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Com palestras técnicas, debates e selo de inspeção, feira destacou caminhos para fortalecer a produção rural e ampliar mercados
Foto: Pablo Aqsenen/Adapar

Karina Ludvichak, com reportagem de Nilton Pabis

Entre 19 e 21 de setembro, a 1ª FEAGRO de Imbituva estreou no Parque Ambiental com uma agenda que mirou além do entretenimento. A proposta central foi criar um espaço de formação e decisão para produtores, estudantes e público em geral, conectando demonstrações técnicas, encontros setoriais, oficinas e apresentações culturais. Desde a abertura, a organização sustentou a ideia de uma feira “metodológica”, desenhada para lançar bases e colher resultados nas próximas edições.

Nessa perspectiva, a Secretaria Municipal de Agricultura posicionou o evento como ponto de encontro entre gestão pública, empresas e agricultores, priorizando conteúdo aplicável e redes de cooperação. Como sintetizou a secretária Cristiane Tabarro Borgo, a essência está no encontro e no método. “A feira, ela veio para congregar, para unir as pessoas dentro do parque. Foram lançadas nesse solo fértil essas sementes para que a gente possa paulatinamente efetuarmos as colheitas”.

EVENTO

A leitura do público e dos expositores serviu como primeira régua de avaliação. Ao longo dos três dias, a circulação constante e a distribuição da programação por diferentes núcleos — conhecimento técnico, praça de alimentação, apresentações artísticas e atividades para crianças — buscaram dar ritmo sem perder profundidade. Cristiane destacou que o desenho privilegia networking e informação segmentada, com curadoria de temas como inovação, conservação de solo, integração lavoura-pecuária, e sucessão. A organização já projeta a segunda edição, ancorada no que funcionou e no que pode amadurecer. “Que tenham expectativa de esperar setembro de 2026 para estarem aqui”, acrescentou a secretária.

A abertura oficial buscou dar um tom de compromisso com calendário e com a pluralidade de públicos. O prefeito do município, Bertoldo Rover, reforçou a ideia de continuidade e convidou para a agenda técnica, lembrando que a feira nasce para ficar e se expandir com conteúdos e atividades esportivas. Nas palavras dele, a intenção é consolidar a FEAGRO como tradição municipal. “Nossa feira começou, e ainda é a primeira de muitas”, destacou.

PROTAGONISMO LOCAL

No eixo econômico, o protagonismo do empresariado local foi um dos diferenciais desta primeira edição. A Associação Comercial e Empresarial de Imbituva (Aciagi) atuou como parceira na concepção e na execução, coordenando o desfile que elegeu as rainhas e desenvolvendo a identidade visual da feira. A opção por privilegiar empresas do próprio município mirou fortalecer circuitos curtos de oferta, relacionamento e serviços. Para Lázaro Bock, presidente da Aciagi e gerente da Afubra de Irati, a organização do evento surgiu a partir da realidade produtiva de Imbituva e de sua base agrícola. “Para nós é uma alegria muito grande como Associação Comercial realizar essa primeira FEAGRO, uma feira que foi pensada e organizada para os nossos agricultores. Praticamente 100% das empresas que estão aqui são empresas de Imbituva”, observa Lázaro a respeito do protagonismo dos produtores locais.

ATRAÇÕES TÉCNICAS E AVANÇOS                                                                                       

A dimensão técnica ganhou corpo em painéis sobre energia fotovoltaica, tema que dialoga com custos de produção, autonomia e resiliência em propriedades rurais. A palestra de Elvis Mendes focou usos e viabilidade econômica, especialmente diante do histórico recente de expansão da geração distribuída no país. “A energia solar pode impulsionar o cliente hoje no campo, principalmente no agronegócio. Ao situar o Brasil no cenário de geração, Mendes trouxe um dado de referência e uma tendência de longo prazo: “a nossa matriz energética hoje chega em 23% em relação à produção total de energia no Brasil e a estimativa até 2045 é a energia solar ultrapassar a energia hídrica”, e para o pequeno produtor, apontou um limiar prático de viabilidade: “a partir de 200, 300 reais ali na tua fatura já vale a pena”, explica.

