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Professores multicapacitados, comprometidos em ampliar horizontes e promover a diversidade, mostram que a educação se constrói em múltiplos espaços, onde o esporte é também ferramenta de transformação social.
Lição para todos: professora paranaense inspira alunos com valores do esporte paralímpico Foto: SEED

AEN – SEED

Na rede estadual de ensino do Paraná, a inclusão vai além da sala de aula e se estende também às quadras esportivas. Professores multicapacitados, comprometidos em ampliar horizontes e promover a diversidade, mostram que a educação se constrói em múltiplos espaços, onde o esporte é também ferramenta de transformação social.

Um exemplo é a professora de Educação Física Fabiana Batista Milioransa, do Colégio Estadual Jardim Universitário, de Sarandi, no Noroeste do Estado. Destaque mundial na arbitragem do goalball (esporte paralímpico, voltado a pessoas com deficiência visual), ela mostra que a atuação docente pode ultrapassar os limites da escola e inspirar novas gerações por meio de conquistas que unem excelência profissional, inclusão e representatividade.

Fabiana cresceu ‘respirando’ Goalbal. Desde pequena, acompanhava os treinos do pai, um dos pioneiros da modalidade no Brasil. Essa convivência foi determinante não só para que ela se apaixonasse pelo esporte, mas também para que desenvolvesse sensibilidade e empatia em relação à deficiência visual, já que convivia de perto com atletas cegos e com baixa visão.

“Meu pai possui deficiência visual completa. Ele sempre ensinou sobre a importância da inclusão e do respeito às diferenças, valores que levei para a vida. Estar nesse ambiente desde cedo me fez entender que o esporte vai muito além da competição. É sobre igualdade de oportunidades e sobre enxergar as pessoas para além de suas limitações”, afirma a professora.

Essa vivência despertou em Fabiana o desejo de construir pontes entre o paradesporto e a sociedade, levando os valores aprendidos em casa para as quadras internacionais. Em 2007, iniciou sua trajetória como árbitra, participando, nos anos subsequentes das mais importantes competições internacionais, como os Jogos Paralímpicos do Rio 2016 e de Paris 2024, onde foi a única representante brasileira e sul-americana na arbitragem do goalball. Recentemente, conquistou a certificação Nível 3 Internacional, mais alto grau na arbitragem da modalidade. 

“A arbitragem do goalball é dividida em diferentes níveis: o Regional, Nacional e o Internacional, que é subdividido em três etapas, sendo o Nível 3 o mais elevado”, explica Fabiana. O certificado a habilita a atuar em Campeonatos Mundiais e Jogos Paralímpicos. 

Atualmente, apenas 33 pessoas no mundo possuem a certificação, entre elas Fabiana. Além dos Jogos Paralímpicos, Fabiana também agrega participações nas competições  de Parapan de Lima (2019), no Peru; Parapan de Santiago (2023), no Chile; Mundial de Jovens (2023) e Mundial de Clubes na Finlândia (2024).

Entre os momentos mais marcantes da carreira, ela destaca a emoção de apitar a partida que marcou a aposentadoria do pai, após 37 anos como atleta. “Tudo que conquistei na arbitragem é graças ao apoio e à influência dele. Foi impossível conter as lágrimas naquele momento”, relembra.

MUNDO E NA ESCOLA – A trajetória de Fabiana até as quadras escolares corre em paralelo às suas conquistas olímpicas. Desde a infância, nutria a admiração pela docência em História, influência do pai, mas acabou escolhendo Educação Física na Universidade Estadual de Maringá (UEM).

Foi nos estágios que descobriu sua verdadeira vocação. “Tive a certeza de que queria estar em sala de aula, contribuindo não só com a transmissão de conhecimento, mas também com a formação de cidadãos”.

Formada em 2011, ingressou na rede estadual como PSS (Processo Seletivo Simplificado), conciliando os primeiros passos na carreira docente com a arbitragem internacional. Desde 2015, integra o Quadro Próprio do Magistério (QPM). Hoje, além de representar o Brasil nos principais palcos do esporte paralímpico, Fabiana inspira os alunos do colégio ao levar para a escola valores de respeito, superação e inclusão aprendidos nas quadras. As aulas acontecem quatro vezes por semana e participam cerca de 300 alunos (portadores ou não de deficiência) do 9° ano do Ensino Fundamental e da 1ª série do Ensino Médio.

Segundo Fabiana, a prática tem despertado nos estudantes interesse e valorização pela modalidade além do respeito e da compreensão das necessdidades específicas dos portadores de deficiência visual. “O esporte ensina valores essenciais, como respeito e superação. A experiência aproxima os alunos da inclusão de forma concreta, mostrando que o esporte é, de fato, um espaço para todos”, acrescenta.

SOBRE O GOALBALL – O goalball é um esporte coletivo paralímpico criado especialmente para pessoas com deficiência visual. As partidas são disputadas por duas equipes de três jogadores cada, que utilizam vendas nos olhos para garantir igualdade de condições. O objetivo é arremessar uma bola com guizos em direção ao gol adversário, enquanto a equipe de defesa deve ouvir o som da bola e se lançar ao chão para impedir que ela ultrapasse a linha de gol. O jogo é silencioso, exigindo concentração, comunicação entre os atletas e percepção auditiva apurada.

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