Suposta agressão de aluna envolve APAE Rural de Irati

Todos os detalhes do caso estão sob investigação da Polícia Civil de Irati

Esther Kremer

Na manhã de segunda-feira (27), um vídeo começou a circular pelas redes sociais, gerando uma onda de comoção não apenas em Irati, mas a nível nacional. O vídeo, capturado pela câmera de segurança da APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Irati, datado do dia 15 de maio de 2024, mostra uma professora possivelmente agredindo fisicamente uma aluna.


A equipe da Folha de Irati foi atrás das informações para entender melhor o caso, onde foi possível ouvir a diretoria da APAE, os pais da vítima e o delegado da Polícia Civil de Irati, Rafael Rybandt, que está investigando o caso. As imagens mostram uma menina saindo da sala de aula, Luana Yoshitomi, de 19 anos, e, antes que pudesse correr pelo corredor, a professora, Cleonice Aparecida Alessi Glinski, a segura pelo cabelo e a empurra para a sala de aula novamente. Em sequência, outras pessoas aparecem correndo pelo corredor, indo em direção a sala, mas a professora fecha a porta.


Os pais da aluna, em entrevista exclusiva para a Folha, falaram sobre o ocorrido. Daniel e Daniele Yoshitomi, relataram estar transtornados com o que aconteceu e que a instituição era um espaço onde eles se sentiam seguros em encaminhar a filha. “Quando ela pegava o ônibus e ia para a APAE, nós ficávamos tranquilos, nos sentíamos bem e podíamos trabalhar sabendo que ela estava em boas mãos.

Se alguém me contasse na rua uma coisa dessa, eu jamais iria acreditar, jamais mesmo”, explica o pai.
Segundo a família, Luana tem Síndrome de Down e é autista não verbal (não fala), por outro lado, a escola da APAE relata que, também, a aluna tem TOD (Transtorno Opositor Desafiador), onde a pessoa tem dificuldade em seguir regras e aceitar comandos. Porém, está situação é negada pela família. “A Luana não tem este diagnóstico, nunca teve”, diz a mãe.


O QUE A FAMÍLIA E A ESCOLA DIZEM SOBRE O CASO?
Segundo Fernando Amaral, diretor social da instituição, a diretoria ficou sabendo do caso apenas na noite de sexta-feira (24), onde o pai da aluna teria entrado em contato com ele. “Ele falou comigo, me mandou o vídeo e eu procurei acalma-lo e comentei que levaríamos o caso até a presidente da APAE e para toda a diretoria. Foi uma situação que causou muita surpresa e logo entrei em contato com a direção da escola também, que me relatou que tinha acabado de saber da situação”, explica.


Ainda, Fernando comenta que no sábado (25), a diretoria da APAE e a direção da escola se reuniram para estudar o caso. “Nós vimos as imagens e decidimos pelo afastamento imediato da professora, fato este que foi feito na segunda-feira (27), pela manhã, junto ao Núcleo Regional de Educação”, explica.


Os pais de Luana, alegam que a direção da escola já deveria saber do ocorrido e deveria avisar. “Eu fiquei sabendo, por meio de uma denúncia anônima, uma pessoa nos enviou o vídeo e uma carta, falando sobre o caso, isto na quinta-feira (23). Nós fomos até a delegacia na sexta-feira (24) buscar providências sobre o caso. É inadmissível que, após 12 dias que isso aconteceu, a direção da escola não soube nada, ninguém falou nada e não nos avisaram”, disse Daniel.


“A pessoa que nos fez esta denuncia anônima foi um anjo, pois se não fosse por conta disso, nós jamais iriamos saber o que estava acontecendo com a nossa filha, porque em momento algum a escola nos procurou para falar”, comenta Daniele, mãe de Luana.


A vice-diretora da escola, Nadicler dos Santos Souza, também falou sobre e disse que “nada foi comunicado para a direção e coordenação pedagógica da escola. Não sabíamos. O fato ocorreu no dia 15 de maio e nós só ficamos sabendo na sexta-feira (24). Se nós soubéssemos do caso, nós imediatamente teríamos comunicado os pais, a diretoria e iriamos tomar providências”, explica.


Ainda, segundo Nadicler, a escola reconhece o erro e não está protegendo a professora. “Não tem justificativa. Eu reforço, nós deveríamos ter sido avisadas, pelas pessoas que viram, por quem sabia, porque nós iriamos sim tomar providenciais. O que causa estranheza é o pai não ter procurado a direção para averiguar o fato. A gente não sabia, o pai sabia do ocorrido e não nos procurou para buscar esclarecimento”, comenta Nadicler.


A mãe da aluna disse que “nós estamos procurando por justiça e não queríamos de forma alguma que isso tivesse acontecido. Nós não queríamos que nossa filha tivesse sido agredida dentro da escola, mas isso aconteceu e é incontestável e inadmissível. A escola falhou, conosco, a direção da escola falhou e muito, com a gente. Eles não entraram em contato conosco, em momento algum a escola veio nos pedir desculpas, não veio perguntar como a Luana está e isso é o que nos dói muito também”.


Segundo os relatos, nem a escola procurou pela família e nem a família procurou pela escola. Até o momento do fechamento desta edição, não tivemos esta informação.


COMO FICA AGORA?
O delegado da Polícia Civil de Irati, Rafael Rybandt, falou sobre o caso e disse que “foi recebido na sexta-feira (24) uma denuncia de que uma aluna da APAE teria sido agredida por uma professora da instituição. Ainda na sexta-feira (24), foram feitas diligencias a fim de corroborar as informações e na segunda-feira (27), foram ouvidos testemunhas e servidores da APAE. Foi instaurado inquérito para apurar a situação, durante as diligencias que efetuamos, algumas circunstâncias precisam ser esclarecidas. Será oportunizado a chance de que a professora dê a sua versão dos fatos, por enquanto a Polícia Civil continua investigando para melhor apurar o fato em sua extensão”, explica o delegado.


A Federação das APAEs do Paraná, se pronunciou oficialmente após a divulgação do vídeo. “Nesse momento, cabe a nós prestar apoio aos familiares, a aluna e a comunidade do município de Irati, e também, acompanhar de forma integral a apuração dos fatos e as ações e desdobramentos jurídicos necessários. Reafirmamos que este fato aconteceu de forma isolada, não sendo esta a conduta das 330 APAEs, que hoje prezam pelo atendimento as Pessoas com Deficiência em nosso Estado”.


A defesa da professora Cleonice, em entrevista exclusiva para a Rádio Alvorada, prestou esclarecimentos sobre o caso. “Não existiu em momento nenhum, intenção de maltratar e sim, apenas de conter a aluna. Embora a forma de contenção não possa parecer a mais adequada ao momento, é certo que foi a única possível, notadamente para uma senhora de 61 anos, já com mobilidade reduzida, observando que não havia intenção em “puxar o cabelo” da aluna e sim, em segurá-la, da forma que fosse possível, considerando que tal aluna já empreendeu fuga em outras oportunidades e colocou sua vida em risco”.

“Cleonice é pedagoga com mais de 26 anos de atuação junto à APAE de Irati, contra quem jamais houve qualquer apontamento negativo que fosse”. A Folha de Irati procurou a defesa da professora para prestar esclarecimentos, mas até o fechamento dessa edição, não obteve resposta.

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