Esther Kremer
Nos últimos meses, a região tem enfrentado constantes quedas e oscilações no fornecimento de energia elétrica, impactando diretamente a produção agrícola, especialmente os fumicultores. O fato tem acontecido durante o período de secagem do fumo, que demanda consumo contínuo de energia em estufas, as interrupções no fornecimento prejudicaram a qualidade do produto e resultaram em perdas financeiras.
A produção de tabaco da safra 2023/2024 registrou 508 mil toneladas, cultivadas em 509 municípios da Região Sul do Brasil. São João do Triunfo, foi o segundo maior produtor brasileiro com 17,5 mil toneladas e a quinta colocação ficou com Rio Azul, com produção de 12,8 mil toneladas. No cenário paranaense, São João do Triunfo ocupa o primeiro lugar no ranking e o segundo lugar ficou com Rio Azul. Com as quedas de energia, esse volume de produção pode ser afetado.

Diante do cenário de quedas de energia, o prefeito de Rio Azul e presidente da Amcespar, Leandro Jasinski, falou sobre as oscilações no município e como isso tem afetado a produção. “Teve muito produtor que foi prejudicado com a queda de energia, com essas oscilações que estavam acontecendo, porque bem nesse período da secagem do fumo não pode ter essa interrupção, porque já altera a qualidade do produto, cada estufada leva em torno de sete até nove dias para ter a cura completa do fumo. Ficar sem energia já ocasiona prejuízo”, comenta.
Em São João do Triunfo, a situação ocorreu com frequência e o prefeito Mario Cezar da Silva, falou sobre o assunto “a recorrência de falta de energia pela Copel tem prejudicado uma das principais cadeias produtivas do nosso município. Há anos a Prefeitura realiza tratativas administrativas para sanar o problema. Entretanto, isso tem sido ineficaz, pois os problemas ainda continuam trazendo prejuízos aos fumicultores que precisam da energia elétrica para secar o fumo. Medidas serão tomadas para a defesa da classe dos fumicultores, será encaminhado ofício para o diretor geral da companhia de energia, senhor Daniel Pimentel Slavieiro para uma reunião que abordará sobre o problema da falta de luz no município. São João do Triunfo é o maior produtor de tabaco do Paraná e o segundo do país. Geram-se montantes vultuosos em impostos dessa cadeia produtiva”, disse.


Prudentópolis, cidade que ocupou a 10ª colocação no ranking de maiores produtores de tabaco do Brasil, também teve o prefeito Adelmo Klosowsk se reunindo com representantes da Copel para tratar do problema. Segundo ele, as oscilações e quedas de energia também afetam produtores de leite e indústrias locais, comprometendo a economia municipal. “A falta de energia pode resultar em perdas significativas para essas atividades. Durante o encontro, os representantes da Copel demonstraram disposição em buscar soluções para minimizar os impactos causados”, afirmou Adelmo.
EM BUSCA DE SOLUÇÕES
O prefeito Leandro Jasinski e o secretário de Agricultura de Rio Azul, Airton Rigo Morretto, participaram de uma reunião com diretores da Copel para discutir soluções. Segundo Airton, “é uma situação que foi relatada pelos produtores, em um período de alto consumo de energia, que é no período de secagem do fumo, quando as folhas vão para as estufas e isso demanda energia mesmo. Com essas quedas que aconteceram, muitos produtores tiveram prejuízos. Eu e o prefeito Leandro estivemos em contato com diretores da Copel, em Curitiba, apresentando o problema e buscando uma solução para que isso não volte a acontecer”, comenta.
Ainda, o prefeito Leandro disse que os resultados da reunião já estão aparecendo. “Depois dessa conversa a Copel, eles já mandaram mais equipes para fazer a manutenção, limpeza das linhas, o que já deu uma melhorada aqui na nossa região, mas ainda tem algumas quedas que estão acontecendo”, explica.
Segundo José Natal, presidente da Associação de Fumicultores de Rio Azul, na comunidade Faxinal dos Paulas, “as oscilações ocorreram quase diariamente entre novembro e janeiro, principalmente, no horário das 18h às 20h. Em outubro tivemos reunidos com o coordenador regional da Copel, o secretário Airton e o Mezaque, presidente do Sindicato de Irati, cobrando melhorias nas redes”.
Outro produtor, de São João do Triunfo, Cristiano, destacou as perdas na qualidade do fumo devido às quedas de energia. “Dependendo do momento da secagem, a folha mancha ou até cozinha, reduzindo o preço de mercado. Um fumo que poderia ser vendido a R$ 20 por quilo, acaba valendo entre R$ 8 e R$ 10”, afirmou. Ele ainda relatou dificuldades para obter ressarcimento da Copel pelos danos. “Anos atrás, eles faziam o ressarcimento, pagavam pelos prejuízos. Agora, neste ano, disseram que não haveria ressarcimento por causa do mau tempo”, reclamou.

