Sthefany Brandalise
Teixeira Soares é um dos pontos de estudo do Projeto Caburé-Acanelado, iniciativa voltada para a pesquisa e monitoramento da espécie Aegolius harrisii, uma coruja rara e pouco conhecida no Brasil. A ação é coordenada pela Dra. Priscilla Esclarski, com apoio do Dr. Erlend Ragnhildstveit, Dr. Roar Solheim e Me. David H. Johnson, e conta com parcerias internacionais, como o Global Owl Project e o patrocínio de pesquisadores que acompanham o trabalho de perto. Além disso, a Prefeitura de Teixeira Soares também fornece apoio fundamental para a execução das atividades mensais.
O primeiro ninho da coruja caburé-acanelado foi registrado em 2020. Já as conversas para colaboração com o grupo de observadores Sputnik tiveram início em 2021/2022. Em 2023 ocorreu a primeira visita à área de pesquisa e, em 2024, o projeto passou a atuar de forma efetiva em Teixeira Soares.
A coordenadora da pesquisa, Dra. Priscilla Esclarski, conta que a coruja estudada possui características marcantes que a diferenciam de outras espécies. “A coruja caburé-acanelado é de pequeno porte e tem uma coloração bem diferente. Ela é mais amarelinha, com algumas manchas no disco facial pretas. Ela é pequena e muito discreta, então encontrar ela é difícil, por ela ter um período específico de vocalização e atividade noturna”, explica.
Segundo a pesquisadora, o interesse em estudar essa coruja já era antigo. “A informação de que ela ocorria em Teixeira Soares chegou através de observadores de aves da cidade, do grupo Sputnik, que encontraram alguns pontos de ocorrência dessa coruja”.

Na foto, Priscilla e os pesquisadores voluntários Ana e Arthur – Foto: Leticia H. Pabis
Um dos pontos mais complexos da pesquisa é o processo de captura. Priscilla detalha como isso acontece: “a captura é noturna e a gente utiliza redes de neblina, que são semelhantes às redes de pesca, mas são extremamente finas e tornam-se invisíveis para a ave. Depois da captura fazemos todo o procedimento de coleta de sangue, de medidas e anilhamento e devolvemos para a natureza. A gente capturou 5 indivíduos, todos dentro do período reprodutivo, que é quando ela está mais ativa”.
A presença do pesquisador norueguês, Erlend Ragnhildstveit, trouxe novas perspectivas e reforçou a credibilidade do projeto. “Ele é o principal financiador que colabora para que a pesquisa de campo seja realizada. Esse contato veio de uma apresentação de trabalho no World Owl Conference, onde apresentamos dados obtidos pelo grupo Sputnik, e ele ficou muito interessado. Erlend quis colaborar lá da Noruega, onde também faz as análises genéticas desses indivíduos”, conta Priscilla.
Durante a visita inicial, em junho, Erlend esteve presente e reforçou a relevância da iniciativa. “Desde que conheci o projeto, tive um interesse muito grande em unir os interesses de pesquisadores e da comunidade local em prol de uma espécie. Acredito que este projeto pode se tornar um modelo para o mundo de como atrair atenção para espécies pouco conhecidas”.
Além dos parceiros internacionais, o poder público local desempenha papel relevante, pois a Prefeitura de Teixeira Soares fornece apoio para a execução das atividades. “Outro patrocinador importante é o Global Owl Project, um projeto internacional que tem a proposta de auxiliar pesquisadores, principalmente no início de carreira, a trabalhar com corujas em seus países”, diz Priscilla.
“O nosso principal objetivo é contribuir com informações sobre a biologia e a história natural dessa espécie para então entender se ela está ameaçada ou não e o que a gente precisa fazer para preservá-la”
– Dra. Priscilla Esclarski
Por se tratar de uma espécie rara, a coleta de informações precisa ser feita ao longo de anos, o que reforça a necessidade de monitoramento contínuo. “Atualmente, essa espécie é classificada como uma espécie pouco preocupante em relação à ameaça mundial, mas a gente não sabe o seu tamanho populacional, não conhece sobre os seus hábitos reprodutivos, etc. Para conseguir reclassificar adequadamente em relação aos níveis de ameaça e traçar medidas de conservação adequadas, a gente precisa avançar nesse conhecimento. O nosso principal objetivo é contribuir com informações sobre a biologia e a história natural dessa espécie para então entender se ela está ameaçada ou não e o que a gente precisa fazer para preservá-la”, explica Priscilla.
Um dos diferenciais da pesquisa é o envolvimento com a comunidade local. “A gente trabalha com produtores rurais que cedem espaço para que a gente faça pesquisa em suas propriedades. A gente trabalha junto com a população, com os observadores de aves e isso é super importante porque a população passa a conhecer essa espécie e ter o senso de pertencimento às ações do projeto, tornando-se atores da preservação, que é tão necessário para projetos de conservação”, finaliza Priscilla.