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Imbituva, Fernandes Pinheiro, Rebouças, São Mateus do Sul e Paulo Frontin possuem mulheres à frente de suas pastas de Agricultura. Conheça a história e a trajetória profissional de cada uma delas:
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Fotos: Reprodução

Leandro Bianco

Na agricultura, assim como em todos os setores profissionais, as mulheres vêm ganhando cada vez mais reconhecimento e valorização pelo importante trabalho que desempenham. Para falar mais sobre os desafios e as perspectivas das mulheres no agro, conversamos com as secretárias de Agricultura da região, que também comentaram a respeito de suas trajetórias na atividade.

Atualmente, em cinco municípios, as pastas de Agricultura são comandadas por mulheres: Cristine Tabarro Borgo exerce o cargo em Imbituva, Luciele Aparecida Scheidt em Fernandes Pinheiro, Rosângela de Fátima Rodrigues em Rebouças, Alice Lemos Glinski Staniszewski em São Mateus do Sul e Aline Braz de Oliveira em Paulo Frontin.

Cristine Tabarro Borgo, secretária de Agricultura de Imbituva:

Secretárias falam sobre valorização das mulheres na agricultura
Foto: Reprodução

“Eu sou filha de agricultores, e esse amor pelo campo e as relações constituídas, tanto adentro quanto porteira fora, eu aprendi dentro da minha casa. Há 23 anos, a mulher ou casava com um agricultor, ou saía para estudar. E a minha opção foi sair para estudar. Então, aos 17 anos, eu saí do interior de São Paulo e fui para Londrina. Fiquei lá por 8 anos. Tive uma oportunidade de trabalho aqui na região, no município de Guamiranga, em 2010. Eu vim morar ali e, dessa maneira, minha vida com a educação do campo começou. Eu sou formada em Pedagogia, e isso foi uma decisão muito assertiva.

Em 2014, eu iniciei um trabalho nos municípios de Guamiranga e Prudentópolis, com a diversificação das áreas cultivadas com o tabaco. E ali foi uma experiência incrível, profissionalmente, onde podemos ter resultados muito abençoados junto aos produtores.

Em 2021, eu fui procurada pelo então prefeito de Guamiranga, Marcos Henrique Chiadaria, que oportunizou meu retorno a Guamiranga como secretária da Agricultura, Pecuária e Meio Ambiente. E agora, em janeiro de 2024, recebi o convite do prefeito Bertoldo Rover para assumir a pasta de Agricultura no município de Imbituva.

Nós temos mulheres inspiradoras em cada canto do nosso município, em cada canto dos municípios da nossa região. Mulheres agricultoras, produtoras rurais, que são inspirações. Eu acredito que são pequenos passos, passos sustentáveis, que fortalecem o nosso papel no meio rural. Eu ainda quero estar aqui, viva e operante, quando a gente puder ver muito mais mulheres com seus cadastros no CAD/PRO, por exemplo, como titulares. Mulheres acessando o Pronaf, o Pronamp e diversas políticas públicas, elas como titulares. Uma decisão partilhada junto ao companheiro, claro, mas com autonomia e protagonismo de fato, em suas propriedades e na sociedade como um todo.

Então, nós, mulheres, estamos chegando aos poucos, quebrando barreiras e paradigmas. Tanto é que vocês estão observando, nos últimos anos, mulheres cada vez mais engajadas e obtendo esses espaços. Em 2021, quando assumi a Secretaria em Guamiranga, apenas eu e mais duas mulheres, no estado, ocupávamos essa cadeira como secretárias de Agricultura. E é um processo que tem, sim, seus desafios. Em alguns momentos, nós temos que provar, com muita maestria, o nosso potencial. Mas, no decorrer do processo, isso vai se tornando muito leve, porque, como o resultado acontece, esse respeito vem junto”.

Luciele Aparecida Scheidt, secretária de Agricultura de Fernandes Pinheiro:

Secretárias falam sobre valorização das mulheres na agricultura
Foto: Reprodução

“Aos 14 anos de idade (em 2005), iniciei na secretaria de agricultura do nosso município como menor aprendiz. Fiquei por 8 anos na Secretaria, onde já adquiri conhecimentos referentes a agricultura, nota fiscal de produtor, bem como a assuntos relacionados às necessidades dos nossos produtores.

Não me vejo hoje em outra atividade, pois o respeito é a consideração que adquiri por estes guerreiros do agro, que colocam sustento na mesa da nossa população, me motiva a cada dia buscar mais informações para poder auxiliar ainda mais os agricultores, que trabalham arduamente de sol a sol, movimentando e fortalecendo a economia do nosso município.

Permaneci fora da atividade durante um período, mas, ao receber o convite para retornar à Secretaria não hesitei em aceitar e retomar o trabalho voltado à agricultura.

Durante duas gestões permaneci na Secretaria como diretora de departamento e secretária, sempre buscando alternativas para melhor atender os nossos agricultores. Agora, continuando como Secretária de Agricultura, tenho certeza de que faremos um trabalho consistente e com grandes parcerias, buscando sempre melhorar o desempenho do nosso trabalho e também do agronegócio de Fernandes Pinheiro.

