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Presidente da Câmara Municipal de Irati foi afastado das funções parlamentares por 90 dias, além das funções como educador; investigações seguem sob sigilo
Foto: Câmara de Vereadores de Irati

Esther Kremer e Nilton César Pabis

O Conselho Tutelar de Irati divulgou, nesta semana, a Nota Pública nº 002/2025 confirmando que recebeu denúncias de supostos abusos sexuais cometidos contra crianças e adolescentes por um professor da rede estadual de ensino. Informações apuradas pela Folha de Irati sobre as denúncias recebidas apontam para a atuação do professor Hélio de Mello (PL), que também exerce o cargo de vereador e presidente da Câmara Municipal de Irati. Ele trabalhava como professor de Educação Física no Colégio da comunidade do Rio do Couro, localidade onde reside.

O documento, emitido na quarta-feira (3) pelo Conselho Tutelar, informa que o caso foi comunicado à 2ª Promotoria de Justiça de Irati e que medidas cautelares já foram determinadas pela Justiça para resguardar as vítimas. A Secretaria Estadual de Educação (Seed/PR) também comunicou, por meio de nota oficial, que Hélio foi afastado da atuação como professor. A Folha de Irati entrou em contato, via e-mail, com o advogado de defesa do vereador, Ricardo Mathias Lamers, que afirmou que “a defesa não irá se manifestar, pois as investigações tramitam em segredo de justiça”. Também, a equipe entrou em contato com o vereador Hélio de Mello via WhatsApp, porém, as mensagens não foram recebidas.

Após receber os relatos, o Conselho Tutelar encaminhou algumas das vítimas para escuta especializada, ou seja, um processo sigiloso e protetivo para crianças e adolescentes que são vítimas ou testemunhas de violência, e repassou as informações ao Ministério Público. No sábado (30), a 2ª Promotoria de Justiça, por meio do promotor Oseas Vogler, apresentou ao Judiciário um pedido de imposição de medidas cautelares contra o professor. Ainda, no domingo (31), o Juízo de Plantão Regional acatou os pedidos e determinou:

  • Proibição de acesso ao colégio onde, em tese, ocorreram os fatos;
  • Proibição de contato com alunos da instituição, por qualquer meio, para evitar pressões ou intimidações;
  • Suspensão do exercício da função pública de professor, diante dos indícios de uso do cargo para prática criminosa.

Já na segunda-feira (1º), a Delegacia de Polícia Civil de Irati cumpriu mandados de busca e apreensão autorizados pela Justiça. O caso segue em investigação sob sigilo, com a tramitação de um inquérito policial (253728/2025) e de um procedimento administrativo (0067.25.000542-7) na Promotoria de Justiça. A Folha de Irati apurou, extraoficialmente, que foram ouvidas mais de 100 denúncias nesta investigação.

Foto: Letícia H. Pabis

A Educação do Estado confirma que as medidas contra o professor e vereador foram tomadas para proteger as possíveis vítimas que realizaram as denúncias. “O professor está afastado desde agosto. O processo segue em sigilo de Justiça, e a Seed-PR acompanha o caso, assegurando o cumprimento integral das determinações legais e a preservação da segurança e do bem-estar dos estudantes. A Seed-PR ressalta que não admite comportamentos que não condizem com o ambiente escolar e reforça que todas as medidas cabíveis foram adotadas, em conjunto com o Ministério Público, o Conselho Tutelar e a Polícia Civil”.

Afastamento da Câmara Municipal                                                 

Paralelamente às investigações, Hélio de Mello apresentou, na segunda-feira (1º), um pedido de afastamento das funções parlamentares por 90 dias, alegando motivos de saúde. O pedido foi protocolado com a apresentação de um atestado médico.

No dia seguinte, o vereador João Leuch (PL) assumiu temporariamente a cadeira de Hélio, enquanto a presidência da Câmara passou para o vice-presidente, Selmo de Lima Vieira (Podemos). Hélio, que reside na comunidade do Rio do Couro, está no sétimo mandato como parlamentar, desde 2001. Nas eleições para 2025, foi eleito com 707 votos, pelo Partido Liberal que apoiava a coligação “Juntos por Irati” e, agora, ficará afastado das funções.

Nota oficial da Câmara

Em nota oficial, na tarde de terça-feira (2), antes da sessão, a Câmara Municipal de Irati confirmou que teve conhecimento da existência de um inquérito policial envolvendo o vereador licenciado, mas sem acesso a detalhes devido ao caráter sigiloso da investigação. Ao final da sessão, o vereador Selmo informou a todos que, com o afastamento de Hélio de Mello, ele e a diretora geral da Câmara, Ana Paula Kengerski, buscaram informações do processo junto ao delegado responsável pelo caso, mas, devido ao sigilo, souberam apenas que a investigação tramita na 41ª Delegacia de Polícia. A Câmara de Irati não se manifestou mais sobre o assunto até o momento da publicação desta matéria.

“A Câmara Municipal de Irati comunica que, em contato com a Delegacia de Polícia Civil, foi informada sobre a existência de um inquérito policial em andamento envolvendo um vereador licenciado, mas não recebeu detalhes sobre o caso, em razão do caráter sigiloso de toda e qualquer investigação. Diante disso, informamos que esta Casa de Leis aguardará a comunicação oficial das autoridades competentes para, então, se manifestar de maneira mais detalhada e adotar eventuais providências cabíveis de forma responsável e fundamentada”.

Próximos passos

De acordo com o Conselho Tutelar, todas as medidas cabíveis nesta fase estão sendo conduzidas pela 41ª Delegacia de Polícia Civil de Irati e pela 2ª Promotoria de Justiça, responsáveis pela apuração dos fatos. A nota pública reforça a importância da denúncia e da participação da comunidade na proteção de crianças e adolescentes. “Não se cale. Denuncie. Procure o Conselho Tutelar ou disque 100”, destaca o comunicado assinado pelos conselheiros tutelares Rhauan Elkyen de Oliveira Leite, Vinícius Marcello, Sonia Mara da Rocha e pelo coordenador administrativo Thiago Vinícius Mattoso Gorte.

Definição da palavra suposto: 1. Alegar ou afirmar hipoteticamente para tirar alguma indução · 2. Admitir como provável ou possível.

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