Sthefany Brandalise, com reportagem de Nilton Pabis
Durante entrevista ao Jornal Folha de Irati, na quinta-feira (03), durante jantar da FIEP, o senador Sérgio Moro falou sobre sua atuação política, criticou o governo Lula, comentou sobre o governo do Paraná e sua possível candidatura ao Executivo estadual. O bate-papo ocorreu durante a participação do parlamentar em um fórum regional da indústria promovido pela FIEP, em Irati. Na ocasião, Moro reafirmou seu compromisso de visitar o Paraná, explicou sua posição de oposição em Brasília, destacou demandas regionais e defendeu a liberdade de expressão, ao mesmo tempo em que manteve em aberto a possibilidade de disputar o governo em 2026.
O senador Sérgio Moro cumpriu mais uma etapa de sua promessa de circular pelo Paraná, prestando contas de seu mandato e ouvindo demandas da população. “Eu fiz uma promessa, quando eu me candidatei em 2022, que eu ia circular no Paraná. Então, a gente tem circulado, conversado com as pessoas, estamos ouvindo as demandas de cada região e prestar contas também do nosso mandato. A gente sabe que o país está num momento difícil, mas eu tenho certeza que as coisas vão melhorar”, afirma Moro.
Com um histórico como juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça, Moro teceu duras críticas ao atual governo federal. “Eu sou oposição ao governo Lula, que na verdade, é um desastre. Mas, tenho grande esperança de que em 2027 a gente vira essa página e o país retoma o rumo certo pra voltar a ter crescimento econômico, a ter combate ao crime. Até a roubalheira voltou pesada com esse negócio do roubo dos aposentados e pensionistas do INSS. As pessoas estão desanimadas hoje. Mas, enfim, são tantos erros desse governo que eu não o vejo ficando no poder em 2027. A gente tem que fazer a nossa parte, eu continuo em Brasília fazendo oposição. A gente também consegue aprovar algumas coisas positivas, a despeito desse governo. Mas esse tempo ruim vai passar”.
Questionado sobre sua possível candidatura ao governo do Paraná, Moro não descartou a ideia, mas disse estar concentrado no mandato atual. “Eu estou focado no meu mandato no Senado, até porque eu fui eleito em respeito também ao eleitor paranaense. A gente está focado em trabalhar no Senado. Agora a gente conseguiu derrubar aquele aumento do IOF, que é importante, ninguém aguenta mais impostos. Tem aprovado projetos importantes na área de segurança pública, criamos lá um crime novo chamado narcocídio, por exemplo. No final do ano, começo do ano que vem, eu vou decidir se concorro ou não ao governo. Tenho visto as pesquisas que tem me colocado em uma boa posição, bem na frente, aliás, de qualquer outro candidato. E a gente não pode deixar o nosso Estado na mão. Mas esse ano, que não é o ano eleitoral, é o ano da gente continuar trabalhando no Senado”, explica.
Sobre filiação partidária, Moro indicou que a definição virá com o tempo. “Eu não sou oposição ao governador Ratinho Júnior. Acho que o governo tem os seus méritos. Também vejo que tem coisas que poderiam ser feitas diferentes, coisas a mais. Ele tem se colocado como um possível candidato à presidência, juntamente com outros. O que a gente tem que fazer é virar a página do governo PT, porque a gente não aguenta mais quatro anos, um país sem qualquer rumo”.
Durante os fóruns da FIEP, Moro tem percorrido o estado e destacado as principais demandas dos municípios. “Eu tenho acompanhado esses fóruns regionais da indústria, todos eles trazendo as suas demandas específicas. Tem as das cidades, mas tem também aqui da região. Então uma reclamação que a gente ouviu muito hoje foi da BR-153. Uma coisa que precisa resolver. As estradas do Paraná são 40 anos que não evoluíram. E isso precisava, porque a economia do estado cresceu muito. A produção, principalmente agropecuária, cresceu muito. E o nosso porto, nossas estradas, praticamente do mesmo tamanho. É uma coisa que a gente tem que enfrentar. E vindo nesses eventos a gente consegue conversar com as pessoas e ter, inclusive, uma hierarquia de prioridade de cada uma dessas demandas”, comenta.
Moro também elogiou a organização do evento e sua importância para o desenvolvimento regional. “Eventos como esse da FIEP são fundamentais para aproximar o setor produtivo do debate político e das decisões que impactam diretamente a economia regional. Aqui em Irati, foi possível ouvir demandas reais, concretas, e isso nos ajuda a levar a voz para Brasília. É esse tipo de iniciativa que fortalece o desenvolvimento do Paraná e mostra o quanto o nosso estado é forte, empreendedor e comprometido com o futuro”, afirmou o senador.

