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A seleção masculina de basquete, que superou expectativas na reta final do ciclo de Paris 2024, está classificada para as quartas de final da Copa América e mantém na Nicarágua o sonho de um título que não vem há 16 anos. Na terça-feira (26), o Brasil encerrou sua participação na primeira fase com derrota para os Estados Unidos por 90 a 78, igualando as campanhas do Uruguai e dos próprios americanos (duas vitórias e uma derrota, com 66.7% de aproveitamento). Ficou em terceiro no Grupo A pelo critério de saldo de pontos, considerando somente os jogos entre os empatados.
Contra os americanos, as ausências por lesões de Georginho (entorse cervical), Vítor Benite (desconforto muscular na panturrilha) e Ruan Miranda (entorse de joelho durante o jogo), assim como um desempenho ofensivo longe do ideal e o excesso de erros no último quarto, pesaram. O time do técnico Aleksandar Petrović ficou com a sétima melhor campanha entre os oito classificados e terá que lidar agora com dois fatores: as lacunas vistas na primeira fase e um cruzamento duríssimo nos playoffs.
A Copa América 2025 é para o Brasil a possibilidade mais acessível – se não a única – de título entre as grandes competições Fiba no ciclo de Los Angeles 2028, uma vez que seleções tradicionais como Argentina e Estados Unidos, ou emergentes como Canadá e Bahamas, não estão com força máxima. Vale frisar, entretanto, que mesmo não levando estrelas, o Canadá teve a melhor campanha da primeira fase. No caso da seleção americana, é possível dizer que se trata de uma time C, recheado de jogadores pouco conhecidos, ainda assim competitivo. Em relação ao Brasil, apesar do elenco forte que está em Manágua, a seleção não tem na capital da Nicarágua seu potencial máximo.

O pivô Márcio Santos, o ala-pivô Tim Soares e os alas Didi e Gui Santos pediram dispensa e não integram o elenco. O ala Léo Meindl também está fora, mas em função de uma lesão no músculo reto abdominal. Meindl segue com o grupo para tratamento com o departamento de saúde e performance da seleção. Raulzinho não foi convocado, embora ainda faça parte dos planos da comissão para o ciclo. Em acordo entre os lados, o armador não foi chamado para focar 100% em um início de temporada saudável.
Problemas e virtudes contra Uruguai e Bahamas
Na estreia diante do Uruguai, contra quem o Brasil tinha um retrospecto de oito vitórias seguidas em competições Fiba, a equipe mostrou oscilações nas duas pontas do jogo: na defesa, em que foi evidente a falta de fisicalidade e pressão na bola no segundo quarto, e no ataque, em que sofreu com períodos de dificuldade na criação de vantagens. A equipe cedeu muitos rebotes ofensivos e só igualou a batalha do volume de jogo na reta final. A vitória foi suada, por 81 a 76, muito porque faltou à seleção cultivar períodos maiores de consistência defensiva para explorar transições e fugir do 5 contra 5 com uruguaios bem postados.

