De 3 semanas para cá, aumentaram os casos de Covid-19 entre crianças no Hospital Pequeno Príncipe (Foto: Franklin de Freitas)
Embora representem apenas 4,7% dos casos confirmados de Covid-19 e também sejam a faixa etária menos afetada pela doença, o avanço da pandemia de coronavírus entre crianças vem causando preocupação no Paraná. Conforme dados da Secretaria da Saúde (Sesa), entre junho e julho houve um aumento de 349,69% no número infecções pelo novo coronavírus entre pacientes com até nove anos de idade: em 26 de junho eram 481 casos confirmados, enquanto no último dia 26 (domingo) já eram 3.124.
No Hospital Pequeno Príncipe, referência no atendimento a crianças e adolescentes, o infectologista pediátrico Victor Horácio de Souza Costa Júnior comenta que essa alta nas contaminações tem se traduzido também em maior demanda por atendimento. Desde o dia 4 de março, 355 pacientes do hospital foram investigados com suspeita de Covid-19, sendo que 267 (75% do total) precisaram de internamento. Do total de casos investigados, 47 testaram positivo para o novo coronavírus, sendo que onze seguem internados, 15 estão em isolamento domiciliar, 19 estão recuperados e, infelizmente, dois foram a óbito.
“É uma quantidade [de casos] não tão grande quanto em adultos, mas de três semanas para cá começamos a ter um perfil epidemiológico de crianças se contaminando em casa”, comenta o Doutor Victor. “Isso reforça a necessidade dos pais realizarem também o controle no ambiente doméstico, com uso do álcool em gel, ventilação adequada. Hoje estamos com quatro crianças em ventilação mecânica na UTI, sendo que dois são irmãos, o que mostra como é preocupante esse contágio domiciliar”, reforça o médico.
Ainda segundo o especialista, o principal problema tem sido o descuido dos pais e responsáveis no ambiente doméstico com relação às medidas de prevenção e higiene e também o excesso de saída dos responsáveis pelos pequenos, o que aumenta o risco de alguém ser infectado e também contaminar os outros em sua volta.
“Em redes sociais, vemos pais dando festinha em casa para criança reencontrar amigo da escola, churrasco em casa. O controle da doença se dá pelo isolamento e distanciamento social, não se faz festinha em casa. É uma doença que está demorando para baixar o pico e o comportamento da população é fundamental nesse controle”, alerta o especialista, fazendo ainda um apelo aos pais.
“Os pais têm de entender que é preciso ficar em casa. A Covid é uma doença grave, que faz insuficiência respiratória grave em criança, não tem vacina, não tem nenhum remédio com eficácia comprovada. Mas se fizer isolamento social, mantiver o distanciamento individual, utilizar álcool em gel e higienizar as mãos, evita a contaminação”.
Crianças com comorbidades são a maior preocupação
De acordo com o doutor Victor Horácio de Souza Costa Júnior, infectologista pediátrico do Hospital Pequeno Príncipe, a maior preocupação dos especialistas é com relação às crianças que possuem comorbidades, como doenças hematológicas, neurológicas e cardíacas. É que esses jovens estão num grupo de maior risco por conta de sua condição, apresentando maior predisposição a terem complicações por conta da infecção.
“Esses são os pacientes que estão sendo contaminados por Covid com caráter de maior gravidade”, conta o especialista, revelando que, quando vai para a UTI, os pequenos tem costumado necessitar de três a quatro semanas de internação, um período considerado longo.
Além disso, já foram registrados no HPP casos de crianças que apresentaram uma síndrome inflamatória multissistêmica, que acontece quando há uma resposta exacerbada do organismo, que reage à infecção pelo vírus com uma inflamação generalizada. “Nós tivemos no hospital três crianças que tiveram essa síndrome, casos graves.”
Adolescentes apresentam maior avanço nas infecções
Entre os dias 26 de junho e 26 de julho, o número de casos confirmados de coronavírus no Paraná saltou 260,18%, passando de 18,5 mil para 66,5 mil. Entre todas as faixas etárias, as crianças (0 a 9 anos) apresentaram o segundo maior crescimento no número de casos, com alta de 349,69%. A alta mais significativa, contudo, aconteceu na faixa entre 10 e 19, com um salto de 433-53% – passou de 680 casos para 3.628.
Um dos fatores relacionado a esse aumento são as aglomerações, relativamente comuns de acontecerem, por exemplo, quando esses jovens saem para confraternizar. Na grande maior parte dos casos, é verdade, os jovens não apresentam maiores complicações por conta da infecção pelo coronavírus. Entretanto, transmitem a doença como qualquer outra pessoa contaminada, o que pode vir a favorecer o descontrole da pandemia.
Casos confirmados de Covid-19 por faixa etária