Foto: Leticia H. Pabis
Em relação aos desafios enfrentados pela oposição no Congresso, Moro comenta que “como oposição, a gente tem buscado evitar o pior. O governo buscou colocar de volta o DPVAT, não conseguiu. Agora derrubamos esse aumento do IOF e o governo vai se enfraquecendo cada vez mais. Porque é um governo que gasta muito e que tem saqueado o contribuinte. Afeta toda a cadeia produtiva e torna a nossa economia menos eficiente. Isso acaba gerando a afetação do emprego e das pessoas em geral, seja o empregador ou seja dos trabalhadores. Se a gente não tivesse uma oposição lá em Brasília, pode ter certeza que as coisas estariam muito piores. Mas a gente não pode se contentar com isso. A gente tem um Estado aqui que é pujante, tem um Estado que está melhor do que a média, que nos orgulha, mas a gente tem que fazer as nossas lições de casa aqui e melhorar também o ambiente de negócio de investimento para o Paraná”.
A recente decisão do governo de recorrer ao STF para aumentar impostos também foi criticada. “Não é a forma melhor de resolver as coisas. Para você aumentar imposto, você precisa do Congresso, precisa ter aprovação no Congresso. Agora, recorrer ao Supremo é meio choro de perdedor e não vai melhorar a relação com o Congresso. Vamos ver o que o Supremo vai decidir, mas evidentemente, ainda que o Supremo decida a favor do governo, a situação com o Congresso permanece muito complexa, muito difícil para o executivo atual”, conta.
Sobre o Judiciário, Moro foi direto: “o governo tem, desde o seu início, batido muito na porta do Supremo e o Supremo tem sido muito generoso com o governo Lula. Espero e gostaria que o Supremo fosse mais rigoroso e criterioso em relação a esses temas. Por exemplo, não cabe aí aumentar a imposta através de decisão do Supremo Tribunal Federal, seria um absurdo. Vamos ver o que ele vai decidir”.
Diante do cibercrime de R$ 800 milhões ocorrido na semana, Moro destacou a necessidade de fortalecer a segurança digital. “Nós precisamos melhorar a infraestrutura de cibersegurança do país. A gente está discutindo a criação de um centro, até no âmbito do setor privado, para ter um compartilhamento de soluções e tecnologias nessa área. Mas é algo que o Brasil tem que caminhar muito mais. Não é só um problema desse governo, as coisas se arrastam de anteriores. A gente tem que melhorar a governança da nossa cooperação entre o setor privado e o setor público para enfrentar esses desafios da cibersegurança. O exemplo está aí, desse assalto, esse roubo que houve através do meio digital. O país não pode ficar tão vulnerável assim. Mas ainda precisa muito para a gente poder avançar”, comenta.
“Podem contar com esse senador lá em Brasília, com o pessoal aqui de Irati e com o pessoal de toda essa região”
– Sérgio Moro
Outro ponto polêmico foi o caso do prefeito de Paranavaí, acusado de difamação após chamar Lula de ladrão. Moro se ofereceu como testemunha de defesa. “O prefeito fez uma excelente gestão, trabalha comigo. E na eleição de 22 ele acabou tendo um episódio de que ele chamou o Lula de ladrão. Muita gente faz isso. E, na verdade, na política é muito comum o eleitor xingar, ofender o seu representante quando não tem uma reputação muito boa. E o Lula, vamos falar sinceramente, foi condenado em três instâncias por corrupção. Eu vivenciei isso de perto. Depois ele foi beneficiado por uma reviravolta política. Mas mesmo o Supremo Tribunal Federal nunca falou que ele era inocente. Então discutir esse tema é algo que está na boca das pessoas. O que eu achei absurdo é o ex-prefeito ser denunciado por difamação por ter feito isso. Então daí eu me ofereci para ser testemunha no processo. É um ataque à liberdade de expressão. Então vou estar lá para defendê-lo nesse caso específico e espero que ele seja absolvido. Porque não é só o direito dele. É o direito de todo cidadão poder falar abertamente o que ele pensa sobre o mundo político”.
Por fim, questionado sobre arrependimentos, o senador foi enfático. “Não, eu não me arrependo, eu tenho um grande orgulho, inclusive, da Operação Lava Jato. Foi um momento que a gente acreditou que o país estava mudando. Infelizmente depois teve essa reviravolta política. E agora eu continuo trabalhando naquilo que eu acredito de uma outra forma. O trabalho de um senador é diferente de um trabalho de um juiz. Mas os meus princípios, os meus valores permanecem os mesmos”, afirma.
“Podem contar com esse senador lá em Brasília, com o pessoal aqui de Irati e com o pessoal de toda essa região”, finalizou Sérgio Moro, em tom de compromisso com os paranaenses, reforçando sua atuação e presença política, enquanto deixa em aberto a possibilidade de um novo passo em sua trajetória pública.