Embora seja uma seleção emergente no cenário das Américas, Bahamas não pôde contar na Nicarágua com seus medalhões com grife NBA: DeAndre Ayton, Eric Gordon, Buddy Hield e VJ Edgecombe. É uma seleção sem profundidade de elenco, mas que tentou, no primeiro quarto, intimidar um Brasil sem intensidade defensiva. A seleção deu aos bahamenses liberdade no perímetro e cedeu rebotes ofensivos, chegando a perder por 14 de diferença ainda antes do intervalo. Mas, no segundo tempo, veio a esperada mudança de postura defensiva do Brasil, que somada à maior profundidade técnica vinda do banco e ao aproveitamento de 16/36 nas bolas de três (44%), garantiram a vitória por 84 a 66.
Contra Uruguai e Bahamas, em linhas gerais o aproveitamento de 43% nas bolas de três (melhor do campeonato após a segunda rodada), a capacidade de cuidar da bola para manter volume e a produtividade do banco (36.5 pontos por jogo) foram fatores positivos.
Ausências, erros e ataque travado no fim contra os EUA
Com uma rotação mais curta em função das ausências de Georginho, Vitor Benite e Ruan (atuou por apenas 2 minutos até sofrer a lesão no joelho), o Brasil até fez bom primeiro tempo contra os americanos. Depois de um início em que não teve senso de urgência defensivo e cedeu rebotes ofensivos – resultando numa corrida de 9 a 0 dos americanos – o Brasil teve seu melhor momento no segundo quarto, criando boas vantagens, com Bruno Caboclo desequilibrando e a defesa respondendo. Mas, no segundo tempo, os americanos dominaram o jogo em todos os aspectos, principalmente em relação à pontuação no garrafão e dos reservas. O Brasil cometeu cinco erros só no último quarto (foram 12 no total), não conseguiu criar vantagens claras no ataque e acabou dominado no volume, tendo tentado 20 arremessos a menos que os EUA na partida.
Destaques individuais da primeira fase
Naturalmente, Yago e Bruno Caboclo foram os destaques do Brasil. Os dois lideraram o time em eficiência combinando juntos uma média de 27.3 pontos, 8.6 rebotes, 7.3 assistências e 2.0 roubos, com incríveis 57% de aproveitamento nas bolas de três. O fator experiência pesou, e Gui Deodato contribuiu trazendo bons momentos defensivos e mais de 50% de aproveitamento nos arremessos de quadra. Reynan, embora não tenha brilhado na parte ofensiva, entregou muita energia na defesa.

Por fim, é importante ressaltar a consolidação de Alexey Borges como peça para o ciclo. Terceiro do time em eficiência, seu desempenho vem na esteira de sua melhor temporada da carreira no NBB. Rápido, com capacidade de chutar de fora, de orquestrar o jogo de pick and roll, de pisar no garrafão induzindo ajudas e de sustentar pressões em dobras para criar vantagens numéricas, o armador tem muito a agregar e a crescer visando Los Angeles 2028.
Pontos de atenção para o mata-mata
Adversário do Brasil na quinta-feira, às 16h10 (de Brasília), a República Dominicana é um rival tradicionalmente duro, teve a segunda melhor campanha da fase de grupos e conta com praticamente o mesmo elenco que disputou o Pré-Olímpico para Paris 2024. A única ausência significativa é a do astro Karl-Anthony Towns, que disputou a última Copa do Mundo. O Brasil terá que lidar com algumas lacunas se quiser avançar às semifinais e seguir na briga pelo título da Americup, que não vem desde 2009.
- Consistência defensiva e proteção interior. O primeiro quarto contra Bahamas, o segundo quarto contra o Uruguai e o segundo tempo contra os Estados Unidos foram momentos de um Brasil sem tônus defensivo e muito aquém do que pode entregar. Manter foco, agressividade e comunicação irretocáveis durante um jogo inteiro é quase impossível, mas ser capaz de evitar corridas dos adversários no placar será fundamental no mata-mata. É preciso achatar ao máximo a curva de desempenho, fugir de altos e baixos. A defesa na área pintada e a proteção de aro precisam ser endereçados. Em três jogos, foram 112 pontos sofridos no garrafão, média de 37.3 por jogo. A boa notícia é que os adversários têm tido menos de 30% de aproveitamento nas bolas de três contra o Brasil.
- Rebotes ofensivos. Elevar o nível de bloqueio de rebotes também será crucial na próxima fase. Em três jogos, a seleção brasileira cedeu em média 11 rebotes ofensivos e 13 pontos de segunda chance. Isso dá confiança e poder de fogo ao adversário através de segundas oportunidades. Por outro lado, o Brasil foi a seleção que menos pegou rebotes ofensivos na primeira fase, média de 8.7. Nesse cenário, um dia sem bom controle de erros pode resultar num jogo de baixo volume, “subindo a ladeira” e com maior pressão em cada arremesso tentado.
- Jogo em velocidade. Justamente por não brilhar na defesa, o Brasil não tem conseguido explorar idealmente o jogo em velocidade, imprimir contra-ataques que quebrem a dureza de momentos de dificuldade, sem criação de vantagens no 5 contra 5. Defender com mais consistência vai adicionar essa camada extra de possibilidade ofensiva. Até aqui, o Brasil tem 9.3 pontos por jogo em contra-ataques.
