Karina Ludvichak
Nos dias 21 e 22 deste mês a banda britânica de rock alternativo, Coldplay, esteve em Curitiba cumprindo a agenda de shows no Brasil, atraindo um grande público de diversas regiões do estado. Os ingressos no site oficial começaram a ser vendidos em outubro de 2022 e se esgotaram rapidamente, o que fez com que muitas pessoas recorressem à compra de ingressos de terceiros. Fato que facilitou os golpes com a venda de ingressos falsos.
Ao chegarem para assistir o show, diversas pessoas foram barradas na entrada, pois estavam com ingressos falsos. E foi o que aconteceu com Fabiana – assim vamos chamar a vítima que não quis se identificar – que é de Ponta Grossa, e mais oito pessoas que chegaram ao show no dia 21 e não puderam entrar, pois estavam com ingressos falsos que, segundo as informações, foram vendidos pela mesma pessoa.
De acordo com dados das redes sociais do possível golpista, o mesmo é de Irati e estuda Direito em Guarapuava.
As vítimas contam que após descobrirem o golpe e entrarem em contato com o rapaz no dia do show, para alguns, ele informou que devolveria os valores pagos, mas nas conversas seguintes disse que seguindo orientações do advogado não devolveria o dinheiro e até disse há uma das vítimas para processá-lo, já que o caso não daria em nada e ele não precisaria devolver o dinheiro.
No nome do acusado havia apenas dois ingressos verdadeiros, e segundo ele, um site de vendas teria copiado seus dados e vendido o mesmo ingresso para mais pessoas, como consta nas conversas:
Em certo momento do dialogo com uma das vítimas, o suspeito chega a questionar se a mesma não teria vendido o ingresso para mais pessoas:
O delegado da 41ª Delegacia da Polícia Civil de Irati, Diego Luiz Ribeiro Troncha, informou que o crime de estelionato atualmente exige representação da vítima para início das investigações, por isso, além do B.O elas devem prestar depoimento, “após isso é instaurado o inquérito policial para apurar os fatos”, explica. Diego pede para que as vítimas entrem em contato com a Delegacia “para formalizar as representações”.
ENTENDA O CASO
Indignada com a situação, Fabiana conta que estava procurando ingressos para o show nas redes sociais, quando o jovem entrou em contato com ela via Messenger, dizendo que tinha dois ingressos. A princípio, ela diz que o preço cobrado era justo, um pouco acima do valor original, mas que por ela estava tudo bem.
Em capturas de tela da conversa com o suspeito enviado pela vítima, o rapaz afirma que está cobrando R$ 650 por cada ingresso, mas caso o pagamento seja feito
à vista ele pode vender os dois pelo valor de R$ 1200. “Conversamos, acertamos valores, e eu marquei de encontrar com ele pessoalmente em Irati, para ver se de fato ele realmente existia, e se não era um golpe. Porque a pessoa que se apresenta pessoalmente não tem a intenção de dar um golpe. É o que eu imagino!”, disse Fabiana.
Já em uma segunda conversa, com uma vítima que também não quis se identificar, o acusado diz que está vendendo os dois ingressos por R$ 1600, mas a jovem conseguiu um desconto e poderia ficar com eles por R$ 1000 desde que a mesma fizesse o pagamento à vista via PIX.
Fabiana explica que não desconfiou que se tratasse de um golpe, pois o acusado aceitou se encontrar com os pais dela na rodoviária de Irati. A vítima relata que a princípio o comportamento do homem era normal, e que o mesmo declarou que não iria ao show, pois a mãe estava doente, por isso ele estava vendendo os ingressos. “Não aparentava ter golpe nenhum, principalmente pelo fato dele estar se apresentando pessoalmente”.
“Eu me arrumei e fui para o show”, disse Fabiana, que só se deu conta do golpe quando já estava na fila de entrada para o local aonde a banda iria se apresentar. “Meu ingresso não passou, eu até fiz o vídeo, e outras meninas também filmaram os ingressos não passando”.
Percebendo a situação, as pessoas responsáveis pela portaria foram conversar com a equipe da organização. “Quando eu cheguei para conversar com o pessoal da organização já tinha outra menina com o ingresso dele ali aguardando também, pois não tinha passado o ingresso com o mesmo nome”.
Ela relata que durante o tempo em que ficou esperando, chegaram mais duas jovens com ingressos no nome da mesma pessoa. Então, a organização informou que várias pessoas já haviam passado por ali com o mesmo problema.
Fabiana encontrou mais três mulheres na fila, vítimas do mesmo golpe, e pegou o contato delas para juntas tentarem resolver a situação.
Até o momento, o grupo identificou nove vítimas, mas segundo Fabiana, apenas sete registraram o B.O. As demais vítimas foram identificadas em um grupo de vendas. A partir disso, eles entraram no grupo criado por Fabiana para ter orientações sobre o caso.
Os boletins de ocorrência foram registrados em Curitiba e Maringá onde as vítimas moram e Fabiana foi orientada a registrar B.O na 41ª Delegacia Regional de Polícia de Irati, já que ela foi a única a fazer o pagamento pessoalmente em dinheiro.
Após afirmar que não devolveria o valor e acusar o site de ter clonado seus dados, o suspeito desativou suas contas no Facebook, Instagram e bloqueou as vítimas no WhatsApp. A única conta mantida por ele foi o Twitter, onde em uma publicação ele alega que suas demais contas foram hakeadas, e em outra postagem diz: “Acho que fui o único sortudo de Irati que não teve problema pra comprar os ingressos do show do Coldplay”.
O caso está sendo investigado. As vítimas dizem que querem a devida penalidade da justiça, e que não esperam a devolução do dinheiro gasto nos ingressos e outras despesas, mas sim, que o culpado seja punido.