Leandro Bianco
A Moageira Irati lançou oficialmente, no dia 24 de abril, o Projeto Impulsionar, marcando o início de uma nova fase para a agricultura na região. Desenvolvida em parceria com a Embrapa Trigo, a iniciativa é pioneira no Brasil e tem como objetivo calcular, reduzir e transformar a pegada de carbono na produção de trigo, unindo sustentabilidade à valorização do produto. A colaboração entre as instituições já resultou em dados concretos, publicados internacionalmente, consolidando Irati como referência continental em produção agrícola de baixo impacto ambiental.
O Projeto Impulsionar é fruto de três anos de estudos e levantamentos detalhados feitos em propriedades da região. Segundo Tatiane Battistelli Martins, coordenadora de inovação da Moageira, “esse projeto visa agregar conhecimento aos produtores, trazer novas tecnologias, novas oportunidades e impulsionar a cadeia de grãos.” O objetivo central é transformar boas práticas em vantagem competitiva e ambiental, colocando o trigo brasileiro como alternativa sustentável diante de mercados globais cada vez mais exigentes.
“Hoje a gente já tem um número que é inédito. É o primeiro no Brasil a fazer esse cálculo da pegada de carbono da farinha de trigo brasileira”, afirmou Tatiane, referindo-se ao estudo que envolveu 61 produtores e a coleta detalhada de dados nas propriedades. Esses resultados revelam que o trigo produzido em Irati possui uma pegada de carbono inferior à média global. “A ideia agora é mitigar ainda mais esse número e chegar a uma farinha net zero, que não tem impacto ambiental”, completou.
Osvaldo Vasconcellos Vieira, analista da Embrapa Trigo, confirmou que os dados comprovam uma produção com menor impacto climático. “Nós estamos produzindo trigo com pegada de carbono menor do que o mundo está produzindo. Isso é uma coisa fantástica e se deve muito à conscientização do produtor dessa região”, afirmou.
O trabalho desenvolvido pela Moageira Irati e Embrapa antecipa essas metas, aplicando soluções em campo e mensurando resultados reais. Os esforços técnicos e ambientais serão acompanhados também de ações práticas no relacionamento com os produtores. Reuniões periódicas, dias de campo e capacitações serão promovidas com o objetivo de atualizar conhecimentos, compartilhar resultados e fomentar o engajamento contínuo dos agricultores locais. “Esses encontros são fundamentais para que o produtor entenda os impactos positivos dessas práticas e perceba o retorno direto em suas propriedades”, destacou Tatiane.
Otávio Benvenutti, da Agro Z, destaca que essa redução pode se converter também em benefícios econômicos. “O crédito de carbono é uma forma de o produtor ser remunerado pelas boas práticas que ele já adota. É uma tendência global, e o Brasil agora tem legislação que viabiliza esse mercado”, explicou.
Para André Vosnika, diretor de suprimentos e financeiro da Moageira, o projeto também tem caráter estratégico. “Criamos um grupo seleto de produtores para, junto com a Embrapa, testar novas soluções e, futuramente, expandir para toda a cadeia. Nossa premissa é inovação aliada à sustentabilidade”, disse. O projeto busca ainda rastrear a produção até o produto final, oferecendo garantia de origem e impacto ambiental reduzido aos consumidores e indústrias.
Reynaldo Garmatter Neto, produtor de trigo em Palmeira, relata os efeitos diretos dessa parceria. “O Marcelo [diretor da Moageira] sempre teve visão de futuro. Hoje, temos garantia de mercado e, com o trigo de origem, já sentimos um aumento na rentabilidade. Agora, com o carbono, isso deve crescer ainda mais.”
Para Vieira, da Embrapa, a atuação da Moageira rompe paradigmas. “Isso é algo que já está despertando, digamos assim, ciúmes de outras empresas que dizem que é um projeto inédito e nós também queremos fazer isso. Só que, como eu posso dizer tranquilamente, a Moageira começou esse trabalho há três anos, ou seja, ela está três anos à frente nesses resultados.” Segundo ele, os dados podem ser usados para certificações, permitindo que o produtor acesse mercados que valorizam alimentos sustentáveis.
A região de Irati assume papel de destaque continental na transição para uma agricultura de baixo carbono. “Esse projeto mostra que é possível aliar produtividade com responsabilidade ambiental”, afirmou Vieira. Tatiane reforça que o projeto é aberto a novos interessados: “Queremos alcançar todos os produtores que tenham interesse. Sustentabilidade é uma causa coletiva.” Com base em dados auditáveis, o Projeto Impulsionar não apenas transforma a realidade local, mas projeta o trigo paranaense para um futuro mais sustentável e competitivo no cenário internacional.