Com muito orgulho e alegria, aceitei este desafio, me sentindo honrada por estar à frente de uma pasta tão importante, fazendo parte da equipe de gestão, continuando e aprimorando o trabalho que vem sendo realizado.

As mulheres desempenham um papel crucial na produção alimentar, na gestão de recursos naturais e na economia local. No entanto, muitas vezes enfrentam barreiras significativas para acessar recursos, crédito e mercados.

Uma questão que acredito e penso que ainda precisa ser muito trabalhada é a igualdade de gênero e o empoderamento feminino. Por isso, a importância da união entre as mulheres no agro uma fortalecendo a outra somando resultados! Devemos todas transformar desafios e colher as conquistas”.

Rosângela de Fátima Rodrigues, secretária de Agricultura de Rebouças:

Secretárias falam sobre valorização das mulheres na agricultura
Foto: Reprodução

“Sou filha de agricultores familiares do Assentamento Santa Rosa I, no município de Abelardo Luz (SC). Desde a infância, estive diretamente envolvida com as atividades agrícolas, principalmente a lavoura e a produção de leite, ao lado de minha família.

Em 2010, graduei-me em Agroecologia pelo Instituto Federal do Paraná (IFPR) e, desde então, atuei na área de assistência técnica junto a cooperativas e associações no estado do Paraná. No ano de 2019, estabeleci-me em Rebouças, onde começou o meu trabalho com agricultores familiares e produtores orgânicos nesse município.

Minha trajetória profissional em Rebouças inclui atuação como bolsista do IFPR, participação no Projeto COOPERA PR e trabalho na cooperativa COMDAFAR. Nessas funções, desenvolvi atividades em parceria com a Secretaria de Agricultura de Rebouças, com foco no acompanhamento de famílias certificadas como orgânicas, na assessoria a produtores de ovos e agroindústrias familiares, bem como na organização e realização de cursos de formação para o fortalecimento da agricultura familiar e da produção sustentável.

Ao longo de minha trajetória profissional, sempre busquei aprimorar meus conhecimentos e habilidades para oferecer suporte qualificado aos agricultores familiares e cooperativas com os quais atuei. Minha experiência abrange a implementação de práticas sustentáveis, o fortalecimento da agroecologia e a promoção da certificação orgânica como estratégia para agregar valor à produção familiar e para a soberania das famílias.

Além disso, tenho-me dedicado à capacitação de agricultores por meio da organização e realização de cursos, oficinas e formações técnicas, com o objetivo de fomentar a autonomia produtiva e econômica das famílias rurais. Acredito que o associativismo e a cooperação são pilares fundamentais para o desenvolvimento rural sustentável e, por isso, direciono minha atuação para o fortalecimento dessas iniciativas.

Receber o convite para assumir a Secretaria de Agricultura, em novembro de 2024, foi uma surpresa para mim. Não esperava essa nomeação, porém aceitei o desafio porque acredito profundamente na força da agricultura e na relevância do meu trabalho junto às famílias agricultoras de Rebouças. Enxergo essa oportunidade como uma forma de ampliar minha contribuição para o setor e, especialmente, de trazer uma visão feminina para a gestão da agricultura. Embora, muitas vezes, não seja plenamente reconhecido, o trabalho da mulher no meio rural é essencial e precisa ser valorizado nas (e com) políticas públicas.

Dessa forma, minha missão profissional continua sendo a de contribuir para o fortalecimento da agricultura familiar e para o desenvolvimento de sistemas produtivos sustentáveis, promovendo a inclusão social e econômica dos produtores rurais. Estou comprometida em enfrentar os desafios dessa nova função com dedicação e empenho, buscando sempre o progresso e a valorização da agricultura, sempre pensando em uma Rebouças melhor e mais desenvolvida.

Acredito que a existência da mulher na agricultura é fundamental para o desenvolvimento do setor, embora historicamente sua atuação tenha sido subestimada. As agricultoras desempenham um papel essencial em todas as etapas da produção, desde o cultivo e manejo da terra até a gestão financeira das propriedades rurais. No entanto, ainda enfrentam desafios, como a falta de reconhecimento, o acesso limitado a recursos e a menor representatividade em espaços de decisão. Fortalecer a participação feminina na agricultura significa não apenas valorizar esse trabalho, mas também promover a autonomia econômica, o empoderamento e a equidade de gênero no meio rural. A implementação de políticas públicas voltadas para a capacitação, a inclusão e o incentivo às mulheres agricultoras é essencial para construir um setor mais justo, sustentável e produtivo”.

Alice Lemos Glinski Staniszewski, secretária de Agricultura de São Mateus do Sul:

Secretárias falam sobre valorização das mulheres na agricultura
Foto: Reprodução

“Vim de uma família de agricultores e me mantive, desde pequena, trabalhando nesse ramo, em que meus pais nos trouxeram o sustento através dessa atividade. A agricultura, para mim, representa uma forma de subsistência digna, honesta, que traz um resultado visível e benéfico para a economia e, também, considerando que os alimentos vão ao mercado para ser consumido por muitas outras famílias, o que é fundamental para o desenvolvimento econômico e social.

