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Vírus forçou as malharias da pequena cidade do Centro-Sul do Paraná a despertarem a criatividade. Novos produtos, tecnologia e parcerias fazem parte do cardápio de alternativas para se sobressair em meio à crise econômica que veio com a Covid-19
AEN

A crise econômica decorrente da pandemia do novo coronavírus obrigou o polo de malhas de Imbituva, na Centro-Sul do Paraná, a se reinventar. O poderoso vírus forçou as fábricas de blusas, jaquetas e casacos de tricô a paralisar a produção, as lojas a baixarem as portas e os clientes fiéis a desistirem das compras. A Feira das Malhas, principal impulsionador de vendas e sucesso de público e renda, foi cancelada. E o inverno pouco rigoroso terminou de forjar o cenário desanimador.

O contexto desalentador, porém, atiçou a criatividade dos empresários das 17 malharias que formam a Associação das Malharias de Imbituva (Imbitumalhas). É essa história de superação que será contada neste capítulo da série de reportagens que está mostrando produtos feitos no Paraná. 

O setor industrial de confecção, têxtil e artefatos em couro que, de acordo com dados da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), é composto por 4.738 empresas e gera 65,9 mil empregos. É o terceiro segmento da indústria do Estado em geração de postos de trabalho, perdendo apenas para os ramos alimentício e da construção civil.

Proprietário da Malhas Charme, Douglas Vicente Penteado conta que precisou de dez dias para colocar a cabeça em ordem e pensar no que fazer logo que a pandemia estourou no Paraná, em março. Reflexão necessária em busca de novos horizontes que garantissem a manutenção do quadro funcional, composto por 15 pessoas divididas nas diferentes etapas do processo produtivo.

A primeira medida foi inverter a lógica. Se os consumidores não podiam chegar até a malharia, o jeito era alcançar os clientes usando a tecnologia como aliada. E dá-lhe mensagens carregando o catálogo virtual da loja por meio de aplicativos. Foram mais de mil em um curto período de dias. Deu resultado. Ajudou a desencalhar o estoque de peças temporal feito especialmente para a Feira das Malhas que não existiu – o evento de aproximadamente 30 dias ocorre normalmente entre abril e maio.

DIRETO DO JAPÃO – O “pulo do gato”, contudo, contou com uma mãozinha do Japão. Um fornecedor de máquinas, representante de uma indústria japonesa, apresentou a Douglas um molde de máscara para proteção contra vírus que estava fazendo sucesso no Oriente. De lã, com fio duplo e fino, bem compacto, para garantir a segurança, e adaptável ao rosto, confirmando a vedação.

Para sacramentar o pacote antiviral, um forro de tecido pode ser aplicado na máscara. Tudo com a consultoria da filha mais velha do empresário, estudante de Medicina em Cascavel, na Região Oeste.

O formato fez tanto sucesso que a malharia de Douglas chegou a confeccionar 1,5 mil máscaras por dia no auge dos casos de contaminação. Assim, da crise surgiu um novo produto que garantiu o lucro do empresário e a manutenção dos postos de trabalho. 

“Posso dizer que este ano, para os negócios, foi melhor do que o ano passado. Aprendemos muito e estamos esperando um crescimento ainda maior em 2021”, diz ele, há 30 anos no ramo, um típico exemplo de gente influenciada pelos passos dos pais. No caso, a mãe costureira e o pai, um alfaiate vaidoso que se entretinha criando roupas nas horas vagas. “Nosso maior patrimônio são os nossos funcionários. Alegria muito grande de poder mantê-los por aqui”, acrescenta.

Entusiasmado com as iniciativas, Penteado faz novas projeções para o pós-crise. Quer ser mais visto, melhorar a comunicação e abusar das alternativas tecnológicas, como a incorporação do comércio eletrônico. “Temos uma carteira grande de clientes, a questão é ser mais criativo”, conta.

A produção mensal da Malhas Charme gira em torno de 2 mil peças por mês.

NOVOS TEMPOS – A tecnologia também foi a grande aliada da Malharia Canaã Tricot. Para salvar as vendas e diminuir o prejuízo causado especialmente pelo cancelamento da feira, o empresário Verli Moleta intensificou a parceria com grandes empresas. Aumentou a quantidade de peças que produz para grandes marcas do País que, por uma questão contratual, prefere manter os nomes em sigilo.

Isso foi um passo. O outro foi se aproximar de empresas com um comércio eletrônico desenvolvido e forte, que pudessem divulgar os modelos criados pela malharia de Imbituva. A estratégica garantiu atravessar o mar mais revolto sem demissões. A Canaã conta atualmente com seis funcionários. 

“Temos alguns indicativos de que vai melhorar muito no pós-pandemia. Vamos jogar a feira para maio esperando pela vacina. A tendência é que ano que vem ela aconteça. Também diminuíram as importações de roupas da China e as compras de produto no Paraguai por causa do dólar alto”.

“Tenho certeza de que tudo vai melhor, assim como a economia brasileira”, afirma o empresário, que há 16 anos acumula também a presidência da Imbitumalhas. “Agora é torcer para o inverno ser bem frio também”, completa, rindo da própria sorte.

FEITO NO PARANÁ – Criado pelo Governo do Estado, o projeto busca dar mais visibilidade para a produção estadual. O objetivo é estimular a valorização e a compra de mercadorias paranaenses. O projeto foi elaborado pela Secretaria do Planejamento e Projetos Estruturantes e quer estimular a economia e a geração de renda. Empresas paranaenses interessadas em participar do programa podem se cadastrar pelo site www.feitonoparana.pr.gov.br

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