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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgados neste mês, os suicídios representam uma em cada 100 mortes no mundo e afetam sobretudo os mais jovens
Arte: Marcos Mariano

Alep

Os registros de suicídio no Brasil e no Paraná reforçam a necessidade de ampliar ações de conscientização. Em 2024, o país registrou 16.446 mortes, ocupando a 8ª posição mundial entre os que apresentam os maiores índices. No Paraná, foram 912 registros no último ano, um crescimento de 12,6% em relação a 2023, quando ocorreram 805 casos. Os dados estão no Anuário Brasileiro de Segurança e evidenciam a importância do Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção e à valorização da vida.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgados neste mês, os suicídios representam uma em cada 100 mortes no mundo e afetam sobretudo os mais jovens. Entre pessoas de 15 a 29 anos, o suicídio já é a quarta principal causa de morte, atrás apenas de acidentes de trânsito, tuberculose e violência interpessoal.

O quadro é ainda mais crítico entre profissionais da segurança. Em 2023, a taxa de suicídio entre policiais civis e militares da ativa cresceu 26,2% em relação ao ano anterior e se tornou a principal causa de morte na categoria, superando os óbitos em confrontos dentro e fora do serviço. O índice é quase oito vezes maior do que na população em geral. É a primeira vez que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública registra essa inversão desde o início do monitoramento. Somente entre policiais militares, o número de suicídios (107) superou a soma das mortes em confrontos (46 em serviço e 61 durante a folga).

Ainda conforme a OMS, o suicídio segue como consequência direta de transtornos mentais que atingem mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo. Ansiedade e depressão são os mais comuns e crescem em ritmo mais acelerado que a própria população global.

Reforço legislativo

No Paraná, a legislação também dá respaldo ao enfrentamento do problema. A Lei nº 18.871/2016 trata da prevenção do suicídio e da valorização da vida. Em 2020, foi atualizada pela Lei nº 20.229, proposta pela deputada Mabel Canto (PP) e pelo ex-deputado Dr. Batista, instituindo a Semana de Valorização da Vida e de Prevenção da Automutilação e do Suicídio, realizada anualmente em setembro.

A norma prevê campanhas educativas, palestras, debates e audiências públicas para orientar a população, identificar sinais de risco e garantir apoio a quem enfrenta sofrimento psíquico.

“Setembro é o mês em que reforçamos o valor da vida e a importância do cuidado com a saúde mental. A campanha do Setembro Amarelo nos lembra que falar sobre dor e sofrimento não é fraqueza, mas um passo fundamental para a prevenção”, afirmou a deputada Mabel Canto.

Ela destacou ainda a importância do acolhimento. “O Disque 188 – CVV está disponível, de forma gratuita e sigilosa, para quem precisa conversar. Ouvir, apoiar e acolher pode salvar vidas. A vida sempre vale a pena ser vivida.”

Mobilização na Assembleia

Na Assembleia Legislativa, a programação do Setembro Amarelo terá como destaque o Seminário sobre Saúde Mental, de 15 a 19 de setembro, no Auditório Legislativo. O evento é promovido pela deputada Ana Júlia (PT), coordenadora da Frente Parlamentar de Proteção à Saúde Mental.

“A saúde mental precisa ser tratada como prioridade de Estado. Não se trata apenas de garantir atendimento, mas de assegurar políticas públicas consistentes, orçamento e condições dignas de vida e trabalho. Cuidar da saúde mental é cuidar do presente e do futuro da nossa sociedade”, afirmou a deputada.

Ela chamou atenção também para a realidade dos servidores públicos, em especial dos professores. “Quase um quarto da categoria foi afastada por questões psicológicas em 2024, e sabemos que o número pode ser ainda maior. Vivemos um colapso”, alertou.

A preocupação levou a parlamentar a apresentar o projeto de lei nº 397/2025, que estabelece diretrizes para combater assédio moral, cobranças abusivas e desrespeito no ambiente de trabalho da administração estadual.

Outra iniciativa prevista é a audiência pública “Saúde mental no ambiente de trabalho e os impactos da nova NR1”, marcada para o dia 19, às 10 horas, no Plenário, por proposição da deputada Márcia Huçulak (PSD).

A Norma Regulamentadora nº 1 passou a reconhecer oficialmente os riscos psicossociais como parte dos riscos ocupacionais, obrigando empresas a mapear, prevenir e tratar situações que afetam o bem-estar psicológico dos trabalhadores.

Agir salva vidas

Criada em 2015 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), a campanha Setembro Amarelo completa uma década como a maior mobilização pela prevenção do suicídio na América Latina. O lema de 2025 é “Agir salva vidas”, com foco nos impactos da cultura do ódio nas redes sociais e na importância de fortalecer laços comunitários, sobretudo entre adolescentes e jovens, cada vez mais expostos à ansiedade e à depressão.

A cor amarela se tornou símbolo da campanha a partir de uma história ocorrida em 1994, nos Estados Unidos. Naquele setembro, o jovem Mike Emme, de 17 anos, tirou a própria vida. Dono de um Mustang 1968 amarelo, inspirou amigos e familiares a distribuírem fitas da mesma cor com mensagens de apoio durante o velório. O gesto se espalhou rapidamente e transformou o laço amarelo em ícone mundial da prevenção, hoje reconhecido no Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, celebrado em 10 de setembro.

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