O deputado estadual, Hussein Bakri, destacou que estiveram em busca da solução para que não gerasse mais prejuízo entre os produtores. “Ano após ano, a Copel é eleita uma das melhores distribuidoras do Brasil e da América Latina. Mas sempre é preciso estar se aprimorando e melhorando o serviço oferecido aos paranaenses. Por isso, estamos conversando com a direção da empresa para buscarmos quais serão as formas de atuar melhor na região Sudeste e, assim, solucionarmos os problemas que vêm ocorrendo. Não é razoável que falte energia por horas seguidas, sob pena de haver prejuízos graves à economia local, sobretudo no setor do fumo.” Hussein Bakri tem agido com afinco nesta questão. No final do ano de 2024, o deputado líder do governo na Assembleia levou o prefeito Leandro Jasinski (presidente da AMCESPAR) para explicar ao presidente da Copel, Daniel Pimentel Slaviero, os problemas relatados pelos fumicultores.
Em resposta, a Copel informou que analisou os índices de qualidade do fornecimento nas localidades mencionadas. Em unidades consumidoras apresentadas pela Folha de Irati, de produtores de São João do Triunfo, disseram que “em uma das unidades consumidoras, foram contatados dois desligamentos no início deste mês; a outra teve registros de faltas momentâneas, popularmente conhecidas como piscadas. Ambas têm atendimento prestado dentro dos limites estabelecidos pela Aneel, no entanto uma inspeção de campo será realizada para identificar oportunidades de melhoria nas duas localidades”.
Ainda, a empresa ressaltou que “a Companhia esclarece que tem trabalhado intensamente na manutenção preventiva das redes, e que dedica especial atenção à atividade de fumicultura, dispondo de um cadastro específico para propriedades que possuem esta cultura. Entretanto, é necessário que, nas áreas rurais, seja observada a distância da vegetação com relação à rede elétrica, de acordo com o que determina a Lei Estadual 20.081/2019, conhecida como Lei da Faixa Limpa. Também têm sido identificados na região casos de aumento de carga sem a devida comunicação à Copel. A Companhia alerta que esta prática coloca em risco as instalações elétricas internas da propriedade, e pode gerar instabilidade para toda sua região. A Companhia deve sempre ser consultada previamente quando há previsão de aumento no uso de energia na propriedade”.

Renato Hora, sócio do escritório Pinheiro Hora Sociedade de Advogados, falou sobre como deve proceder o fumicultor nos casos de queda que causem prejuízos. “Primeiramente, como forma de provar o prejuízo, recomenda-se contratar um especialista para, via laudo técnico, avaliar a danificação das folhas do fumo. Na sequência, provado o prejuízo e o chamado nexo causal, o fumicultor poderá se valer de um advogado de sua confiança para ajuizar a ação indenizatória correspondente, na qual, além do prejuízo material, discutir, sendo o caso, eventual reparação de natureza moral”, explica Hora.