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Foto: UEPG

Foram duas frentes diferentes de trabalho: o restauro do prédio histórico e a construção de um anexo

AEN

A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) entregou à comunidade o restauro do prédio histórico do Museu Campos Gerais (MCG), em solenidade na antiga Sala do Júri, nesta terça-feira (06). A obra, que totaliza R$ 10,5 milhões, teve início em 07 de fevereiro de 2022. Os recursos são do Fundo Nacional de Defesa de Direitos Difusos, do Ministério da Justiça e Segurança Pública. O prédio fica na esquina das ruas Engenheiro Schamber e Marechal Deodoro, em Ponta Grossa.

“O restauro da sede histórica do Museu Campos Gerais, edifício-símbolo do acesso à Justiça, memorial da nossa cidade, materializa a importância da universidade, da história e da cultura da nossa região”, disse o reitor Miguel Sanches Neto. “Temos a cidade no nome da UEPG e mantemos este vínculo vivo por meio de muitos projetos como este”.

Para o reitor, é o momento da realização de sonhos, mas também de elaboração de novos projetos. “Por meio deste novo prédio, muitas ações serão desenvolvidas nos próximos anos, a começar por uma exposição do artista plástico Poty Lazzarotto”, afirmou. A abertura do MCG ao público, com uma exposição itinerante do Museu Oscar Niemeyer que homenageia os 100 anos de Poty, está prevista para abril de 2024. “É muito simbólico que na sequência, depois de inaugurado o prédio, a primeira exposição seja desse importante artista plástico paranaense”.

“O Museu Campos Gerais não é apenas um local de preservação de nossa história, mas também um espaço de educação e cultura para as futuras gerações. É um lugar onde podemos aprender sobre nosso passado, compreender nosso presente e vislumbrar nosso futuro”, disse a prefeita de Ponta Grossa, Elisabeth Schmidt. “É através de iniciativas como esta que garantimos que as próximas gerações possam apreciar e aprender com a riqueza de nossa história”. 

O professor e juiz federal Antônio César Bochenek, que apresentou o projeto ao Ministério, reforçou a importância dos valores investidos no restauro. “O prédio histórico, reinaugurado como Museu dos Campos Gerais, representa a memória viva do Judiciário na cidade de Ponta Grossa. Lá, por muitos anos, foram realizados os trabalhos dos operadores do Direito”, destacou. “A simbologia da presença de um dos poderes do Estado também faz parte da construção das memórias princesinas”.

O representante da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) no evento, Renê Wagner Ramos, destacou a relevância do restauro do Museu, que para ele é uma referência no Paraná, como parte da rede universitária, única no Brasil. “Ponta Grossa tem uma joia na mão, joia esta que será importante em 2024 e 2025 no contexto das parcerias que temos com a universidade”, disse.

HISTÓRIA 

O prédio foi inaugurado originalmente em 04 de janeiro de 1928. Era o Fórum da Comarca de Ponta Grossa. Depois de 55 anos ele ganhou uma nova função, com a cerimônia de abertura do Museu Campos Gerais, em 28 de março de 1983. As atividades do Judiciário cresceram e o Fórum precisou ser transferido para a nova sede, em Oficinas, e o espaço histórico foi cedido à UEPG. O imóvel foi tombado pelo Patrimônio Cultural do Paraná em 03 de novembro de 1990.

Por conta de danos estruturais, o Museu foi interditado em 2003 e transferido para o “antigo Banestado”, na mesma quadra, na confluência das ruas Engenheiro Schamber e XV de Novembro. Desde então começou o projeto de restauração. A licitação para restauro do edifício foi realizada pela primeira vez em 2008. Em 2010, a UEPG captou R$ 1 milhão via Lei Rouanet, valor utilizado para reforma nos pontos mais emergenciais da estrutura: forro, vigamento e telhado, bem como a pintura externa e interna do pavimento térreo.

Agora, na nova reforma, além de preservar e recuperar os itens originais, houve um esforço por atualizar as instalações elétricas e hidráulicas da edificação, para trazer segurança para funcionários, visitantes e aos próprios acervos do Museu. Foram duas frentes diferentes de trabalho: o restauro do prédio histórico e a construção de um anexo. Esse novo edifício, nos fundos do Museu, vai abrigar as áreas administrativas, reserva técnica e laboratório de conservação.

OBRA 

A obra constituiu um desafio para as equipes da Pró-reitoria de Planejamento (Proplan) e da Prefeitura do Campus (Precam) da UEPG. As fiscais da obra, a arquiteta e urbanista Emanuele de Almeida, diretora de Planejamento Físico da Proplan, e Eloise Langaro, diretora de Obras e Fiscalização da Precam, explicaram que o restauro do Museu foi um processo repleto de singularidades e diferente de outras obras executadas pela universidade.

“Por estarmos em uma instituição de ensino, pudemos compartilhar com nossos alunos muitas das experiências vividas na obra”, exaltaram. “Trata-se de uma obra, de um prédio, mas também de um grande laboratório de ensino e pudemos aproveitar essa oportunidade de crescimento profissional coletivo”.

Para o prefeito do Campus, Elias Pereira, algo marcante foi o cuidado necessário para garantir a integridade física e estética das peças e instalações de uma construção de quase 100 anos. “O desgaste pelos elementos naturais é comum em qualquer tipo de edificação e, portanto, a restauração visou conservar, reparar e proteger esses elementos, permitindo que as gerações presentes e futuras tenham acesso a uma narrativa viva do passado da cidade de Ponta Grossa e região”, disse.

“Ao preservar e revitalizar a sede histórica do MCG, estamos garantindo que as futuras gerações tenham a oportunidade de se conectar com suas raízes, compreender sua herança cultural e apreciar a diversidade que moldou a sociedade ao longo dos tempos em nossa cidade. A conservação e restauro do MCG não era apenas uma questão de cuidado com um prédio antigo, mas um compromisso contínuo com a preservação da riqueza e da diversidade de nossa cidade”, afirmou.

No restauro das paredes, o trabalho minucioso revelou afrescos e pinturas que não viam a luz do dia há décadas. A escavação arqueológica realizada no terreno descobriu 20.015 peças de metal, vidro, cerâmica e outros materiais, que ajudam a contar a história de Ponta Grossa.

“Achamos fragmentos de cerâmicas indígenas, fragmentos da antiga ocupação, moradia ou trabalho do barbeiro/dentista Francisco Barbieri, da construção do Fórum da Comarca de Ponta Grossa, da ocupação como Fórum, do intervalo sem uso, e artefatos da chamada arqueologia moderna (objetos das décadas de 40, 50, 60)”, relatou a arquiteta responsável, Kathleen Coelho de Andrade Biassio. “É como se o edifício já contasse sua história e falasse: ‘tenha cuidado comigo, sou um Senhor de respeito’”.

Nas “janelas didáticas” espalhadas por todo o prédio, os visitantes também poderão observar um pedaço do passado, seja na pintura das paredes, em que a tinta foi descascada com cuidado para revelar o que havia nas camadas inferiores; ou no piso, onde uma janela em vidro permite observar a estrutura de circulação de ar no subsolo; ou ainda na parede em que o reboco foi removido para mostrar a técnica de estuque, utilizada nas paredes do piso superior.

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