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Rubro-Negro mantém defesa impenetrável e controle do jogo, mas sofre para transformar volume ofensivo em gols.
Bruno Henrique comemora o gol do Flamengo sobre o Inter pela Libertadores Foto: Ruano Carneiro/Getty Images

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Flamengo teve mais posse, controlou o ritmo, girou a bola de um lado para o outro… e venceu o Internacional por 1 a 0 no jogo de ida das oitavas de final da Copa Libertadores.

Na cabeça de muitos flamenguistas, a pergunta inevitável é: “Poxa, mas só um gol? Não dava para ser mais?”

O resultado precisa ser valorizado. Trata-se de um clássico nacional, contra um adversário de peso. Ganhar por 1 a 0 em casa é um ótimo placar e não pode ser subestimado. Foi o que Filipe Luís reforçou na coletiva, tentando reduzir a altíssima expectativa da torcida, especialmente diante de uma equipe forte e competitiva como o Inter.

Ainda assim, fica a sensação de que o time poderia transformar o domínio e o cuidado na saída de bola em mais gols. Não é exatamente um problema, até porque esse controle também é uma forma de defesa. O Flamengo chegou ao 30º jogo no ano sem sofrer gols e, mais importante, sem permitir ao adversário nenhuma chance clara de finalização.

Há uma expectativa de que a equipe vá golear sempre. Isso não existe, nem nos melhores campeonatos do mundo. Hoje, o Flamengo por vezes encontra dificuldade para quebrar defesas bem postadas e criar muitos espaços. Há méritos do adversário, como o Inter, que se fechou bem e frustrou a blitz inicial, mas também existem falhas próprias.

No momento em que tem a posse de bola, Filipe Luís conta com um elenco poderoso que permite várias variações. Com Emerson Royal em campo, Allan recuava para formar a saída de três, com os laterais avançando bastante e Jorginho atuando como um camisa 8, responsável por articular e ditar o ritmo das jogadas.

Fase ofensiva do Flamengo: saída de bola potente e quarteto ofensivo móvel — Foto: Reprodução

No ataque, o quarteto ofensivo se movimentava constantemente na defesa do Inter, trocando posições, acelerando jogadas e explorando ultrapassagens. Tudo treinado e pensado por Filipe Luís, que prefere manter a calma na defesa para, no momento certo, imprimir intensidade no ataque.

Aí surge o paradoxo: controle absoluto e defesa impenetrável, mas sem transformar tantas chances criadas em gols.

De forma pragmática, o time ataca com poucos jogadores. O quarteto ofensivo é apoiado, no máximo, por um ou dois laterais. Os volantes, sejam Pulgar, Jorginho, Allan ou futuramente Saul, participam pouco da área, priorizando o passe e a sustentação da posse.

Jorginho apoia, mas não entra tanto na área para fazer gols — Foto: Reprodução

Gerson fazia muito bem essa função de chegar mais à frente, e o time perdeu um pouco de volume sem ele. Jorginho até apoia, mas não é o jogador que pisa na área; prefere ficar como opção de segurança para receber e girar o jogo. Saul atua de maneira semelhante. Arrascaeta também já não tem mais o mesmo vigor para cumprir esse papel.

Uma alternativa de Filipe Luís tem sido liberar os laterais. Emerson Royal e Alex Sandro apoiaram bastante, com este último buscando jogadas por dentro para tentar encontrar brechas na defesa adversária.

Liberar os laterais tem sido uma solução de Filipe para o Fla ter mais presença — Foto: Reprodução

Não há um problema tático, mas sim uma escolha. Como em qualquer decisão no futebol, há ganhos e perdas.

Ao priorizar uma saída de bola segura e bem estruturada, o Flamengo reduz a presença na área e aposta na movimentação e na velocidade do ataque. A entrada de Lino, a capacidade de decisão de Bruno Henrique e a consistência de Luiz Araújo têm aumentado o poder ofensivo, mas contra defesas fechadas, como a do Inter, talvez seja necessário reforçar a presença na área.

O segundo tempo mostrou que as escolhas de Filipe Luís têm lógica, permitindo que o Flamengo soubesse sofrer diante de um adversário de qualidade que buscou o ataque. No fim, Filipe é mais pragmático do que o torcedor gostaria de admitir.

“Ataque ganha jogos e defesa, campeonatos” é a síntese de sua filosofia, algo natural para quem teve Diego Simeone como mentor, mas que pode frustrar expectativas moldadas pela história do Flamengo.

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