Leandro Bianco
A erva-mate está presente na rotina e na cultura do Sul do Brasil, valorizada como símbolo de identidade regional. Sua cadeia produtiva envolve etapas que vão desde o cultivo e manejo no campo, passando pela comercialização e pelo processamento na indústria, até chegar ao consumo final, seja em bebidas como o tradicional chimarrão ou como ingrediente em receitas variadas.
No campo, o cuidado com a planta é decisivo para a qualidade da erva que segue para a indústria. O engenheiro agrônomo, produtor e consultor especializado na cultura Rafael Pezzini Grochoski explica que a nutrição adequada, feita com base na análise de solo e na orientação técnica, é o primeiro passo. Além disso, o planejamento do cultivo, a escolha criteriosa das mudas e o controle fitossanitário são fundamentais para garantir um erval saudável e produtivo.
O cultivo pode ocorrer em sistema pleno sol, com exposição total à luz solar; no modelo arborizado, que combina a cultura com árvores sombreadoras plantadas; ou no sistema de adensamento, praticado em áreas de floresta nativa. Cada método influencia diretamente o sabor e as características da folha. Nos ervais sombreados, por exemplo, a planta sofre menos estresse térmico, produz folhas maiores e com menor teor de umidade, o que favorece o processo industrial. “Ela tem um sabor, para erva-mate, um pouco menos amargo que uma pleno sol, devido a não ter tantos compostos para se proteger do estresse térmico”, explica Rafael.
Esse tipo de cultivo, tradicional nas florestas de araucária do Paraná, foi recentemente reconhecido como Patrimônio de Sistemas Agrícolas de Importância Global (GIAHS) pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Segundo Grochoski, o estado reúne condições naturais consideradas ideais para o desenvolvimento da cultura. Solos profundos e argilosos, temperaturas amenas e chuvas bem distribuídas ao longo do ano favorecem o cultivo em diferentes sistemas, com destaque para os sombreados. “Além disso, a gente também consegue fazer o cultivo junto com a nossa floresta aqui, com o nosso sistema de adensamento. Então, isso também é uma das vantagens do nosso cultivo de erva-mate aqui na nossa região”, ressalta.
Na indústria, o objetivo é transformar a matéria-prima em produtos de qualidade, respeitando as particularidades de cada tipo de consumo. Segundo João Giotti, diretor da Companhia Paranaense do Matte, cada linha segue um blend específico de ervas, conforme o perfil de quem consome: “Para cada linha de produto, a gente tem uma mescla de erva-mate.”
A unidade industrial de Irati tem capacidade para processar até 1,6 milhão de quilos de folha por mês, com uma média atual de 800 toneladas. A escolha do município como sede da fábrica se deve à localização estratégica e à proximidade com polos produtores de alta qualidade. “Valorizar o produto da nossa região, valorizar o produto que vem do campo dos nossos produtores é a melhor forma que a empresa tem de apoiar a produção. Então, a gente busca, incentiva, dá essa preferência para os produtores locais”, afirma o diretor.

A erva-mate vem ganhando espaço em novos formatos de consumo, impulsionando oportunidades no mercado interno e externo. A busca por inovação tem levado as indústrias a incentivarem seu uso em diversos produtos, incluindo bebidas variadas e a gastronomia. “Erva-mate tem um leque muito grande de produtos que podem ser explorados. Só que, para cada produto desse, você tem que fazer essa escolha, você tem que se especializar, se dedicar”, destaca João Giotti.
Um exemplo dessa versatilidade está na Lopes Padaria, em Rebouças, que há cerca de cinco anos utiliza a erva-mate em diversas criações da confeitaria. Entre as receitas estão bolos com infusão de erva-mate, biscoitos amanteigados, cheesecakes e mousses, todas desenvolvidas com técnicas que equilibram sabor e aroma. A chefe de cozinha Isabel Ribeiro de Melo, responsável pelo setor de confeitaria, conta que o segredo está na forma de preparo: “A incorporação é a infusão. Se você colocar a erva diretamente, ela pode ficar muito forte. Então, você tem que saber a quantia que vai usar, para ela não alterar o sabor.”