Leticia H. Pabis
Por ser um filme de Celine Song, eu já sabia que não estava prestes a assistir a uma rom-com tradicional, mesmo que parte da divulgação e da própria press tour tentasse vender essa narrativa. Vidas Passadas (2023), já havia mostrado que a diretora prefere mergulhar no desconforto honesto das relações do que se apoiar no alívio fácil do clichê. Ainda assim, Amores Materialistas (Materialists) me pegou de surpresa por abraçar algo que o cinema contemporâneo parece evitar: a realidade. Ainda que o mercado atual esteja em falta de comédias românticas de verdade.
Claro, quase nenhuma mulher no mundo real tem um John ou um Harry para escolher (e, sinceramente, que tristeza!), mas Lucy, vivida por Dakota Johnson, é o tipo de personagem que sabe exatamente quem é e, pelo menos no início, acredita saber o que quer. O mais refrescante é que ela não esconde isso. Assume sem hesitar ser “difícil de amar” e declara que seu “item não-negociável” em um homem é o dinheiro, mas não por vaidade, e sim por ter crescido em uma casa onde as brigas sobre contas eram tão constantes que ela queria evitar repetir esse roteiro.
Os monólogos são o coração do filme. Há algo magnético na forma como Lucy explica por que encontrar um parceiro ideal é tão crucial, até as reflexões finais de John (Chris Evans), Celine Song constrói espaços de pausa que permitem ao espectador realmente ouvir, entender e compreender, e não apenas assistir. Evans, aliás, entrega uma das atuações mais vulneráveis e humanas da carreira, equilibrando dureza e delicadeza, enquanto Harry (Pedro Pascal) surge como o “unicórnio” da história, e não é difícil entender por quê.
Mas o filme não é imune a falhas. A química entre Johnson e seus dois interesses românticos, Evans e Pascal, nunca chega a ferver (na opinião desta colunista). Talvez seja consequência de um roteiro que insiste em retratar Lucy como alguém racional até a frieza, mas mesmo assim… um pouco mais de faísca teria elevado o efeito emocional. O trio parece ter se entrosado mais fora das câmeras e do set do que realmente na grande tela, o que é uma pena.

Ainda assim, é difícil ignorar que Celine constrói pequenas histórias sobre confiança, a negociação entre o que queremos e o que podemos ter e o que significa amar sem precisar consertar o outro. Ela amarra tudo com a delicadeza de quem não teme um final previsível, mas entende que previsível não significa vazio. Ver Lucy e John optarem um pelo outro, sem tentar moldar o outro à própria imagem, é um lembrete de que crescer juntos não exige mudar a essência de quem somos.
Amores Materialistas não é sobre finais de conto de fadas, e é exatamente isso que o torna tão romântico. Veredito: 4,5 de 5 estrelas.