A formalização sanitária, decisiva para transformar produção em mercado, foi outro pilar. Com o S.I.M (Serviço de Inspeção Municipal), o produtor habilita vendas dentro do município; com o SUSAF (Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte), amplia o alcance para todo o Paraná. Na feira, o tema foi apresentado como estratégia de renda, segurança alimentar e confiança do consumidor. Rubens Antônio, responsável pelo S.I.M e pelo SUSAF no município, explicou a base do processo: “A importância é que ele vai oferecer um produto para os consumidores que tenha segurança alimentar”, e explicou o passo seguinte na escala de mercado: “A partir do momento que eles aderirem ao SUSAF, eles vão poder vender os produtos deles em todo o estado do Paraná, todos os produtos de origem animal, principalmente os derivados da carne, leite, mel e ovos”, finalizou.

A presença da Adapar na entrega do SUSAF reforçou o elo entre exigência técnica e abertura comercial. Para além do selo, a experiência de outros municípios evidencia crescimento de vendas e reconhecimento de qualidade. Como resumiu o diretor-presidente Otamir César Martins, trata-se de multiplicar mercado e responsabilidade. “Nós estamos em 193 municípios que já têm o selo SUSAF […] Você sai de uma cidade como Imbituva, que tem 31 mil habitantes, e pode vender para 11 milhões de habitantes do Paraná”, destacou Otamir em relação a perspectiva comercial que o SUSAF traz para os produtores nas cidades credenciadas.

Para a agricultura familiar, a formalização do SUSAF significou mais segurança financeira e renda adicional. Na praça de alimentação e nos estandes, associações trouxeram hortifrútis, panificados e derivados reconhecidos pelo S.I.M, conectando produção, feiras semanais e abastecimento do comércio local. Para os produtores que receberam o selo S.I.M, Giselda e Valmir Neiverth, proprietários da Neiverth Embutidos e Paulo César Kostecki, proprietário da Kostecki – fábrica de embutidos e defumados, o selo traduz tranquilidade e acesso. “É muito importante. Porque assim a gente pode trabalhar com segurança”, destacou Giselda.

Outro aspecto valorizado nesta primeira edição foi a possibilidade de apresentar soluções integradas para diversificação da produção rural. A Afubra trouxe à feira o portfólio de seu viveiro agroflorestal, com espécies nativas, cultivares de forrageiras e materiais de alto rendimento que dialogam diretamente com a fumicultura e com a pecuária. O responsável pelo setor, Juarez Pedroso, explicou que o propósito de ampliar horizontes produtivos é “promover a diversificação de culturas”, e destacou a importância da integração de sistemas na pequena propriedade. “As propriedades de forma geral têm que cada vez mais integrar as suas cadeias produtivas”, ressaltou.

Além da dimensão técnica e regulatória, a FEAGRO também abrigou debates de interesse político e setorial, como a discussão sobre a compra de fumo no paiol, em tramitação na Assembleia Legislativa do Paraná. O influenciador digital Giovane Luiz Weber compartilhou sua vivência no Rio Grande do Sul, onde a prática já é uma realidade. Para ele, o modelo tem vantagens, mas exige cautela. “Primeiramente, você poder vender o seu produto debaixo do seu teto, no seu paiol, é algo muito bom para qualquer cultura. Você está na tua empresa, que é a propriedade, negociando o seu produto com o comprador, diferente de você ir até a empresa. Porém, a gente sabe que existem limitações. Ao relatar a regra vigente em seu estado, fez um alerta sobre a diversidade de realidades. “Hoje eu não posso mais levar o tabaco para vender na esteira, ele precisa ser negociado no paiol. Acredito que o produtor deveria ter o direito de escolher a forma de comercialização”, finalizou.

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