Então, no decorrer do ano de 2024, surgiu a oportunidade de eu assumir a Secretaria de Agricultura, o que, para ser sincera, me encorajei a aceitar, pela familiaridade que tenho com o ramo e a importância que sei que ele tem, se incentivado e fomentado de forma correta, o nosso município possui extensa área rural e temos ainda diversas culturas plantadas na região.

Com isso, vislumbrei uma nova oportunidade de colaborar com a população rural, qual eu sempre tive grande admiração. Com essa oportunidade, percebi que posso fazer mais, buscando recursos, incentivos, treinamentos e capacitação aos produtores rurais, que atuam nesse ramo tão importante da nossa economia que é a agricultura/agropecuária. Então, meu objetivo ao assumir a Secretaria, é, além de incentivar cada vez mais mulheres para carreiras ligadas à agricultura, também auxiliar na criação de políticas públicas, que são imprescindíveis para a conscientização, valorização e reconhecimento do papel das mulheres no setor produtivo.

É perceptível que as mulheres estão cada vez mais presentes nos mais diversos setores, o que deixa cada vez mais evidente a capacidade, habilidade e inteligência que temos para encaramos os desafios que surgem pelo caminho. Pode-se dizer que o protagonismo feminino na agricultura promove a equidade de gênero e, assim estimula o desenvolvimento econômico e sustentável dos negócios rurais. Além de contribuir para o avanço da produção alimentícia, diversas mulheres assumem posições de liderança na sucessão familiar, dando continuidade e, até muitas vezes, inovando os negócios da produção agrícola ou agropecuária. Acredito que isso é uma característica que diferencia as mulheres: a criatividade, a curiosidade e a busca pelo novo, fazem com que tragam essa inovação e até novas conveniências para dentro das propriedades rurais e de seus produtos finais.

Sabemos que ainda é preciso, o mundo e a sociedade, num todo, evoluir com relação à nossa figura feminina dentro de diversos negócios, e um deles é na agricultura, principalmente quando se trata de papéis mais relevantes, em que, muitas vezes, por conta da necessidade ou oportunidade, nos tornamos as protagonistas. Nos últimos anos, as mulheres assumem papel de destaque no agronegócio brasileiro e contribuem para o desenvolvimento do setor com visão estratégica, atenção aos detalhes e novos estilos de gestão, e isso precisa ser encarado como algo comum, pois historicamente, o agronegócio era um setor predominantemente masculino. Mas cabe destacar ainda que, as mulheres sempre desempenharam funções essenciais nas propriedades rurais, mas cujo reconhecimento sempre ficou ofuscado, e isso realmente precisa mudar. A conscientização das pessoas é essencial, porque no dia a dia isso já é uma realidade que se torna cada vez mais comum.

O caminho para esse reconhecimento é longo e vem sendo construído com muita luta por gerações, e possivelmente ainda seguirá com as novas gerações de mulheres. Por isso, devemos valorizar o papel relevante das mulheres nas unidades produtivas, pois, além de trazer melhores perspectivas nas sucessões, criando mais possibilidades de manter a agricultura familiar, a agropecuária e mesmo a grande produção agrícola em plena atividade e desenvolvimento, isso se tornou um caminho sem volta rumo ao futuro, em que as mulheres se destacam cada vez mais. Apenas se faz necessário o devido reconhecimento e oportunidade para demonstramos do que somos realmente capazes”.

Aline Braz de Oliveira, secretária de Agricultura de Paulo Frontin:

Secretárias falam sobre valorização das mulheres na agricultura
Foto: Reprodução

“A agricultura está na minha vida mesmo antes de nascer, meus pais são produtores rurais, cresci nesse meio rural. A agricultura foi o que sou hoje, graças a minha mãe, que trabalhou bastante na agricultura, consegui me formar em medicina veterinária, continuando no ramo da agricultura.

Trabalhei como professora na Casa Familiar Rural, em loja agropecuária e já havia trabalhado na Prefeitura antes, mas resolvi continuar na atividade pecuária de leite. Neste novo mandato, com o prefeito Ireneu e o vice Sebastião, tive o prazer de ser convidada a assumir a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente, e tem sido uma experiência incrível. Essa oportunidade também mostra a capacidade das mulheres, não só no campo, mas também na gestão. Acredito que isso deveria ser algo, inclusive, mais intensificado, com cursos e formações, para que nós, mulheres, passemos a dominar as questões que envolvem a gestão do campo.

O reconhecimento das mulheres na agricultura é um passo importante para valorizar sua contribuição vital no setor. No entanto, ainda há desafios, como o acesso desigual a recursos e oportunidades, além de barreiras culturais. É crucial investir em políticas públicas que promovam igualdade de acesso a crédito, educação e tecnologia. Isso impactará positivamente as perspectivas futuras, ampliando a participação feminina e promovendo um ambiente mais inovador e sustentável. Com mais inclusão, o setor agrícola se torna mais forte e diversificado”.

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