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Insetos se deslocam pela Argentina e destino mais provável até o momento é o Uruguai. Gafanhotos não fazem mal ao ser humano e nem são vetores de doenças. Controle deve ser feito e indicado pelas autoridades

A nuvem de gafanhotos que se desloca pela Argentina e se aproxima do Brasil e do Uruguai chegou ao território argentino no último fim de semana e, desde então, há monitoramento de autoridades e produtores do país vizinho para avaliar estragos e para qual direção os insetos vão seguir.

Diante do risco, o governo brasileiro já prepara um plano de ação para controlar a nuvem de gafanhotos, que pode causar prejuízos a lavouras e pastagens.

De onde surgiu a nuvem?

A informação mais precisa até o momento é de que a nuvem de gafanhotos se formou no Paraguai. Como é um fenômeno espontâneo e que só é possível monitorá-lo depois que se forma, não dá para saber em que cidade exatamente isso ocorreu.

 

Nuvem de gafanhotos ataca lavouras na Argentina — Foto: Divulgação/Governo da Província de Córdoba

O que se sabe é que os insetos entraram no território da Argentina pela província de Formosa, que faz divisa com o Paraguai, na última sexta-feira (19).

O gafanhotos, da espécie Schistocerca cancellata, nativa da América do Sul e, segundo o governo argentino, há registros dela no país desde 1891.

Os insetos trouxeram muitos problemas para lavouras da Argentina e do Brasil nas décadas de 1930, 40 e 60. Desde 2015, os argentinos voltaram a relatar a formação de nuvens de gafanhotos.

Por que ela se forma?

O pesquisador Ivo Pierozzi Júnior explica que os insetos têm um mecanismo genético de gregarismo, ou seja, agregados. É um comportamento natural dos gafanhotos viverem próximos, especialmente na época de reprodução.

“Se encontram condição de reprodução, sobrevivência e alimentação, elas se agregam mais, para ter mais chances de se reproduzir. É como se aproveitassem o momento favorável para potencializar (o aumento da população). É uma 'tempestade perfeita."

Após esse ciclo de expansão, a tendência é que os insetos se dispersem, a chamada fase isolada, e o nível populacional se estabilize. Os gafanhotos podem viver de meses até um ano, tudo varia conforme a espécie, o clima e as condições do enxame.

Que estragos causaram na Argentina?

As principais regiões atingidas na Argentina são as províncias de Santa Fé, Formosa e Chaco, onde existe produção de cana-de-açúcar e mandioca e a condição climática é favorável, segundo o Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar argentino (Senasa).

 

Estragos feitos por gafanhotos em uma lavoura de milho da Argentina — Foto: Divulgação/Senasa

Os gafanhotos se alimentam de vegetação, seja ela nativa ou plantada, então qualquer lavoura, pastagem ou área de floresta pode ser consumida pelos insetos.

Em aproximadamente um quilômetro quadrado podem ter até 40 milhões de insetos, que consomem em um dia pastagens equivalentes ao que 2 mil vacas ou 350 mil pessoas comem, afirma o engenheiro agrônomo argentino Héctor Medina, chefe de monitoramento do Senasa.

Apesar da imagem impressionar, causando pânico nas pessoas, os argentinos reforçam que o inseto não traz nenhum risco aos humanos e nem é vetor de doenças.

Onde está agora e pode chegar ao Brasil?

No último boletim divulgado pelo governo da Argentina na quarta-feira (24), a nuvem estava na cidade de Corrientes, porém os técnicos perderam o paradeiro dos insetos e não há uma localização precisa.

No início da quarta-feira, Medina, do Senasa, disse que a nuvem de gafanhotos estava a 130 km do município brasileiro de Barra do Quaraí, no oeste do Rio Grande do Sul, e de Bella Unión, no Uruguai. Há um risco, em menor escala, dos insetos chegarem ao oeste de Santa Catarina.

Movimentação da nuvem de gafanhotos pela Argentina — Foto: Guilherme Pinheiro/G1

O destino da nuvem ainda é incerto. O mapa de movimentação dos insetos mostra que estão seguindo em direção ao Sul, o que aumentaria as chances deles migrarem para o Uruguai.

Neste momento, as autoridades brasileiras também estão em alerta porque o deslocamento depende muito do clima dos próximos dias. Mudanças na direção dos ventos e temperaturas mais quentes poderiam trazer a nuvem para o país.

Mas, até o momento, meteorologistas afirmam que a região Sul do Brasil deve ter clima frio e chuvoso, o que afastaria esses insetos do território brasileiro.

Segundo as informações da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul, até quarta-feira (24), os ventos favoreciam a chegada dos insetos no estado. Com o avanço de uma frente fria e da chuva, o rumo foi alterado e a nuvem deve permanecer na Argentina por enquanto.

Nenhum produtor rural do Rio Grande do Sul avistou o inseto na Fronteira Oeste.

Como se mata tantos gafanhotos?

O controle mais efetivo conhecido é o uso de agrotóxicos. Segundo o pesquisador da Embrapa Soja Adeney de Freitas Bueno, uma forma de combater a nuvem de gafanhotos é utilizar inseticidas específicos nas plantações para matar os insetos.

"Porém, o uso de inseticida é paliativo e pode não ter um resultado tão bom, pois são muitos insetos, que voam de forma muito rápida a longas distâncias, em grande quantidade", explica o pesquisador.

O uso desses pesticidas deve ser feito e indicado pelas autoridades, pois a utilização de agrotóxicos é controlada, exige receita e pode causar danos à saúde das pessoas e de outros insetos, como as abelhas. Por isso, a recomendação é para que a população não tome a iniciativa.

Como o Brasil está se preparando para a chegada da nuvem?

Desde terça-feira (23), o Ministério da Agricultura está em contato com as autoridades da Argentina para saber sobre o deslocamento da nuvem de gafanhotos.

Nesta quinta-feira, o ministério declarou emergência fitossanitária no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. A medida garante a contratação de profissionais temporários para controle da praga e facilita a importação de pesticidas.

O ministério também pediu que a Superintendências Federais de Agricultura e aos órgãos estaduais de Defesa Agropecuária para que realizem o monitoramento das lavouras e orientem os agricultores a adotarem eventuais medidas de controle da praga, caso a nuvem chegue ao Brasil.

O governo brasileiro também estuda outras medidas para controlar os insetos. O sindicato que representa as empresas de aviação agrícola (Sindag) colocou à disposição do Ministério da Agricultura os 426 aviões pulverizadores que o Rio Grande do Sul possui.

“A aviação agrícola é considerada mundialmente uma das principais armas no combate a nuvens de gafanhotos”, disse em nota o diretor-executivo do Sindag, Gabriel Colle.

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