Esther Kremer
O primeiro dia de júri popular do caso conhecido como “chacina da Vila São João”, ocorrido em 16 de junho de 2022, teve início na manhã desta segunda-feira (4), no Fórum da Comarca de Irati, com o depoimento do delegado da Polícia Civil, Paulo Eugênio Ribeiro, responsável pelas investigações à época. O julgamento envolve um policial militar, Arnoldo Skubisz Neto, e dois outros réus, a irmã do policial Franciele Skubisz e o cunhado do policial, Welliton da Silva Rodrigues, acusados de participação no crime que resultou na morte de cinco pessoas.
Inicialmente o júri leu a denúncia e após iniciou os trâmites. O delegado foi ouvido por videoconferência e durante a oitiva o réu Neto fazia anotações constantes. Durante seu depoimento, o delegado relatou os primeiros momentos da apuração, desde o atendimento ao local dos fatos até a coleta das provas que subsidiaram o inquérito. Segundo ele, quando chegaram na cena do crime a mesma apresentava rastro de sangue, tanto na área interna quanto externa da residência, o que, segundo ele, ajudou a identificar a rota de fuga dos autores.
Ribeiro explicou que moradores relataram à polícia terem visto uma pessoa no local do crime com um pedaço de madeira, posteriormente a equipe investigativa da polícia deduziu ser a arma de calibre 12 utilizada na ação. Ainda conforme o delegado, os indícios apontaram que o principal alvo da ação seria Wellington Vieira de Andrade, conhecido como “Tom”, e que os outros mortos foram atingidos quando os autores tentavam chegar até ele.
Análise das provas e perícias
Durante as diligências, a polícia recolheu projéteis de calibre 12, posteriormente identificados como provenientes de uma arma registrada em nome de um dos réus, o policial militar Arnoldo Neto.
O delegado detalhou ainda o uso de imagens de câmeras de segurança que mostraram um veículo Parati prata, de posse de Franciele, irmã do réu, após a ação ter acontecido, em um bairro próximo ao local onde o crime aconteceu, onde foi deduzido ser o carro utilizado pelos autores para sair da cena. Ainda, segundo o depoimento, a polícia identificou a réu Franciele dentro do veículo, o carro foi apreendido com vestígios de sangue, e o modelo e escapamento de ronco esportivo coincidiam com as imagens obtidas.
Durante o interrogatório, o delegado confirmou que outro policial militar, citado por um dos réus como álibi, mudou de versão ao ser ouvido novamente, após a análise de dados de geolocalização por ERBs (Estações de Rádio Base), que indicavam que o acusado Neto estava nas proximidades da cena do crime.
Questionamentos da defesa
Na segunda parte do depoimento, o delegado respondeu aos questionamentos da defesa sobre a precisão dos dados de antenas de telefonia (rádio-base), explicando que o raio de alcance urbano é de aproximadamente 800 metros na cidade, o que indica proximidade, mas não localização exata.
Também, o delegado Ribeiro foi questionado pela defesa sobre a utilização de ERBs, onde a defesa fez o questionamento indagando que outros celulares de pessoas que estiveram na cena do crime após a ação acontecer, não apareceram na ERB analisada. A defesa também perguntou se havia testemunhas que confirmassem a presença direta de Neto no local. Ribeiro afirmou que houveram comentários no local sobre isso, mas que não citaram que teria sido de fato o réu a estar no local do crime.
Outro questionamento da defesa para o delegado foi sobre antecedentes criminais das vítimas citadas, onde o delegado teria confirmado saber essas informações. Também, foi questionado sobre uma linha investigativa em relação aos antecedentes criminais das vítimas, o delegado disse que, não podendo afirmar, mas até onde lembra não houve essa investigação. Por fim, a defesa questionou laudos de perícia envolvendo diversas questões dos fatos, o delegado alegou não lembrar ou não saber de alguns questionamentos.
Encerramento da oitiva
O depoimento do delegado encerrou a manhã no júri, que deve se estender por vários dias, devido ao número de testemunhas e à complexidade das provas. As próximas oitivas estão programadas para ocorrer ao longo de toda a tarde. Os réus envolvidos serão ouvidos após todas as testemunhas.