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Em evento realizado pela Escola Municipal Nossa Senhora de Monte Claro em parceria com o Sicredi, avós relembram tradições, histórias e rotina de descendentes de poloneses no Brasil.
Mesmo com dia chuvoso, evento teve grande participação da comunidade local e até mesmo exterior. Foto: Leticia H. Pabis.

Leticia H. Pabis

A herança polonesa segue viva no interior do Paraná e ganha novos significados quando é compartilhada de geração para geração. Em Rio Claro do Sul, comunidade do município de Mallet fundada por imigrantes poloneses no fim do século XIX, a 2ª edição do evento Herbata z Dziadkami (Chá com os Avós), promovido pela Escola Municipal Nossa Senhora de Monte Claro em parceria com o Sicredi, através do projeto “União faz a vida”, reuniu crianças, professores e familiares para ouvir histórias, costumes e tradições mantidas por descendentes de imigrantes poloneses que chegaram à região no fim do século XIX.

O projeto tem como objetivo aproximar os alunos de suas origens, mantendo a cultura polonesa viva no cotidiano da comunidade. Segundo as professoras Dirce Maria Foetsch e Roseli Inês Jagiello, idealizadoras do projeto, a escolha da data não foi ao acaso. O dia 26 de agosto marca a celebração de Nossa Senhora de Monte Clara, também conhecida como Nossa Senhora de Czestochowa ou em Polonês, Matka Boska Jasna Góra, padroeira da comunidade e Santa que dá o nome à escola, o que reforça ainda mais a ligação entre fé, tradição e cultura.

O projeto Herbata z Dziadkami nasceu para resgatar histórias e costumes preservados desde a chegada dos imigrantes poloneses ao Brasil. Brincadeiras, rotina, alimentos, rezas e o idioma são exemplos de práticas que marcaram o cotidiano das famílias e que, hoje, se transformam em fonte de aprendizado para crianças. Ao abrir espaço para os avós falarem de suas vivências, a escola busca mostrar aos alunos como se formaram as tradições que compõem a identidade local.

Dirce e Roseli ressaltaram o valor pedagógico da iniciativa. “Como nós somos descendentes de poloneses, nós sempre trabalhamos alguma coisa relacionada à cultura polonesa na escola. Teve muito envolvimento das crianças falando dos costumes, falando das danças, falando do que se preserva das festas natalinas, festas da Páscoa, como que as famílias cultuam isso em casa. E aos poucos foi se tornando um projeto”.

Durante a atividade, nove avós participaram ativamente, sendo chamados ao palco para serem entrevistados pelos alunos presentes, compartilhando experiências de vida. Foram convidados a compartilhas suas histórias Clara Kozlowski, Ivo Rodrigues, Cecília Kowalski, Juvencio Wolaniuk, Iracema Kaszpraczk, Maristela Panek, Ana Foetsch, Fernando Machado e Casemiro Karwoski.

Nove avós da comunidade foram convidados a subirem ao palco e compartilharem memórias de suas infâncias. Foto: Leticia H. Pabis.

Babcia (“vovó” em Polonês) Cecília relembrou suas brincadeiras de infância, e como costumavam se divertir a partir de elementos da vida rural. “Nós brincávamos de fazer bonequinho de batata, de cenoura, de beterraba. Pegava milho verde, arrancava os grãos e fazia cavalo. E também de pirulito, que minha mãe fazia com uma palha de milho, fazia uma canoa e colocava açúcar pra derreter na panela, daí colocava naquela palha de milho, e aquele açúcar virava um pirulito, quando tirava aquela palha”.

Dziadek (“vovô” em Polonês) Casemiro, conhecido como Cajo, trouxe lembranças relacionadas à educação e ao uso da língua. “Nós íamos na escola a pé, eram seis quilômetros. Não tinha brinquedo. Fazíamos brinquedo de sarrafo, carrinho de lata. Em casa a gente falava polonês, só polonês. Na escola que aprendia o português”.

A lembrança mostra como a língua polonesa foi presente nas primeiras gerações e como, ao longo do tempo, esse costume foi se transformando.

Além dos depoimentos, a programação do evento incluiu apresentações musicais e atividades de confraternização. Houve a execução da música Czarna Madona com acompanhamento de acordeom, interpretada pelo pai de uma aluna, e a entrada dos avós conduzidos pelos netos. Em seguida, ocorreu a roda de conversa conduzida pela professora Dirce, com perguntas feitas pelas crianças. A prática, além de buscar o compartilhamento de memórias por parte dos avós, também visou praticar o gênero textual “entrevista”, com os alunos.

Logo após, todos avós presentes foram convidados ao palco enquanto os alunos fizeram uma homenagem, cantando músicas em Polonês. Também houve espaço para expor o trabalho dos alunos e de artistas da comunidade, além de três rodadas de bingo que envolveram toda a comunidade presente. O encerramento aconteceu com sorteio de brindes para os avós e a tradicional venda de comidas típicas como cuca, pierogi e holupti. À noite, ocorreu a missa em louvor a Nossa Senhora de Monte Claro, reunindo novamente a comunidade na Igreja Matriz.

Ainda, o evento contou com a visita de alunos de outros municípios cuja a descendência polonesa também possui destaque, como São Mateus do Sul e Paulo Frontin.

Para a secretária de Educação, Carla Nowacki, o evento reforça a integração entre escola e comunidade. “Este projeto vem ao encontro do que buscamos e está de fato preservando a cultura polonesa aqui em Rio Claro do Sul. Nós o vemos como um grande incentivo”.

Para o vice-prefeito José Ivo Rodrigues, que também foi um dos avós convidados a compartilhar experiências, eventos como este deixam marcas duradouras. “Meus parabéns à escola, aos professores, aos alunos. É muito bonita essa ligação entre os avós e os netos. Isso é muito importante para as crianças, com certeza vai ficar na memória deles todos esses encontros e momentos de conviver com os seus avós”.

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