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DEGEO da Unicentro recebeu aval das autoridades e pode fazer a retirada do material para armazenar e catalogar os fósseis; uma das espécies encontradas foi o Mesossaurus Brasiliensis, que viveu na região há mais 280 milhões de anos
Fósseis que comprovam teoria da Deriva Continental são encontrados em Irati
Foto: Material encontrado reforça a teoria da Deriva Continental, contendo fósseis semelhantes aos da África do Sul - Foto: Ana Mattos

Karina Ludvichak

Compreender a formação da Terra, a distribuição das espécies e a divisão dos continentes exige um olhar interdisciplinar, que abrange áreas como a geologia, a biologia evolutiva, a paleontologia e a geografia. Ao longo do processo de construção das ciências muitas teorias foram fundamentadas com o intuito de tentar explicar como se deu a formação dos continentes, uma delas é a da Deriva Continental, proposta pelo pesquisador Alfred Wegener no início do século passado.

Neste contexto, a Bacia do Paraná contribui para a comprovação da teoria de Wegener, principalmente, através dos fósseis encontrados nesta região, e Irati ocupa um papel fundamental dentro deste estudo. Recentemente foram encontrados, nos rejeitos da obra na BR 153, próximo a Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), no bairro Engenheiro Gutierrez, fósseis de espécies que viveram na região quando Irati ainda era um grande mar fechado, um deles é o Mesossaurus brasiliensis, que viveu aqui há mais de 280 milhões de anos.

“A preservação e estudo desse material ajudarão a contar essa
história à população e ao mundo”

– geógrafo Luiz Carlos Basso

Luiz Carlos Basso, professor e coordenador do Departamento de Licenciatura em Geografia (DEGEO) na Unicentro de Irati, explica que a obra revelou “um tesouro geológico e paleontológico de valor incalculável” e graças ao aval do DER e da empresa responsável pela obra, o DEGEO foi autorizado a receber, armazenar e catalogar os materiais retirados pela equipe do departamento. “Durante os trabalhos de escavação, foram encontrados fósseis em camadas de folhelho betuminoso, uma rocha rica em matéria orgânica, datada de cerca de 280 milhões de anos. Esses vestígios são parte da Formação Irati e comprovam que a região já foi um grande mar fechado, habitat de criaturas pré-históricas como os mesossauros e os pigaspes, um tipo de camarão fossilizado”, conta o coordenador.

O material encontrado reforça a teoria da Deriva Continental. Segundo o professor, fósseis semelhantes foram descobertos na África do Sul, o que sugere que os continentes América do Sul e África já estiveram unidos. “É uma comprovação da existência do mesossauros em ambos os continentes”, afirmou o professor, destacando a relevância dessas evidências para a ciência e para a história da Terra.

Fósseis que comprovam teoria da Deriva Continental são encontrados em Irati
Mesossaurus foi um pequeno réptil que viveu no mar Irati há mais de 280 milhões de anos – Foto: Karina Ludvichak

Mas a importância dos achados não se limita ao âmbito acadêmico. Para a cidade de Irati, esses fósseis representam um vínculo direto com o passado geológico do planeta, colocando a região em destaque no cenário científico internacional. “É um privilégio termos a formação Irati aqui, que dá nome até ao mar pré-histórico onde viviam esses animais”, enfatiza Basso. “A preservação e estudo desse material ajudarão a contar essa história à população e ao mundo”, conclui.

A Unicentro foi autorizada a atuar como depositária oficial dos fósseis, que estão sendo coletados e armazenados para futuras pesquisas. O material será estudado detalhadamente por estudantes e pesquisadores da instituição, e poderá servir de base para investigações sobre a fauna, a flora e os processos geológicos da época. “Futuramente, os alunos poderão desenvolver projetos paleontológicos com esse acervo”, ressaltou o professor.

Embora os fósseis estejam sendo recuperados a partir do rejeito das obras, o ideal seria a extração direta no local de origem, preservando o contexto de fossilização. Há todo um cuidado necessário para que a retirada do material seja possível. Basso conta que para isso, a extração é feita com a supervisão do paleontólogo da empresa que está realizando as obras no local, além de uma equipe da instituição que já tem um conhecimento prévio do que será encontrado. “A ciência da tafonomia, que estuda como os fósseis se formaram, é essencial para interpretar os achados. Muitos estão retorcidos ou fragmentados, indicando que foram transportados. Outros, bem preservados, mostram que morreram ali mesmo”.

Fósseis que comprovam teoria da Deriva Continental são encontrados em Irati
Foto: Júlio Emanuel França

Basso ressalta que o material presente no local é patrimônio geológico da União, por isso, a retirada sem o aval das autoridades competentes se classifica como crime. E com a autorização concedida ao professor da Unicentro, a equipe se mostra empenhada em dar continuidade no trabalho. “O trabalho continua, com a expectativa de novas descobertas que aprofundem ainda mais o conhecimento sobre a história natural de Irati”, finaliza Basso.

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