Colégio Estadual Cívico Militar Duque de Caxias comemora um século de história

Para fechar o circuito comemorativo do centenário, nesta sexta-feira (06) acontece o jantar em alusão aos 100 anos do colégio

Karina Ludvichak

O Colégio Estadual Cívico Militar Duque de Caxias, uma das instituições mais antigas de Irati, está comemorando 100 anos de história em 2024. E para celebrar o centenário, a instituição está promovendo uma série de ações voltadas à comunidade escolar, aos munícipes iratienses e ex-alunos do colégio.

Além das ações realizadas durante o mês de agosto, entre a última segunda-feira (02) e quinta-feira (05) aconteceu a Exposição do Centenário, que teve como objetivo resgatar os acontecimentos históricos do colégio e trazer ex-alunos, algumas figuras conhecidas no núcleo regional, nacional e internacional, para compartilhar um pouco sobre a passagem pela instituição.

Ainda, após o fim da exposição, na quinta-feira (05), a comunidade participou da Missa de Ação de Graças do centenário. E para fechar o circuito comemorativo com chave de ouro, nesta sexta-feira (06) acontece o jantar em alusão aos 100 anos do Colégio Duque de Caxias.

Uma escola e um século de história

Por Wallas Jefferson de Lima, Cibeli Grochoski e Augusto Borges

Atravessar um século é um milagre da natureza. Deixar nele um rastro e uma memória consagradas e dá-las a conhecer a gerações de professores e estudantes, como um sonho que a história nos legou, é um milagre ainda maior.

Esse milagre tinha um nome próprio em 1924: “Grupo Escolar de Iraty”. Nessa época, tudo era simples e as condições de trabalho, difíceis. O edifício de madeira construído em 1924 era de bloco único: tinha quatro salas de aula e, ao fundo, 3 pequenas salas  que funcionavam como “espaço administrativo” (diretoria, sala dos professores e vestíbulo). Espaços tão singelos não devem nos enganar: a escola já possuía 250 alunos matriculados e 8 professoras atuantes no “Primário”. A escola nasceu funcionando em dois turnos, manhã e tarde. Professoras eram poucas, mas faziam milagre numa época em que as salas eram preenchidas apenas com cadeiras. Entre as décadas de 1920 e 1930 destacaram-se Mercedes Braga (diretora de 1930 à 1942), Lilia Viana Braga, Edenir Martins, Cirene Sabóia, Lili Biacki, Adália Camargo, Laura Leandro Ada Anciutti, Nair Thomaz, Judite Capelline e as “irmãs Xisto” (“Avany e Caggiano”).

A cidade cresceu e o número de alunos também. Sentiu-se a necessidade de construir uma nova escola mais ampla que pudesse aumentar o número de matrículas. O Estado sentia a necessidade de educar uma massa que, cada vez mais, passava a ver a escola como uma fortaleza segura em direção a um futuro promissor. Assim, em 1937 a escola de madeira foi desmontada e transferida para Gonçalves Júnior, onde foi reconstruída. Em seu lugar, o Governo Vargas ergueu, com recursos do Estado, o atual prédio de alvenaria.

A inauguração deu-se em 7 de outubro de 1939. Irati parou naquele dia. O interventor Manoel Ribas veio de Curitiba especialmente para discursar ao povo de Irati diante do novo colégio que, a partir dali, passaria a se chamar “Duque de Caxias”, em homenagem ao patrono do exército brasileiro.

Além de Mercedes Braga, outra professora que ficou famosa na década de 1940 foi Virgínia Leite (1917-2012), que atuou como enfermeira da Cruz Vermelha nas cidades de Livorno e Pistóia, na Itália, durante a sangrenta segunda guerra mundial. Neste período também desenvolveram-se na escola profundas reformas. O “Ensino Secundário” dividiu-se em dois ciclos, o ginasial e o segundo ciclo (chamado de “colegial”). O curso “Normal”, no Colégio Nossa Senhora das Graças, era destinado, em geral, às moças da elite. Com a Constituição de 1945 e findo o Estado Novo, a gratuidade do “Ensino Primário” passa a ser um direito garantido.

Várias gerações de homens e mulheres passaram seus anos de formação no Colégio Duque de Caxias e deixaram sua marca no mundo dos negócios, serviço público, educação, saúde, direito e em muitas outras áreas, fazendo, nesse processo, contribuições valiosas para a economia local e a vida comunitária como um todo. Ex-alunos do Duque estavam particularmente bem representados no mundo das artes e da cultura. Isso inclui atrizes talentosas como Denise Stoklos; poetas notáveis ​​como Foed Castro Chamma; políticos como Emílio Hoffmann Gomes, ex-governador do Paraná, além de vários ex-prefeitos de Irati e personalidades jurídicas. As décadas de 1950 e 1970 revelaram grandes pendores artísticos: música, piano e declamação eram comuns na escola.

Com o regime iniciado em 1964, houve um aumento do autoritarismo, marcado na área da educação com o banimento de organizações estudantis. Mas a década de 1970, em que pese a atuação da ditadura, foi também produtiva: pode-se dizer que nessa época houve uma otimização da rede escolar. É preciso não esquecer, sobretudo nesse período sombrio, o grandioso trabalho do professor José Maria Orreda na área da educação. Momento de trabalho em equipe, a comunidade foi mobilizada a se engajar nos problemas da escola com a popularização das Associações de Pais e Mestres (APM’s). A alfabetização de adultos, o estímulo à escolarização em todas as comunidades e a criação do serviço de supervisão escolar deram nova feição ao Colégio Duque de Caxias.

Por se tratar de um prédio localizado em local estratégico, o Colégio também foi palco de importantes e significativas ações sociais na década de 1980, dentre elas podemos elencar o consultório odontológico para atender o público infantil, minimizando impactos negativos na saúde bucal dos estudantes. O “Duque”, como carinhosamente é conhecido pela população local, foi gérmen da APAE de Irati iniciou. Em 1967 a instituição recebeu a primeira turma de educação especial. Desmembrada a APAE, o colégio passa a atender classes com necessidades especiais na área da surdez e da deficiência visual em meados dos anos 1980, tornando-se referência no atendimento a esses públicos no núcleo regional de educação.

Com a retomada democrática, a Educação ganhou destaque na Constituição Brasileira de 1988. Em 1996, o colégio adaptou-se para dar conta das imposições da nova Lei de Diretrizes e Bases, a LDB.  A partir desse ano, também passou a receber recursos do FUNDEF. Aos instrumentos de avaliação já aplicados na escola foi acrescido, em 2007, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que permitiu ampliar a avaliação até então focada nos alunos, para os sistemas de ensino e escolas.

Envelhecer significa resistir. O “Duque” atravessou um século observando em silêncio, do alto de uma colina, todas as transformações de Irati. Resiliente e pacientemente. Seus muros de pedra são uma lembrança da durabilidade de instituições sérias, que perduram apesar das agruras do tempo. Hoje, o Colégio atravessa um novo momento.

Anos se passaram desde aquele longínquo 1924. 10 décadas depois, podemos dizer que a referida escola amadureceu. O tempo tem demonstrado que ela soube, talvez como nenhuma outra instituição escolar de Irati, adaptar-se. É um orgulho e um privilégio ter tido a presença de estudantes e professores tão marcantes. 

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