Pesquisar
Close this search box.

Irati PR, 20:18, 25°C

Imagem: Reprodução

Letícia H. Pabis

A globalização e o acesso à internet tornaram o conhecimento da cultura mundial muito mais amplo, especialmente para países como o Brasil. Hoje, é sempre possível escutar músicas pop em inglês, assistir séries coreanas e comer pratos típicos de outras culturas no nosso dia a dia, coisas que se tornaram extremamente populares, principalmente entre os brasileiros mais jovens. Essa diversidade e riqueza cultural é um dos maiores bens do nosso país, mas que deixa cada vez mais exposto uma triste realidade: enquanto conhecemos e consumimos o que o mundo tem a oferecer, a cultura brasileira ainda é amplamente subvalorizada fora de nossas fronteiras.

No Brasil, somos bombardeados por filmes de Hollywood, hits das paradas americanas e tendências de moda ditadas por países europeus. Isso é resultado de muitos anos de domínio cultural de nações que souberam usar a indústria do entretenimento e da comunicação como ferramentas de expansão de suas identidades e tradições. Aprendemos a celebrar o Halloween, a consumir fast-food, a assistir sitcoms e até mesmo a utilizar gírias estrangeiras.

E enquanto isso, a grande maioria dos gringos conhecem do Brasil apenas o samba, o carnaval e o futebol. Nosso cinema luta para ganhar espaço nas premiações internacionais, nossa música é reduzida a uma “exotização” e nossa literatura raramente recebe traduções para línguas de grande circulação.

Essa assimetria não acontece apenas por desinteresse, mas também por uma questão estrutural. O Brasil investe pouco em diplomacia cultural e nossas produções artísticas enfrentam dificuldades para alcançar mercados externos, enquanto nações como a Coreia do Sul ou os Estados Unidos conseguiram transformar sua cultura em um produto global.

A valorização da cultura é também a valorização de um povo. Quando o Brasil é reduzido a estereótipos, perdemos a oportunidade de mostrar a diversidade de vozes, histórias e belezas que compõem o nosso amado país. Mais do que isso, somos colocados em uma posição passiva, onde consumimos o que nos é oferecido, mas raramente somos vistos como agentes culturais globais.

No dia 05 de janeiro, ficou escancarado para ao mundo todo ver quanto potencial o Brasil e sua cultura tem, quando a atriz e escritora Fernanda Torres se tornou a primeira brasileira a ganhar o Globo de Ouro na Categoria de Melhor Atriz em Filme de Drama, ultrapassando grandes nomes da cinematografia mundial como Angelina Jolie, Kate Winslet e Nicole Kidman.

Alguns dias antes, Fernanda havia expressado que já se sentia uma vencedora somente por ser indicada, e que tinha certeza que não levaria o prêmio para casa. Mas, quando recebeu o troféu das mãos de Viola Davis e dedicou o prêmio à mãe, Fernanda Montenegro, uma das maiores atrizes brasileiras, ela se transformou em um marco histórico, digno de comemoração do Hexa, mas também um lembrete do imenso talento que o Brasil possui e que, muitas vezes, não recebe o devido reconhecimento acima da linha do Equador.

Fernanda também foi a segunda brasileira a ser indicada na categoria de Melhor Atriz no maior prêmio do cinema mundial, o Oscar, a primeira sendo a sua mãe. Com esta indicação, ela pode se tornar a primeira latino-americana a receber o prêmio.

Fernanda Torres, com seu brilhantismo e autenticidade abriu uma porta que já deveria estar escancarada. Cabe a nós, enquanto nação, trabalhar para que ela permaneça aberta e para que outros artistas, escritores, músicos e cineastas possam atravessá-la e mostrar que o Brasil é muito mais do que estereótipos. Somos uma potência cultural, e é hora de o mundo saber

Leia outras notícias