangue, esse amor próprio. E também, como gostava muito de ficar após o treinamento, dizia ao pai que queria ficar. Pedia permissão a mim e eu deixava jogar com os maiores. Ele queria jogar a todo tempo. Fazia as duas coisas. Jogava, era goleador e quando terminava as partidas jogava para os mais velhos de goleiro” e completou:
“Ele foi melhorando nas duas coisas. Jogava basquete também e jogava bem. Um dia se cansou, quando tinha 11, 12 anos. Disse que não jogaria mais de meia, queria defender. E não saiu mais do gol. Tinha uma virtude grande, era alto e ganhava bem em cima. Era imponente, cresceu e ninguém podia o parar” disse com exclusividade ao ge.
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Dos tempos de Chacarita, ainda há uma outra história curiosa. Quando Carlos Leeb estava no comando, mandou o goleiro aquecer logo após o centroavante do time sofrer uma lesão. A intenção do treinador era colocar Rossi na linha, como 9, o que acabou não acontecendo, já que o atacante se recuperou e voltou a jogar.
Daniel guarda com carinho as camisas que recebeu de presente e, mesmo longe, se faz presente acompanhando a vida do goleiro de quem se orgulha de ter ajudado a dar os primeiros passos no esporte. Para ele, a personalidade e o perfil de Rossi já se destacavam desde a infância.

“Temos uma boa relação. Ele é um jovem agradecido. É simples, é humilde. É lindo porque quem conseguiu tudo foi ele. Ver a evolução como jogador e pessoa me faz muito bem, muito feliz. Conseguiu se consolidar no futebol, que não é fácil, e jogando em um clube muito importante. Ele sempre foi um ganhador. Muita personalidade e ganhador. Sempre. Tinha qualidade, era forte, goleador. Depois virou goleiro e um dos grandes” e completou:
“Não é de se sobressair tanto, se puder passar desapercebido, passa. É um perfil discreto. Falava o justo e o que tinha que falar. Nem mais, nem menos. Tinha um temperamento. Quando jogava, queria ganhar. Tinha muito caráter, sempre com cuidado.”

O amor pelo basquete
Rossi também poderia ter seguido a carreira em outro esporte: o basquete. O goleiro do Flamengo alternava entre as aulas na escolinha de futebol em San Andrés, bairro de Buenos Aires, com a paixão pela bola laranja. O amor pelo basquete era um hobby para estar entre amigos.
O esporte era tratado como um passatempo na infância, mas teve papel fundamental no desenvolvimento como goleiro. A experiência no garrafão ajudou Rossi nos lançamentos diretos para o ataque, assim como período em que atuou na linha contribuiu para o goleiro ser bom nas saídas de bola com os pés.

“Como goleiro, ter jogado basquete me ajuda muito no campo com o tempo de saída de bola em cruzamentos e em diferenciar as trajetórias da bola para fazer uma defesa ou cortar um contra-ataque. O basquete é muito importante para a minha função como goleiro” disse em recente entrevista na Copa do Mundo de Clubes.
Ainda quando defendia o Boca Juniors, Rossi foi convidado pelo clube para a apresentação do time de basquete, tricampeão sul-americano e uma das principais equipes do continente.
Estudiantes: a primeira grande chance
A carreira de Rossi fez sucesso mesmo como goleiro profissional. Revelado pelo Chacarita Jrs., time que atualmente disputa a segunda divisão argentina, Rossi foi comprado pelo Estudiantes há 10 anos para ser a terceira opção e ter a grande oportunidade da carreira atuando por um time da elite local.

“Eu joguei lá, sei o que é a Libertadores para o Estudiantes. O Estudiantes foi o primeiro time da Série A que me comprou, cheguei lá muito novo, com 19 anos, e cheguei para jogar na reserva. Consegui jogar lá um ano e meio, três jogos no profissional e depois fui emprestado” disse Rossi, em entrevista coletiva na última semana.
A passagem de Rossi pelo Estudiantes foi discreta, foram apenas três jogos ao longo dos três anos de contrato e um empréstimo para o Defensa y Justicia. Foi então que o goleiro chamou atenção do Boca Juniors e viu a carreira deslanchar.
“Joguei pouco, era muito novo ainda. Não tinha experiência na Série A, era muita diferença no ritmo de jogo. Eu fui para o Defensa y Justicia emprestado para disputar a titularidade. Consegui ser titular e começou a minha sequência na Série A da Argentina. Chamei atenção do Boca, eles confiaram em mim. Tentaram me tirar, mas tiveram que conversar com Estudiantes e com Chacaritas, que tinham os direitos. O Boca me comprou, e começou a minha história lá” relembrou o argentino.
No Boca, Rossi foi tricampeão nacional, além de ter conquistado duas vezes a Copa da Liga Argentina e uma vez a Copa da Argentina. Apesar disso, no meio do caminho o goleiro foi emprestado o Antofagasta, do Chile, e ao Lanús, antes de retornar ao clube argentino.
Rossi ainda chegou a ser convocado por Lionel Scaloni para defender a seleção argentina em 2021, mas sequer entrou em campo. Ele também não figurou na lista final dos jogadores que foram campeões mundiais na Copa disputada no Catar.
Chegada ao Flamengo
O argentino entendeu rápido o espírito rubro-negro e conquistou os torcedores logo que recebeu as primeiras oportunidades. Mas a negociação para chegar ao Flamengo não foi das mais simples.
Em 2023, o departamento de futebol escolheu Rossi e embarcou para Argentina para tirá-lo do Boca Juniors. No entanto, Riquelme, presidente do clube argentino, não quis abrir negociação com Marcos Braz e Bruno Spindel. Na ocasião, a diretoria rubro-negra sinalizou uma compensação financeira para a liberação imediata, já que o goleiro estava em reta final de contrato.

Rossi já estava decidido a se mudar para o Brasil com sua família, que visitou o Rio de Janeiro antes de o jogador tomar a decisão. A atitude de Riquelme não agradou o goleiro, que optou por assinar o pré-contrato mesmo sabendo da repercussão negativa que teria com a torcida do Boca.
O goleiro encontrou Braz e Spindel em um hotel em Buenos Aires e assinou a documentação ainda em janeiro de 2023, e logo o Rubro-Negro anunciou o pré-contrato a partir de julho. Antes de chegar ao Flamengo, Rossi foi emprestado para o Al-Nassr, da Arábia Saudita.
Desde julho de 2023 no Rubro-Negro, o goleiro assumiu a titularidade na temporada seguinte e soma 124 jogos oficiais e quatro títulos conquistados (Campeonato Carioca – 2024 e 2025; Copa do Brasil 2024 e Supercopa do Brasil 2025).