Entenda porque uma criança pode apresentar um “atraso na fala”?

Dr. Bruno l. Alencar Otorrinolaringologista CRM 18299 RQE 13511

São vários fatores que podem interferir no desenvolvimento da fala de uma criança. Veja algumas situações sobre o assunto:
• Dificuldade Auditiva: a audição é muito importante para o desenvolvimento da fala. Procure o pediatra ou o otorrino para que eles possam avaliar a audição. Exames também são indicados para testar a audição da criança. Podemos não perceber uma perda auditiva leve.
• Falta de estímulos adequados: uma criança precisa de estímulos adequados. Saber conversar com uma criança, apresentar o mundo a ela, nomear os objetos, os brinquedos, cantar, ler histórias, brincar no parque, brincar de faz-de-conta, são formas de estimulação. Falar demais também não ajuda! Tem pais que por não saberem ou não perceberem, falam demais e aí a criança fica sem espaço para se comunicar.
• Excesso de Ipad, joguinhos no celular, muita TV: isso também pode prejudicar o desenvolvimento da fala. Precisamos criar e sempre valorizar os momentos de comunicação. Hoje, a vida corrida, atrapalha muito os momentos em família. Criança precisa de paciência, de modelos, de disposição (brincar com uma criança, dá trabalho). Fiquem atentos a rotina da criança! Pouca brincadeira também pode prejudicar: Brincar de faz-de-conta, dar comida para o bebê, com os animais, com lápis, papel, com meios de transporte, com fantoches, com panelinhas, com sucatas (embalagens vazias podem virar panelinhas, microfones, etc).
• Dificuldades cognitivas: criança com déficit cognitivo também terá dificuldade no desenvolvimento da fala. Seu filho aprende o que você ensina? consegue prestar atenção? Tem concentração? Compreende bem? Consegue dar função para os objetos e brinquedos? Como está o desenvolvimento global dele?
• Síndromes Genéticas: as crianças podem nascer com alterações genéticas e várias síndromes causam atraso na fala e na linguagem. Converse com o médico e ele saberá se há necessidade de algum exame específico.
• Epilepsia: crianças com Epilepsia poderão ter atraso na fala. Crianças com Paralisia Cerebral, também poderão ter atraso na fala.
• Dificuldades na motricidade oral: crianças que respiram mal, que tem adenóides aumentadas, por exemplo, podem respirar muito tempo pela boca e isso prejudicar toda a musculatura dos órgãos fonoarticulatórios e isso afetar o desenvolvimento da fala.
• Alimentação: criança que come mal, tudo amassado, pastoso, muito biscoito que derrete na boca sem precisar mastigar, ou usa mamadeira com bico aumentado ou por muito tempo, que não sabe mastigar também poderá ter dificuldades para aprender os sons da fala.
• Autismo: crianças com Autismo terão dificuldades na fala, na linguagem. O Autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação verbal e não-verbal; afeta a interação e a socialização (preferem ficar sozinhos, não procuram outras pessoas, são indiferentes), apresentam comportamentos repetitivos, tem dificuldade de fazer e manter o contato visual; podem ser agitados, etc.
• Mutismo Seletivo: é um transtorno psicológico (diagnóstico feito por neuro ou psiquiatra infantil), caracterizado pela recusa em falar em determinadas situações, mas que a criança consegue falar em outras (por exemplo, só fala com a mãe ou com o pai, mas vai para a escola e não fala com ninguém). São crianças tímidas, introvertidas e ansiosas.
• Apraxia de Fala: distúrbio motor que afeta o planejamento, a programação e a execução dos movimentos da boca, da língua, dos lábios, da mandíbula, etc, para falar. A criança quer falar, mas não sabe como fazer. Geralmente, são desajeitadas motoramente.
Queridos pais, como vocês puderam ler, quando uma criança não fala ou a fala é pouca desenvolvida, é importante investigar e analisar muitos aspectos. É importante analisar o desenvolvimento global, a capacidade de aprender, de imitar, de brincar, de interagir, de se socializar, etc.
Cada criança é única, e a avaliação deve levantar as dificuldades e facilidades, para que a terapia seja adequadamente planejada. Muitas vezes, é preciso atender a criança um tempo (terapia diagnóstica) para conseguir analisar com cuidado e precisão.
Para falar, precisamos do funcionamento adequado de várias áreas e é por isso, que às vezes, os pais são orientados a passar por vários especialistas. Também não dá para nomear tudo como “atraso na fala”. Investigar e intervir especificamente é essencial para que a criança tenha ganhos. Procure fonoaudiólogos que tenham experiência com crianças pequenas e que entendam de intervenção precoce.

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