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Gui Negão foi, incontestavelmente, o cara do Corinthians na classificação à semifinal da Copa do Brasil. Autor de dois gols e uma assistência, o jovem atacante participou dos três gols anotados nas duas partidas contra o Athletico-PR, garantiu o 1 a 0 na ida, há duas semanas, e foi determinante para o 2 a 0 na volta, na última quarta.
Garro também teve boa atuação na Neo Química Arena, Hugo Souza voltou a brilhar pegando pênalti, mas esta análise quer destacar um personagem que não entrou em campo, mas também foi determinante para o resultado: Dorival Júnior.
Com a fama (injusta) de fazer apenas o “arroz com feijão” bem feito, Dorival tem mostrado cardápio amplo no Corinthians, mesmo enfrentando escassez de ingredientes em diversos momentos.
Nos dois jogos contra o Athletico-PR o treinador teve inúmeros desfalques e ainda assim soube encontrar alternativas nada triviais.
No duelo em Itaquera, voltou a recorrer ao esquema com três zagueiros para criar desequilíbrios na marcação adversária e potencializar as qualidades ofensivas de Matheuzinho e Matheus Bidu.
Dessa vez, porém, foi ainda mais ousado. Sem André Ramalho, com virose, e Félix Torres, desgastado após a Data Fifa, o treinador apostou em Angileri como um zagueiro pela esquerda, deixando Bidu na linha dos meias, mas também com obrigações defensivas.
A estratégia era fazer os laterais do Athletico-PR se desgarrarem da linha de zagueiros para marcar os alas corintianos e, assim, gerar espaço às costas deles. O plano funcionou por vezes, embora em muitos momentos o Corinthians tivesse uma posse de bola improdutiva.
Atrás, a equipe tinha dificuldades para acompanhar as movimentações de Julimar e Viveros entrelinhas. Numa dessas, os visitantes abriram o placar aos 21 minutos, mas o gol foi anulado por falta em Maycon no início da jogada.
Também era parte do plano corintiano pressionar a saída de bola e tentar retomar a posse mais perto da área adversária. Com um atacante aplicado taticamente, como Gui Negão, isso fica mais fácil. Aos 41, o garoto se aproveitou de um passe “na fogueira” para Felipinho, ganhou a disputa e mostrou enorme qualidade para servir Garro para marcar o 1 a 0.
Há muitos méritos de Gui Negão neste início meteórico, mas também é preciso reconhecer o “dedo” de Dorival. Se fizesse apenas o arroz com feijão, o técnico teria utilizado Romero ou Talles Magno, opções bem mais convencionais. Em vez disso, apostou num garoto que até parecia promissor, mas nunca foi badalado na base alvinegra.
De volta à análise do jogo, mesmo em vantagem o Corinthians mudou taticamente no segundo tempo, voltando a jogar com linha de quatro defensores.
Com a classificação encaminhada, sobretudo após o segundo gol aos 17 minutos, a equipe reduziu o ritmo, ficou menos com a bola e sofreu alguns sustos, mas seguiu sem sofrer gols após seis partidas na Copa do Brasil. A melhora defensiva, aliás, é mais um dos méritos do treinador.
Após um início decepcionante, em que apontava uma evolução que era difícil de notar no Corinthians, Dorival enfim mostra a que veio. Não apenas pelos resultados, mas pelas soluções encontradas, pelo trabalho do dia a dia que se reflete em campo. O torcedor mais atento nota que há ensaio na bola parada, uma maior organização com e sem a bola e estratégias que se adaptam a cada adversário.
Com as semifinais da Copa do Brasil somente em dezembro, o Timão ganha um respiro quase inédito neste ano e poderá se dedicar mais ao Brasileiro. Para quem tem um elenco enxuto, será valiosíssimo ter semanas livres para recuperar jogadores desgastados e/ou machucados.
Especialista em Copa do Brasil, Dorival está a quatro jogos do seu quarto título da competição – e também do tetra corintiano.
