Pesquisar
Feche esta caixa de pesquisa.

Irati PR, 18:17, 21°C

Rituais antigos e a presença viva da fé transformam a Páscoa polonesa em um tempo de renovação espiritual, onde cada gesto carrega o símbolo da ressurreição de Cristo
Foto: Nelsi Antonia Pabis

Ana Mattos

Fé e cultura: tradições pascais polonesas preservadas durante séculos

Durante uma conversa especial com o padre polonês Roman Góra compartilhou suas vivências e reflexões sobre as tradições da Páscoa na Polônia, revelando um rico panorama de fé, cultura e história que atravessa séculos. A entrevista foi conduzida por Nelsi Antonia Pabis e a equipe da Folha de Irati, e abordou desde os ritos litúrgicos até os costumes populares que marcam o período pascal no país europeu.

Segundo o padre Roman, a ligação entre o povo polonês e a Igreja Católica é profunda e histórica. Desde então, a fé cristã tornou-se elemento central na vida social e espiritual dos poloneses. “A vida da igreja influenciou a vida do povo, e a vida do povo influenciou a vida da igreja”, resumiu.

Essa relação se intensifica durante a Semana Santa e a Páscoa. As celebrações seguem o rito litúrgico universal da Igreja Católica, com a diferença do idioma e das expressões culturais locais. Na Quinta-feira Santa, por exemplo, a celebração do Lava-pés é seguida por um momento de grande simbolismo: a representação da prisão de Jesus. Os fiéis montam na igreja uma espécie de capela adornada com grades, simbolizando a cela onde Cristo aguardou o julgamento.

Celebrações internas e o silêncio do Sábado de Aleluia

A Sexta-feira Santa na Polônia é marcada por uma atmosfera de recolhimento e reflexão. Ao contrário das tradicionais procissões externas vistas em muitos lugares do Brasil, os poloneses concentram-se nas igrejas, onde ocorrem adorações ao Cristo morto e a veneração do túmulo, que é artisticamente decorado com flores, imagens e cenários que remetem a Jerusalém.

No Sábado de Aleluia, o silêncio litúrgico prevalece até a Vigília Pascal. Nesse dia, um dos momentos mais esperados é a bênção dos alimentos, tradição profundamente enraizada na cultura polonesa. As famílias preparam cestas com ovos cozidos decorados, pão caseiro, sal, manteiga, linguiças e raiz forte. Os alimentos, levados à igreja, são abençoados e utilizados no café da manhã do Domingo de Páscoa. “Tudo que vai para a mesa da Páscoa é símbolo de vida”, explicou o padre.

Em algumas regiões, como a de origem do padre Roman, o alimento abençoado é levado em procissão ao redor da casa por três vezes, como forma de benção do lar. Há ainda a tradição do cordeiro pascal, feito de açúcar ou massa e decorado com carinho, que representa Cristo ressuscitado.

Outro costume preservado em comunidades rurais polonesas é a bênção das propriedades agrícolas. Com a água benta da Vigília Pascal, os agricultores realizam pequenos rituais nos campos, pedindo proteção para as lavouras, animais e colheitas. A prática, conduzida muitas vezes pelos próprios donos das terras, também inclui a benção das casas, em um gesto de gratidão e fé.

Durante a Quaresma, uma devoção específica chamada Gorzkie Żale (ou “Lamentos Amargos”) é cultivada. Trata-se de um canto meditativo sobre a Paixão de Cristo, no qual os fiéis alternam entre si as vozes de Jesus e Maria. A prática ocorre tradicionalmente aos domingos ou sextas-feiras e é acompanhada por uma pregação final sobre o sofrimento e morte de Jesus.

Fé e cultura: tradições pascais polonesas preservadas durante séculos
Foto: Nelsi Antonia Pabis
Fé e cultura: tradições pascais polonesas preservadas durante séculos

O Núcleo da BRASPOL de Irati convida os descendentes de poloneses e simpatizantes da cultura para participarem, no dia 18 de abril, sexta-feira santa, das 13 às 14h no pavilhão da Igreja São Miguel, dos cantos Gorzkie Żale que quer dizer Amargas Lamentações, que expressam a paixão de Cristo.

E um momento de fé e de preservação da cultura.

Participe!

Na Polônia, a Páscoa é celebrada em dois dias: o domingo e também a segunda-feira, feriado nacional. Nessa data, além das missas, há uma brincadeira tradicional conhecida como “segunda molhada” (Śmigus-Dyngus), em que meninos jogam água em meninas como símbolo de purificação e alegria. “Era uma festa principalmente dos jovens, algo que ficou muito na memória das gerações”, recordou Roman.

A influência das tradições polonesas chegou também ao Brasil, especialmente em regiões onde há presença de descendentes, como Irati e Inácio Martins. O padre destacou que mesmo famílias sem ascendência polonesa passaram a adotar costumes como a bênção dos alimentos, incorporando essas práticas à vivência local. “A igreja fica cheia, com o cheiro da linguiça, do pão, do ovo cozido… é um momento muito especial”, relatou.

“Cada país tem seu jeito de celebrar, mas o importante é que a Páscoa seja vivida com sentido e fé”, destacou o sacerdote

Szczęśliwego zmartwychwstania Pana

(Boas festas da ressureição do senhor)

Leia outras notícias