Esther Kremer
Na manhã desta quarta-feira (02), os trabalhadores da Concessionária Via Araucária, colaboradores que trabalham na manutenção das rodovias, decidiram abrir as cancelas da praça de pedágio de Irati, em protesto contra as condições de trabalho e os baixos salários que recebem. A greve, que já dura 10 dias, tentou uma conciliação na tarde desta quarta-feira, porém, com a insatisfação dos trabalhadores envolvendo o posicionamento da Concessionária, a greve ainda continua. Porém, devido a determinação judicial, os grevistas desocuparam a praça do pedágio de Irati sob pena de multa.
Uma das maiores reinvindicações é em relação ao Sindicato a qual esta categoria de servidores pertence atualmente, o Sindicrep-PR. Segundo eles, o Sindicato em que estão inseridos atualmente, o mesmo responsável pelos trabalhadores de cabine e demais funções da praça, não é correto, pois paga um salário que não é equivalente as suas competências e que em outras concessões não era o que os representava. Os grevistas destacam que o Sindicato deveria ser o Sintrapav -PR, que paga um salário equivalente ao esforço feito pelos mesmos.


Ainda, alegam que seus salários são incompatíveis com o trabalho pesado que realizam, que muitas vezes exige longas horas de serviço sob condições climáticas adversas. O salário médio de um trabalhador da concessionária gira em torno de R$ 1.518,00 mensais, valor que, após descontos, fica abaixo de R$ 1.300,00, segundo relatos dos mesmos.
Em entrevista à equipe de reportagem da Folha de Irati, Rafael Bogo, um dos trabalhadores demitidos recentemente durante a greve, desabafou sobre a difícil situação. “Com um salário tão baixo, é impossível sobreviver. Muitos de nós temos famílias, filhos e contas a pagar. É uma covardia o que a empresa está fazendo com os trabalhadores”, afirmou Rafael, relatando ainda que, em algumas ocasiões, os funcionários não tinham como esquentar suas refeições e precisavam recorrer a métodos improvisados, como comprar álcool em postos de gasolina para aquecer a comida ou até mesmo comer as marmitas que azedavam devido ao sol quente.
Ainda, segundo Rafael, a empresa não deu explicações claras sobre o motivo de sua dispensa. “Simplesmente fui chamado para uma reunião, junto com outros colegas, e fomos informados de que estávamos demitidos por justa causa, sem nenhum motivo real. Tenho certeza de que a razão foi a entrevista que dei para a mídia, relatando nossa situação”, contou Rafael.

Paulo Ricardo da Cruz, diretor do Sindicato Sintrapav/PR, reforçou a ideia de que a luta não é apenas por salários, mas por respeito à categoria. “Nosso movimento é pacífico, buscamos apenas ser ouvidos e respeitados pela empresa. Não estamos aqui para prejudicar os usuários, mas para exigir condições de trabalho dignas”, afirmou.
Foto: Esther Kremer
Outro grevista e também diretor do Sintrapav diz que: “a empresa optou por um sindicato que representa as concessionárias e não os trabalhadores da rodovia. O salário que eles oferecem é muito inferior ao que os trabalhadores de outras concessionárias recebem”, explicou Jocimar, um dos representantes da greve.
Em uma conversa com outro representante do Sintrapav, Luizinho, trabalhador envolvido na greve, explicou que a decisão de abrir as cancelas busca chamar a atenção da sociedade e das autoridades para a situação que os trabalhadores estão enfrentando. “Os usuários não têm culpa, mas queremos que a empresa sinta no bolso o impacto da nossa greve. É um movimento legítimo, pois não podemos mais aceitar salários baixos e condições de trabalho precárias”, afirmou.
O movimento, que já dura dez dias, não tem previsão de término, e os trabalhadores garantem que continuarão com as manifestações até que suas reivindicações sejam atendidas. Entre os pedidos estão um aumento salarial digno, com um piso salarial que atenda ao valor do PIS regional, atualmente em R$ 1.900,00, além de melhorias nas condições de trabalho, como alimentação, transporte e segurança. E a mudança de Sindicato que os representa.
Em resposta ao movimento grevista, a Via Araucária emitiu uma nota oficial, segue na íntegra: “A Via Araucária informa que na manhã de hoje (02), membros do sindicato Sintrapav-PR, juntamente com alguns colaboradores do setor de conservação viária da concessionária, assumiram indevidamente o controle da praça de pedágio de Irati, localizada na BR-277, km 249, forçando a abertura das cancelas. Tal ação é ilegal e gera prejuízos tanto para a concessionária, que opera em total conformidade com o contrato de concessão, quanto no recolhimento de ISS repassado às prefeituras das cidades que abrangem o trecho. A Via Araucária reforça que o sindicato Sintrapav-PR não representa os empregados das concessionárias de rodovias e sim os trabalhadores nas indústrias da construção pesada no Estado do Paraná. De acordo com a legislação trabalhista, o enquadramento sindical está vinculado à atividade preponderante do empregador. Desta forma, o sindicato representativo dos colaboradores da Via Araucária é o Sindicato dos Empregados nas Concessionárias no Ramo de Rodovias e Estradas em Geral do Estado do Paraná (Sindicrep-PR).
Foto: Esther Kremer

A concessionária assegura que todos os direitos dos colaboradores estão sendo rigorosamente cumpridos conforme o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) firmado com o Sindicrep-PR. Além disso, todas as medidas legais cabíveis estão sendo adotadas para restabelecer plenamente a operação da praça de pedágio de Irati e garantir a continuidade dos serviços prestados aos usuários da rodovia. Por fim, reiteramos nosso compromisso com a legalidade, a segurança viária e a qualidade dos serviços oferecidos à população”.