O Instituto Água e Terra (IAT), através do Escritório Regional de Irati (ERIRA), verificou as denúncias de irregularidades ambientais cometidas pela empresa Indústria e Comércio Dallegrave S A Madeiras e Papel, no município de Irati. E informa que a fábrica necessita de uma nova licença ambiental, desta forma, deve paralisar as atividades. Empresa diz que não há irregularidades.
A Associação de Moradores da Colina Nossa Senhora das Graças, que engloba cerca de 150 famílias, tem reivindicado sobre mau cheiro forte no final da tarde e no início da manhã, fumaça e barulho à noite, que saem da fábrica e causam transtornos e geram prejuízos para a saúde dos que moram no entorno.
Inez Kowaski, que faz parte da diretoria da Associação, diz que estes problemas já acontecem há anos, e está mais frequente nos últimos dias. “Temos conhecimento que muitas pessoas tem sentido, por causa da fumaça, dor nos olhos, dor de cabeça, e quanto ao barulho, não é possível dormir à noite, fica um zumbido. Também, no tempo que a fábrica estava fechada muita gente construiu novos imóveis no bairro, porque é um bairro muito bom de morar, mas a partir do momento que eles (empresa) estão reabrindo, trabalhando, sentimos uma desvalorização muito grande”.
A moradora ainda relata que já foram a Prefeitura, ao Ministério Público, ao IAT, para encontrar uma solução. “Sabemos que a empresa vai gerar empregos, não somos contra o emprego, somos a favor das pessoas trabalharem, mas desde que seja regularmente, e não é o que acontece. Queremos que seja resolvido o problema, mas chega de promessas”.
De acordo com o IAT, a empresa obteve autorização ambiental para testes de produção e a mesma encontra-se vencida no momento. O Instituto informa que o empreendimento atuou de forma lícita no período de testes, porém necessita da emissão de uma nova licença ambiental. Por conta disso, a empresa, caracterizada como potencialmente poluidor do meio ambiente, deve paralisar suas atividades.
Ainda, o IAT ressalta que o empreendimento pode apresentar novo pedido de licenciamento, o qual será analisado pelo órgão ambiental estadual para a possibilidade de reativação das atividades.
ESCLARECIMENTO DA EMPRESA
A empresa Indústria e Comércio Dallegrave S A Madeiras e Papel informa que está com a licença teste em dia, que é o trabalho que realiza neste momento, de manutenção e limpeza, ainda não faz a operação dos serviços.
Em relação ao questionamento do IAT sobre a licença vencida, Patrícia da Luz, representante administrativa da empresa, explica que “até por um equivoco do sistema ou do nosso pessoal interno, está vencida uma licença de operação solicitada em 2018, que não foi nem deferida nem indeferida e, provavelmente, mudou funcionário ou gestão. Na sequência, a gente entrou com a licença teste porque quando foram retomadas as atividades, nos últimos dois anos, foram utilizados apenas para limpeza, manutenção e montagem da máquina, que é muito complexa e demora a ser testada, então, para esta modalidade a gente sempre esteve com a licença em dia e, em nenhum momento, ficamos sem a licença para este tipo de funcionamento que temos hoje. O IAT falar que a gente está sem licença e não pode produzir, é em virtude desse desencontro de informações”.
Sobre o mau cheiro que a fábrica produz, que é a maior reclamação dos moradores próximos, Patrícia comenta que houve, sim, alguns dias com mau cheiro, devido a um trabalho que realizam na piscina de contenção que ficava armazenada água e lodo e precisou ser esvaziada, que era um trabalho utilizado na antiga fábrica que operava no local. “Hoje, a empresa está com outro sistema, vai estar tudo canalizado e não vai mais precisar utilizar essa piscina de contenção que causa o mau cheiro, e como precisou ser esgotada, foram vários dias para isso acontecer, e não dias sequentes. Mas os moradores podem ficar tranquilos que este mau cheiro não vai mais ocorrer”, comenta.
Ela também disse que a empresa está em contato com os moradores, eles já foram até o local e receberam explicações sobre os acontecimentos, que neste período de limpeza e manutenção pode haver o mau cheiro, mas quando a empresa estiver operando não haverá este problema. “Eles podem ficar tranquilos que a gente não vai administrar nada fora da lei, não tem nem porque e não tem cabimento. São milhões de reais investidos para geração de emprego, então, a gente vai estar sempre dentro da norma e da lei”, completa.
De acordo com Patrícia, a empresa vai operar com a produção de bobinas de papel- rolos utilizados no centro do papel higiênico e do papel toalha, e deve gerar de 30 a 40 empregos diretos, e vai trabalhar dentro daquilo que for permitido, e já possui uma equipe técnica ambiental e segurança do trabalho que efetuam os laudos de ruído, fuligem e fluentes. “Estamos nos reportando sempre aos órgãos e mostrando os testes, mas é algo muito complexo, não são poucos dias ou meses, é tempo para gente testar, e próprio IAT vai aferir e a gente poder ver se os laudos estão corretos ou não”.
Ainda, Patrícia destaca que a bobina que será produzida pela fábrica já tem destino, ou seja, já tem empresa para comprar o produto. “Essa produção já está praticamente vendida, com empresários que já se comprometeram com a empresa de que quando começar a produção já terá a destinação. Isso dá uma garantia para os empregados, para a sociedade e para o empresário. Neste atual cenário de pandemia, não é fácil gerar emprego e investir muito dinheiro”.
A empresa também já deixou aberto para a imprensa uma visita na fábrica para conhecer melhor os trabalhos.
PREFEITURA
A Prefeitura de Irati enviou uma nota sobre o alvará da empresa. De acordo com o secretário de Finanças, Juarez Miguel da Silva, “em 2018, a empresa conseguiu a consulta prévia via judicial. Na sequência, apresentou toda a documentação para emissão de alvará de localização e funcionamento, apenas para testes. A partir daí a prefeitura renovou o alvará para que a empresa pudesse dar sequência nos seus trabalhos, necessitando, no entanto, de renovação das licenças inerentes ao seu ramo de atividade”.