Histórias de Caminhoneiros

Nesta matéria, separamos algumas histórias dos amigos da estrada para contar

Em alusão ao Dia do Motorista, dia 25 de julho, a Folha de Irati foi atrás de alguns motoristas de caminhão para saber mais sobre as famosas histórias de caminhoneiros. Muitos desacreditam das contações, outros riem com os fatos narrados. Mas o que não podemos negar é que, sim, os caminhoneiros tem muita criatividade e isso só mostra as peripécias que os motoristas passam em suas longas viagens. Nesta página, separamos algumas histórias dos amigos da estrada para contar:

“Essa história aconteceu com amigo meu, uma história do Zabezinho. Na época, ele trabalhava com o caminhão do Jaco Jansura e puxava umas chapa de ferro do Rio de Janeiro para o Recife, ele passava pelo estado do Espírito Santo e lá tinha uma Polícia Rodoviária que, dizem, era muito chata, pois os capixaba carregavam muito excesso nos caminhões, mas ele andava no peso certo e em toda viagem os policiais faziam ele contar as chapa, para ver se batia os peso com o que estava na nota, isso foi umas três, quatro vezes e ele disse para o Jaco “vou ajeitar para o lado desses guarda aí”. Na outra viagem, o abençoado passou graxa no peito da carreta, na lona, em tudo e chegaram nesse posto da Polícia, dito e feito, os guardas pediram para contar as chapas e mandaram abrir a lona, ele disse que não ia abrir. Nisso, os guardas soltaram as borrachas, mas não soltou os cantos e entrou meio se esbarrando na lona, e eles em baixo vendo tudo, e aí quando esse guarda desceu, calcule o estado que estava, diz que o outro guarda que estava com a calcadora chorava de dar risada, aí o que estava cheio de graxa disse “se sumam da minha frente antes que eu prenda tudo vocês”. Essa é a história do nosso amigo Zabezinho” – Edson Luis Setnarski (Tchesko).

“Tenho uma história lá do Mato Grosso, de um casal de velhinhos. Anos 2000, eu tinha descarregado calcário na estrada de Sinop para Juína, na BR-220. Naquele tempo era estrada de chão e tinha muito mato também, hoje está tudo desmatado, e eu descarreguei o calcário, enquanto estava vindo embora por Sinop, para carregar madeira, tinha um casalzinho de velhos em uma casinha de beira de estrada, tinha um lago, umas vaquinhas e tudo mais. Eles estavam pedindo carona e eu parei, queriam ir para Sinop. Andamos uns 30km ou 40 km, começamos a conversar e eu perguntei “daí, muita cobra aqui no Mato Grosso?” e ele respondeu “rapaz do céu, sucuri, brigamos com uma ontem mesmo” e eu perguntei o porquê, e ele disse “não é verdade minha ‘véia’? Essa cobra já me levou um bezerro esses dias e ontem quis pegar meu cachorro caçador. Olhei lá pro laguinho e a cobra abraçada no meu cachorro, peguei minha faca”. E enquanto ele ia contando as histórias, ele ia cutucando a velhinha e perguntando se era verdade e ela respondendo que sim. Aí, ele disse que foi dar uma facada na cobra e a faca não entrou e quando ele deu uma “bobeada”, a cobra enrolou nele também e diz que foi uma briga, mata ou não mata, morre ou não morre, aí diz que ele conseguiu agarrar ela com uma mão, a faca na outra e disse “ou é eu ou é você”. Continuando a história ele conta que “conseguiu cutucar a sucuri por baixo, ela aliviou e o cachorro correu e ela me soltou”, diz ele “eu me escapei, mas ela se escapou também, porque ia morrer”. Não sei se a história presta, mas é verídica que passou comigo” – Nestor Sikora.

“Quando eu era moleque e viajava as vezes com o Sr. João Sikora, que trabalhava com o caminhão que era do meu pai, Albino Pabis, um caminhão MB1932, a gente estava no interior de Minas Gerais e paramos a noite em um trecho, a gente ia tomar banho, jantar e tocar para frente, aí o Seu João disse “não, não conhecemos a estrada, vamos dormir no posto”. Ele acordou lá por 4h da manhã, eu fiquei dormindo ainda e o Seu João tocou mais ou menos uns 40 minutos e começou a descer uma serra, foi pisandinho no freio e do nada acabou o ar do 32 e bem na hora que ele foi trocar de marcha para frear o caminhão, ficou neutro, ele saiu da marcha que estava e não engatou a outra, o caminhão começou a disparar em ponto morto. O Seu João era só reza e reza, em um desespero, me acordando, ele gritava “acorde pia, acorde que a gente vai tombar, vou jogar esse caminhão no paredão” e a gente descendo aquela serra e uns paredões enorme de pedra do lado. Quando ele foi para jogar o caminhão, ele olhou para frente e viu uma luzinha descendo lá no fundo, aí pensou que a subida estava perto. Ele fez tanta força nos freios do caminhão que soltou a cadeira dele e foi para trás, mas não tinha Santo que o Seu João Sikora não chamasse. Encontramos o outro caminhão que estava descendo, fomos mais um pouco e o nosso estava tão embalado que começou a subir a estrada, aí, como não tinha freio, parou e começou a voltar de ré e o Seu João gritava “desça piá, desça e arrume um calço para calça esse caminhão”, até que nessa volta voltou o ar e o caminhão parou. Gente, eu não sabia quem tremia mais, eu, o Seu João ou o caminhão”. Nilton Pabis (Padre)

