Esther Kremer
A cidade de Irati conta com uma grande estrutura de atendimento à mulher em situação de violência. A Patrulha Maria da Penha, com uma equipe especializada da Polícia Militar, e o programa do mesmo nome guiado pela Guarda Municipal, atuam de forma mais efetiva no município, promovendo ações preventivas, visitas domiciliares e integração com os serviços da rede de proteção local.
Os dados fornecidos pelo CRAM (Centro de Referência e Atendimento à Mulher), mostram que há um número elevado de casos envolvendo violência doméstica, cerca de 300 ocorrências (entre orientações, atendimento a violência, atendimento via WhatsApp, boletim de ocorrência ou medidas protetivas) mensais. Por dia, esse número pode chegar até dez atendimentos, tanto da PM, quanto da GM, apenas em Irati. “Esse número pode duplicar ou triplicar, porque estamos falando das mulheres que denunciam, mas há muitas que não denunciam”, comenta a secretária de Segurança Pública e Cidadania de Irati, Gisleia Ferreira.
A equipe da Folha de Irati conversou com os integrantes da patrulha, cabo Adalton e soldado Schwerzowski, e também com a secretária Gisleia, para apresentar à população os detalhes do funcionamento destes serviços.
“Desses mais de 300 casos (divulgados pelo CRAM), se a gente conseguir, com a Patrulha, mudar uma realidade, o trabalho foi feito”
– Cabo Adalton
Atribuições da Patrulha (PM)
A Patrulha Maria da Penha da PM é formada por policiais militares capacitados para atender casos específicos de violência doméstica. Os integrantes atuais desta equipe participaram de treinamento em Curitiba antes de iniciarem as atividades, há cerca de dois meses. Segundo os policiais, o serviço já era realizado anteriormente pelas equipes de Rádio Patrulha, mas agora ocorre de forma mais sistemática e especializada.
As ações incluem visitas às mulheres com medidas protetivas vigentes e orientações a vítimas que ainda não oficializaram denúncias, mas possuem boletins de ocorrência registrados. “Atuamos justamente no trabalho de prevenção, de orientação, para que as situações não voltem a acontecer. E o nosso trabalho também compreende uma visita para o autor, se necessário, para fazer orientações com relação a descumprimento em caso de medida protetiva, quais são os tipos de violência, etc”, explica Adalton.
“Nosso trabalho é orientar para que a mulher identifique quando está em uma situação de violência. Muitas vezes, há um controle, do agressor, sobre amizades, familiares ou redes sociais, e a vítima não reconhece isso como agressão”, complementa a soldado Schwerzowski.

Atendimento pela Guarda Municipal
Desde o início da nova gestão municipal, a Patrulha Maria da Penha da Guarda Municipal (existente há, mais ou menos, cinco anos) passou a funcionar no CIAMI (Centro de Integração e Atendimento à Mulher Iratiense), junto ao CRAM. O local é atendido exclusivamente por mulheres, servidoras da assistência social e guardas municipais, o que proporciona mais acolhimento e privacidade às vítimas.
Segundo a secretária Gisleia, o objetivo é garantir um atendimento humanizado. “Aqui a mulher pode solicitar ou renovar medidas protetivas sem precisar ir até a delegacia ou ao fórum. Além disso, temos um veículo da Guarda Municipal disponível para acompanhamentos até hospitais ou até as residências, quando necessário buscar objetos. Levamos até a casa de passagem, caso necessário, é uma rede bem completa de apoio”, detalha.
SERVIÇOS DE APOIO À MULHER EM IRATI E REGIÃO
CIAME e CRAM – Atendimento presencial para acolhimento, orientação e solicitação de medidas protetivas (sede no Parque Aquático);
Emergência: 190 (Polícia Militar)
Guarda Municipal de Irati: (42) 34232833
Disque 180 – Central de Atendimento à Mulher (nacional)
Atendimentos em Irati e região
A 8ª Companhia da Polícia Militar atende nove dos dez municípios da região da Amcespar, além de Ivaí. Em Irati, devido à maior demanda, a patrulha realiza visitas regulares, enquanto nos demais municípios as visitas são feitas pelas equipes locais da PM. Além do suporte policial, a patrulha estabelece vínculos com serviços municipais como CRAS, CREAS, NUMAPE e CRAM, integrando a rede de proteção à mulher.
O cabo Adalton destaca que parte do trabalho é articular essas redes nos municípios menores e fomentar a criação de fluxogramas de atendimento. “Nosso objetivo é que a Polícia Militar esteja incluída nesse processo de forma estruturada, em parceria com os demais órgãos”, afirma.

Orientações e ciclo da violência
Gisleia, que é policial militar aposentada, destaca que a Lei Maria da Penha trouxe avanços significativos no combate à violência doméstica, ao reconhecer, além da agressão física, outras formas de violência, como a moral, psicológica, sexual e patrimonial.
Ela alertou para situações como o chamado “estelionato afetivo”, em que golpistas exploram mulheres emocional e financeiramente, e reforçou que a violência está em diversas situações, um exemplo é dentro do próprio casamento da mulher, onde pode ocorrer até mesmo estupro, caso haja relação sexual forçada ou não consensual, e alertou para os sinais do agressor. “Para chegar até no feminicídio, que é a parte final da violência, o agressor já demonstrou várias vezes algum tipo de violência. Começou por gritos, por xingamentos, insultos, por empurrões dentro de casa, por tapas, então nós estamos tentando colocar na cabeça dessas mulheres as informações para que elas identifiquem que estão sendo vítimas de violência”.
Gisleia também abordou o ciclo da violência, no qual o agressor alterna episódios de agressão com momentos de aparente arrependimento, conhecidos como a “fase da lua de mel”. “Se a mulher não romper esse ciclo, a violência tende a se intensificar com o tempo. Um agressor nunca vai deixar de ser um agressor”, afirmou.
Rede de apoio e prevenção
Não apenas em Irati, mas a região conta com uma rede de apoio composta por diferentes órgãos e serviços, que atuam em conjunto para proteger, orientar e garantir os direitos das vítimas. “Nós pedimos para que as mulheres não tenham medo de fazer a denúncia. Nós oferecemos todo o apoio posterior à uma situação de violência. Encaminhamos para um lugar seguro, caso ela não tenha algum familiar, temos a casa de apoio, o programa de aluguel social, caso ela precise por algum tempo”, finaliza a soldado Schwerzowski.