Por Marcello Richa
No início de maio a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que institui a Política Nacional de Leitura e Escrita (PNLE), que agora foi encaminhada para a sanção presidencial e prevê a elaboração, a cada 10 anos, do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL). Sem dúvidas um avanço para a implantação de uma política pública permanente e mais que necessária de incentivo à leitura no país.
Em 2016 escrevi um artigo que destacava a realidade da leitura dos brasileiros. Na época foram divulgados os dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, que mostrou que apenas 56% dos brasileiros possuem o hábito de ler e que temos um índice de leitura de apenas 4,96 livros por ano, sendo que esse número cai para 2,9 livro/ano caso desconsiderarmos os livros didáticos.
Outro dado alarmante daquela pesquisa foi que 30% dos entrevistados jamais haviam comprado um livro em suas vidas e 74% não tinham adquirido nenhum nos últimos três meses. Desde então se passaram dois anos e a realidade não mudou muito, sendo que em fevereiro o Banco Mundial e o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) apontaram que o país levará aproximadamente 260 anos para alcançar a proficiência em leitura de estudantes de países mais desenvolvidos.
O problema que enfrentamos nessa área é enorme, pois é impossível pensar em educação de qualidade sem o hábito da leitura, uma vez que por meio dela promovemos o desenvolvimento intelectual, linguístico e social que permitem o exercício pleno da cidadania. Ou seja, precisamos mudar essa realidade com urgência.
Atualmente contamos com 7.166 bibliotecas cadastradas no Sistema Nacional de Bibliotecas do Ministério da Cultural, o que resulta na media de uma unidade para cada 30 mil habitantes, longe, por exemplo, da proporção de um a cada 19 mil que existe nos Estados Unidos.
Além dos problemas de unidades físicas, também precisamos expandir os horizontes em outros segmentos, pois vivemos em um período em que a internet e as redes sociais tornaram-se parte rotineira na vida dos jovens. Dessa forma, a criação de plataformas para as redes com bibliotecas públicas virtuais surgem como uma opção que facilitaria o acesso, reduziria custos e ofereceria uma nova maneira para incentivar a leitura.
Apesar da validade de disponibilizar diferentes opções para a leitura, elas pouco adiantam se não conseguirmos despertar o interesse nessa atividade. Para isso é cada vez mais urgente à ampliação das políticas relacionadas à leitura nas escolas e na promoção de campanhas institucionais, mostrando que essa prática não deve ser encarada como uma obrigação, mas como um momento de diversão e lazer que traz cultura e informação.
A leitura amplia nossas habilidades cognitivas, conhecimento, imaginação e permite um entendimento maior da nossa realidade, sendo um fator fundamental para a disseminação de informação e construção da cidadania. Tornar este hábito parte do cotidiano dos brasileiros, especialmente dos jovens, é essencial para a tão desejada melhoria do nosso sistema de ensino e promoção de uma sociedade cada vez mais consciente, crítica e capacitada.
Marcello Richa é presidente do Instituto Teotônio Vilela do Paraná (ITV-PR)