“A outra história que tenho é que eu estava carregado para São Paulo. Eu trabalhava na Fórmula Um, de Foz do Iguaçu, em Santa Terezinha do Itaipú, descarreguei lá, e na época era piá novo, encostei o caminhão na lateral da via Marginal Tietê esperando carga, uns 500 metros para dentro. Aquele dia tinha tomado um café cedinho, entrei na agência de carga e rapaz do céu, a barriga começou a doer, fui no banheiro do agenciador, o banheiro estava trancado. Pedi a chave e ele disse que o banheiro estava quebrado, pensei que era melhor ir no posto então. Cheguei no posto, era uns 500 metros para frente de onde eu estava, e o posto fechado. Era umas 8h da manhã, pensei, agora complicou, não tinha nada por perto e pedir para uma pessoa de alguma casa ficava meio feio. Fui em cima da carreta, a carreta “desenlonada”, mas eu nem me toquei que eu estava em São Paulo e que tinha prédio. Abaixei as calça e fiquei lá, aliviei, olhando para uma caixa e dentro dessa caixa tinha uma sacolinha, eu estava lá sem roupa, porque não consigo fazer as necessidades sem abaixar as calça. Na época eu fumava e fiquei lá. De repente escutei uma risada, e eu pensei “não acredito nisso, quem que vai me ver, devem tá dando risada de outra coisa”. Aí lembrei que o caminhão estava “desenlonado” e do lado tinha um prédio, comecei a virar a cabeça bem devagarzinho para ver e tinha um casal que estavam na varanda do prédio, viram tudo rapaz do céu, eu com as calça lá em baixo, dai cobri a cabeça com a camiseta e o cara gritou de lá “não precisa cobrir a cabeça, o pior a gente já viu. Pode terminar, nem se preocupe que a gente já vai entrar”. Pense na vergonha que passei, só levantei a mão e fiz um positivo” – Luiz Veloso (Gurila)

Outras histórias:

“Aconteceu a uns 10 anos atrás, eu trabalhava com o Alessi e eu e o Schmidt tinha pego um caminhão novo, 0km, nós fizemos uma viagem juntos para Vitória, Espirito Santo, carregando açúcar e depois carregamos malte para a Ambev, interior de São Paulo. Aí o Alcione falou “descarreguem e podem vir embora, é a última viagem do ano”, a gente carregou lá e viemos embora, quando chegamos na divisa do Rio de Janeiro com o Espirito Santo, paramos tampar os buracos que estavam vasando, eu vinha atrás do Schmidt e ele me disse “passe na frente para mudar um pouco”, eu falei beleza e fui. Andamos uns 50km e em uma curva, que era bem forte, eu entrei e quando olhei pelo espelho, o Schmidt estava embalado e, infelizmente, ele se perdeu, se descuidou e entrou na curva rápido, eu consegui ver o caminhão dele tombar, tombou primeiro a carreta de trás, dai puxou o bitrem do meio e, por último, tombou o cavalinho. Eu parei em cima da pista, tinha um ponto de ônibus do lado direito e ele tombou em uma estradinha secundária, caiu fora da pista, e essa estradinha dava em uma fazenda. Aí quando desci do caminhão, eu corri em direção a ele e achei que ele tinha morrido, gritei, chamei o nome dele e ele respondeu que tava vivo. O caminhão dele estava com todas as rodas para cima e ele estava embaixo do banco do motorista, o caminhão tava funcionando e ele disse “me tire daqui porque esse caminhão vai explodir”, aí ele desligou o caminhão e a gente não conseguia tirar ele de dentro, tentei quebrar o para-brisa e não consegui, daí chegou mais gente e nós conseguimos entortar a porta do caminhão para cima e tirar ele de la. Essa é uma das passagens que tenho, nisso ele fraturou duas costelas só, aí no final de ano fizemos uma festa e demos um banho de cerveja para comemorar a vida dele” – Luiz Veloso (Gurila)

“A outra história é do nosso saudoso Miguel Sanderski. Estávamos puxando tora e eu trabalhava com uma firma de Teixeira Soares, deixei o caminhão na cidade para arrumar e fui buscar uma peça, eu e o Carlinhos, de camionete. Quando estávamos chegando em Teixeira, o falecido “Migué” Sanderski subindo com o seu jacaré bem devagarzinho, eu sempre me dei bem com aquele velhinho, ele me queria muito bem. Eu pulei da camionete, corri atrás da carreta dele, subi em cima das toras, desci na plataforma do caminhão e pulei no estribo do caminhão, daí gritei pra ele “ô véio jaguara, gostoso” e o véio deu um pulo, e eu mandava acelerar se não ia para no tope e ele olhava pra mim e não acreditava se era eu ou era um bandido que estava ali. Aí quando vencemos o tope, ele tremendo e assustado, daí eu falei “deixe que eu dirijo aí” e ele “dirija antes que eu te mate”, me xingou um monte”. – Luiz Veloso (Gurila)

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